domingo, 11 de dezembro de 2011

DAQUI; NÃO SOU!

Eu não sou desse lugar,
desses quadrados entupidos,
desses quadrados abarrotados,
que abraçam tanta gente,
com braços de aço e concreto.

Não quero andar por aqui,
nessas ruas mal asfaltadas,
nessas calçadas apertadas
que dizem serem feitas,
somente para caminhar.

Sou moradora da lua
que por pura distração,
despencou de uma nuvem,
perdeu a direção
e,se estabacou ao chão.

Eu não sou um anjo.
Eu não sou um demônio,
também não sou bruxa,
dessas coisas eu não manjo.
Eu quero apenas voar.

Cansei das coisas desse lugar.
do jeito marginal de viver,
com cada qual em seu canto,
tentando sobreviver,
sem muito se envolver.

Só me cansei de estar só,
salvando a pátria de um mundo,
com minha vida funcionando no gerúndio,
comendo...vestindo...dormindo...andando...
pagando...trabalhando...comprando...

Ninguem me cobra aluguel na lua,
ninguem aponta os meus pecados,
não sinto fome nem sede,
voo livre,leve e nua,
a única coisa que faço alem de ficar nas nuvens,
é escrever os meus poemas
relatando essas viagens.

CAPITALISTAS

Nós ja saimos das trevas,
nós ja saimos da escuridão
mas ainda somos primitivos,
ainda somos primários,
defendendo essa escravidão.
Usamos tacapes invisíveis,
prá defender nossos ganhos,
nós somos muito elegantes
em destruir tantos sonhos.

Dançamos a dança da guerra.
Profanamos a mãe terra
sem, em armas empunhar.
É vermelho o nosso sangue.
É vermelha a dor que causamos.
Cercamos propriedades,
liberamos os nossos sonhos,
cada qual em qualquer lugar,
é só uma questão de comprar.
Somos reis desses pedaços,
somos reis sem ter nobreza,
alimentamos a pobreza,
num jogo bem sucedido
pois não saimos feridos.

Nós ainda somos primitivos,
nós ainda somos primários,
cobertos de ouro e prata,
usamos as nossas clavas
pra defender nosso sistema.
Trincando os nossos dentes,
rangendo neles, nossa raiva,
pisamos os covardes e os crentes.
Somos charmosos canalhas espertos,
em torres de ferro e concreto,
nem sempre mostramos a cara,
nem sempre estamos à vista.
Nós somos capitalistas.

O HOMEM MORCEGO

Zé Pechisbeque um velho guerreiro,
percorre a cidade o ano inteiro,
vendendo em um carrinho,bijuterias.
Separa um sofrido dinheiro
para sua fantasia.
O zinco e o cobre é "jóia de ouro!"
prás moças faceiras de Corumbá;
mas quando chega o carnaval
e os tambores ensaiam na periferia,
tudo deixa de ser normal,
o Zé não e mais o das bijuterias.
É conde,ou rei,é barbaro ou cristão,
o brilho do Zé,muda é outro,
só de olhar já da gosto.
É brilho de rara beleza,
espalhado entre as rugas do rosto,
brilho cheio de nobreza.

É carnaval,na escola o enredo é de fé.
Alegria do povo e do Zé.
Quatro dias de pura emoção.
Na passarela desfila um só coração.

Em sua escola querida,
ele é sempre o grande destaque,
qualquer veste no corpo do Zé,ganha vida,
até um simples fraque.
Esse ano está diferente,
perde o posto o Zé Pechisbeque,
sobra só um lugar apertado no chão.
"Vou ser só um folião?"
Fantasiado de homem morcego,
sai sozinho na multidão.
Em seu peito,o conflito,a aflição,
esse ano não vai defender sua escola.
Cresce o som,o batuque da bateria,
o Zé não sentiu o pé que feria,
com o rasgo da sapatilha.
Sangra o pé do passista,
o vermelho no asfalto faz trilha,
o homem morcego abre os braços,ele brilha,
sua capa godê já flutua,
o negro cetim cheio de pedraria,
deixa à mostra os olhos.A boca sorria.
O brilho que eu vi não foi de bijuteria,
virou diamante nos olhos da histeria.

É carnaval,na esola o enredo é de fé.
Alegria do povo e do Zé.
Quatro dias de pura emoção.
Na passarela desfila um só coração.

