quarta-feira, 25 de agosto de 2010

LOTES DE EMOÇÕES

Olho d'água.
Garganta trancada.
Um resto de mágoa
não pede passagem
prá iniciar a viagem.
Arrebenta o peito
e,inunda sem jeito
o rosto desfeito.

Janela aberta
em noite de terror.
Moldura da dor,
do retrato falado
do seu abandono.
Minha vida em bocados.
Minha vida sem cor.

Leito de rio.
Nada em descanso.
A água segue o curso...
Eu quero um dia manso
e,um bom voo noturno.

Mágoa guardada.
Vida parada.
Sem esperança..
Quem sabe o coração cansa
de viver a pessoa amada,
de bater em porta fechada.

Bolo de rolo.
Nós dois juntinhos
entre a cama e o cobertor.
Um resto de gozo fininho...
Recheio molhado com ardor.

PRIMEIRO AMOR

Não sei mais
falar desse amor.
Desse que aperta o peito.
Desse que sangra em despeito.
Desse que é inocente,sem jeito.
Desse que se acha perfeito.

Não sei mais
falar desse amor.
Desse que cavalga sem freio.
Desse que conspira sem receio.
Desse que morre entre os seios.
Desse que se lambuza em recreio.

Não sei mais
falar desse amor.
Desse que esconde bilhetes.
Desse que manda ramalhetes.
Desse que arrepia sobre alfinetes.
Desse que reparte deleites.

Não sei mais
falar desse amor.
Desse que divide segredo.
Desse que acaricia com a ponta do dedo.
Desse que ignora o medo.
Desse que acontece mais cedo.

Não sei mais
falar desse amor.
Desse que no beijo,te faz voar.
Desse que ilumina o seu caminhar.
Desse que traz luar no brilho do olhar.
Desse que só deseja amar!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

A REDE

Mari Antunes

Passa carro...passarinho.
Passa avião...a fumaça.
Foge rápida a pombinha
que rouba de minha mão.
Fico assustada e perdida
nessa esquina da vida:
sem avançar o sinal,
sem meu biscoito de sal.

Passa carro...passarinho.
Passa avião...a ambulância.
Ecoa sinistra a sirene
pedindo passagem em vão.
Há uma pressa que teme
chegar tão tarde ao encontro
ou,ser pega pelo monstro
da louca civilização.

Passa carro...passarinho.
Passa avião. Fica a solidão.
As luzes esparramadas
brincam de serem estrelas
mas,são belas armadilhas!
No concreto fiquei menina,mãe,antes filha...
Labirintos de pedras e vidros
se fecharam em paredes,
me prenderam dentro da rede.

A REDE