O homem morcego tem bateria no peito,
sente dor,samba mais,dá um jeito,
da tudo que tem, do lado de fora,
seu amor pela escola tem passos perfeitos,
é destaque isolado,sem ala
que a pedra da Frei o seu dedo esfola.
Um grito na noite destoa do samba:
"Ha um homem morcego ferido no chão!"
É o Zé Pechisbeque,das bijuterias,
vendedor conhecido na periferia
que reinou muitos enredos na bela Império,
morreu no desfile,num ataque fatal,
na segunda noite de carnaval.
O sangue do Zé no chão derramado,
levanta a suspeita: Foi tiro? Foi facada?
O sangue que cai é do dedo esfolado.
A escola querida seguiu com o enredo
e, ninguem descobriu o grande segredo:
O homem morcego estendido ao chão
que a escola querida deixou na mão,
é o Zé Pechisbeque,das bijuterias
que esse ano não foi o destaque
mas deu para a Império o seu coração.

                           (ficção)

domingo, 6 de novembro de 2011

" OS DOCES "

Quando os doces se encontram,
desaparecem as amarguras.
Suas festas, hoje encantam,
estão repletas de gostosuras.

Caem de boca no mel,
enchem a cara de garapa,
guardada no grande tonel.
Não precisa ter um mapa.

De chocolate é o vestido dela,
com cristais de coco ralado,
perfumada de laranja e canela.
E o sapato? Acúcar queimado...

Ele,gostoso como um enfeite,
num terno baba de moça,
gravata de doce de leite.
Pavê seu sapato,só destampando a louça.

No salão enfeitado com maçãs do amor em gel,
deslizam os casadinhos,
esperam na lua de mel,
enfim, comerem sozinhos...

sábado, 5 de novembro de 2011

EU AINDA ESPERO

Eu ainda espero,
não ver mais crianças nas ruas,
largadas,soltas, já taõ cruas,
crescendo em fôrma bruta.
Não esbarrar em velhinhos,
mendigando atenção
ou, vendendo picolés,
esfriando nosso quente verão.
Que a solidão dessa gente
carregue uma enorme bandeira
e,se junte num forte partido,
erguido na transparência.
Que haja uma certa urgência
para os problemas resolverem.
Que haja um canto quentinho
um pão,uma cama,um afeto,
tudo dentro de um teto,
para aqueles que ficaram à margem
de tão difícil caminho,
os que caíram do mundo.


Eu ainda espero
que os barracos de latas e tijolos,
não trepem em morrarias
e, que também não naveguem,
abrindo uma pradaria;
nem avancem sobre os rios
que já banham o concreto.
Que hajam lugares seguros,
prá tanta gente morar.
Que haja fartura constante,
entre as flores e os espinhos,
que mate a fome do pobre.
Deixem uma janela para as matas,
deixem uma janela para os rios,
eu quero poder olhar.
Deixem terra para plantar,
eu também preciso colher.
Deixem uma brecha na paz
para o mundo poder entrar.
Os preconceitos que surgem,
não tenham pavios prá explodirem,
só espalhem fumaça de tolerância nas pessoas.
Que um pedido de abraço,
ou, um aperto de mão,
sele a paz no universo.


Eu ainda espero
realizar um sonho pequeninho,
guardado no fundo do peito:
que minha alma de criança,
demore muito a crescer,
com os males do mundo curados,
eu possa  enfim adormecer
com uma canção de ninar,
no balanço de minha rede,
na varanda,em Corumbá,
cantando em doce acalanto
a voz verde de serra
do Miltom Nascimento.  

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

OS MESES

ABRIL
Já chega contando mentira
ou,faz uma pegadinha.
Às vezes diz que está com frio,
"é mentira, tô com calor".
Ninguém lhe dá muita trela,
sempre sobra nas conversas,
pois fica "em cima do muro".
Abril,não abre nada
mas também não fecha.
Fica difícil acreditar nele.


MAIO
É doce demais,quase melado,
tendencioso e esperto.
Faz-se de bobo,insignificante
mas,é esperto.
Mulheres, tomem cuidado com ele!
Ele poderá por em suas mãos,
um buquet de flor de laranjeira...
Homens,fiquem espertos!
Ele vai colocar em suas lapelas,
um cravo cheiroso,
depois prender os corações entre ambos
e,dizer: até que a morte os separe...
Ele está meio desacreditado,
suas previsões andam falhando...


JUNHO
É simplório,quase um jeca.
gosta da vida no campo.
É um senhor fogueteiro,
barulhento,dançarino,
sempre faz muitas festas.
O chão costuma tremer
enquanto ele vai passando,
na quadrilha.
Adora festas regadas a quentão,
batidinhas,pipoca,cocada,
batata doce assada na fogueira.
As moças veem prá dançar
com seus vestidos de chita.
Os moços um tanto galantes
em suas calças pescando siri,
remendadas, coloridas
e, seus chapéus de palha.
Todos alegre festejam,
os santos casamenteiros

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

OS MESES

JANEIRO
Alguém me contou
que você é festeiro,
nasce com fogo,
queimando a alegria da gente.
Gosta de branco,é da paz,
adora viajar para a praia,
para as serras,para os desertos,
encontrar a neve
aqui ou no exterior.
Gosta de fazer brindes,
gosta de fazer promessas
que duram pouco:
Para arranjar um trabalho,
promessa para emagrecer,
para engordar,
para encontrar um novo amor,
para casar.
Você inicia o ano, é chegado num aguaceiro.
Realmente você não foi feito prá descansar.


FEVEREIRO
Dizem as más línguas
que você é um trem em movimento
e já deveria parar,
pois já é hora de voltar,
a lida vai começar.
Às vezes ficas festeiro
e, fantasia quer usar.
Nas suas mãos, cinco dias
viram um mes prá folia não acabar
mas nem sempre você é assim
pois, em alguns dias ficas choroso.
Chora tanto que suas lágrimas
levam barrancos, carros, casas,
fogão,geladeira,galinhas,banheiras...
Prefiro você alegrinho.


MARÇO
Às vezes Fevereiro se cansa
e divide a festa com você
que não gosta nem um pouco:
Trabalho chama seu nome.
Delicadeza é seu nome.
Você é muito famoso
está em uma canção popular
mas também é mal humorado,
lhe obrigam a trabalhar.
Você não quer fechar o verão,
nem pegar em águas
prá fazer a faxina do mês;
quer dividir a tarefa com o
fortão do mês anterior.
Não quer molhar o campo,
nem enxarcar o encanto das cidades,
só quer ficar na canção,
virar muso,ser sucesso.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

DIA BRANCO. NOITE MORENA

Hoje
preciso de uma noite Morena,
amena,serena, quieta
porque minha vida corrida
passou rápido,atropelou.
Não deu tempo para mim,
muito menos prá você.
Não me lembrei de te encontrar.
Hoje
preciso de uma noite Morena
mesmo que fique diante do espelho,
procurando seu olhar,
olhando prá dentro de mim
e, nessa louca procura, me perder
prá você me encontrar.
Meu dia branco
mostra todas as cicatrizes,
tatuadas em meu peito.
Eu preciso apagá-las.
Não quero me olhar de frente
sem ter você ao meu lado,
eu não me encontro inteira.
Preciso que você me ajude
a montar os meus pedaços.
Hoje
preciso de uma noite Morena,
com uma brisa viajante,
carregando o sal das salinas,
carregando o açúcar das colméias.
Em sua passagem
faça em mim um suave carinho
e, me mostre o caminho
prá encontrar você.
Hoje
preciso de uma antiga noite Morena,
bem longe da aflição da Catorze.
Sem distrações,multidões,temores.
Sem esses amores vendidos,
sem esses dramas em cena.
Marquei encontro com a saudade,
ela,com certeza me trará você.
Meu dia branco
me afastou para o escuro,
me esqueceu no quarto dos fundos,
estou com peias,estou em teias
que eu mesma teci.
Preciso desatar os nós
antes de te encontrar.
Hoje
preciso dessa noite Morena
para ir ao seu encontro
porque finalmente me encontrei.
Preciso dessa noite desnuda de pressa
que virá bem descansada,
até o sétimo andar desse apartamento.
Preciso manter a promessa.
Não imaginar loucas histórias,
nem inventar destinos
por trás dessas janelas,
vê-las,apenas como estrelas
que se acendem uma a uma
num espetáculo particular de luzes.
Depois de um dia branco,
estrelas viram enfeites
prá nossa noite Morena.

domingo, 23 de outubro de 2011

UM AMOR COMO ESSE

Eu quero
um amor como esse,
que tenha vida própria
mas que more comigo.
Que saia de mim
só para se jogar seguro,
sem segredos,sem reservas
no amor que sonha ter
ao meu lado.

Eu quero
um amor como esse,
que sobreviva guerreiro,
e vença meus pontos extremos,
entre o riso e o choro.
Que se balance com perigo
entre a dúvida e a esperança:
de que encontrou ao meu lado
o seu lugar,
nessa e na outra vida.

Eu quero
um amor como esse,
que se misture
mas que não perca a essência.
Que seja generoso e complacente.
Que se guarde precioso,
mas que se reparta e se abasteça.
Que seja estudioso e vigilante...
Questionando e mudando
o "nada é para sempre".

Eu quero
um amor como esse,
que se esconda à sete chaves,
como um mapa de tesouro
que não se quer perder
mas fácil de achar
pois há um único caminho marcado
entre só ele e eu.

Eu quero
um amor como esse,
que nasça na timidez e na ternura,
de gosto agridoce, às vezes destemperado,
que se alimenta de serenidade e de sustos,
prá sempre estar alerta.
Que reaja com cautela mas se lança no escuro,
quando estiver comigo.
Que me abrace com conforto e me beije com paixão.
Que não vá cobrar experiências,
apenas sentir alegria por estar ao meu lado.

Eu quero
um amor como esse,
que ganhe instinto na inocência,
que seja repleto de afeto e gratidão.
Que seja iluminado e que ilumine.
Que seja como o sol depois da tempestade,
que invada minha janela sem permissão
e aqueça meu leito .
Que seja tansparente e eterno
enquanto vivo.

Eu quero
um amor como esse,
que espalhe em meu caminho,
o cheiro viril de um doce carinho,
prá que eu possa viver prá ele,lembrar dele,
até nas pequenas,
inúteis
e descartáveis coisas
com que ele adornou o nosso ninho.

Eu quero
um amor como esse,
que carregue bandeira de guerrilha,
sem estar em guerra
apenas  por estar ao meu lado,
sua companheira.
Que coloque o coração entre trincheiras
para o amor dos dois sobreviver.

Eu quero
um amor como esse,
cheio de defeitos por ser real
mas que não se separa do outro
como algo estragado.
Que sinta mágoa em vez do ódio.
Que tenta compreender a partida
mas que não a aceita.
Que não se acalma e não se apaga,
posto que é chama
queimando  em silêncio
na eternidade...

domingo, 16 de outubro de 2011

NINFETA PREDADORA

Menina...
Você é tão fácil,
extremamente fácil
para em uma cama se deitar.
Seu amor é prá toda hora.
Seu amor é prá todo mundo.
Tesão instântaneo do agora.
Seu caráter moribundo
dentro de você agoniza.
Há em ti,um jeito escancarado,
predador,indomado
de sua presa agarrar;
vais tirando retratos,
vais congelando sorrisos,
nas paredes de seu quarto.
Fazes estoques,abastecimento
prá sua fome saciar;
não importa a cor,aparência,cheiro,
serve aquele forasteiro...
Tu os escolhe no olhar.
O olhar aprisionado
sente o jogo sensual.
Não precisa lua cheia
para a jovem loba atacar.
Perfumada,colorida,
atitude casual...
Tropeça,cai sobre os braços,
um dengo no olhar,fatal!
Está preso. Está no laço.
É mais um que a ninfeta
deita fácil em sua cama.

sábado, 15 de outubro de 2011

AO FINAL DE TUDO (Depois de kafka e Clarice)

Ao final de tudo
já não serei mais eu,
carne e osso;
fácil de tocar,
fácil de ouvir.
Serei menos.
Serei mais.
Serei só um desenho
feito de giz nas trevas;
visto de relance,
visto no instante,
fácil de apagar,
fácil de esquecer.

Ao final de tudo
vou morar nos sonhos
que eu mesma construí.
Vou flutuar mais à vontade
nesse mundo só meu.
Vou ser só energia,
me alimentar de alegria.
Serei apenas essência,
presa na transparência
do meu enrêdo particular.
Fácil de ver.
Fácil de entender.

Ao final de tudo
voltarei para a noite.
Serei um fragmento.
Brilho de estrela.
Rabo de cometa.
Um ponto a mais no breu.
Fácil de encontrar.
Fácil de permanecer.

Ao final de tudo
serei apenas pedaços
de emoções.
Serei fagulha no instante;
que durará,
que perdurará,
que tremulará,
antes de se lançar labareda
queimando no infinito.

sábado, 8 de outubro de 2011

MAIS SETEMBRO...

Resolvi voltar nesses dias mais claros e brilhantes de setembro.Preciso dessa luz para chegar lá e,não me perder no caminho.
              Quando ainda menina,bem verde,me lembro que meus interêsses eram curtos e rasos.Cabiam em minha boca cheia de açúcar e,se dividiam com cautela entre minhas mãos,agarradas em livros e, entre meus pés explorando o chão,as árvores,o trem,o rio. Meu coração ainda puro,crente vivia na imaginação,em meio àquelas histórias onde tudo era maravilhosamente possível:príncipes que viravam sapos,princesas que acordavam com beijos,dragões que punham fogo pela boca,bruxas que voavam com vassouras...
              Na minha casa grande e fria,não havia torres nem porão mas o quintal era grande,cheio de árvores frutíferas que apodreciam pelo chão,as do vizinho eram bem melhores pois tinhamos que roubá-las. Em meu quarto residia toda a magia,naquelas noites geladas. Rendas bordadas pelas árvores ao lado de minha janela,brincavam na parede de dentro,eram feras,eram monstros,seres alados .Aquelas sombras mágicas me enchiam de suave espectativa...
Quem sabe eu não seria levada para brincar na parede?
Quando a tempestade passava,corria prá fora, olhava o céu coberto de nuvens cinzas.Fechava os olhos...Era um imenso cobertor, sentia o ventinho gelado de mais chuva.Esses momentos são especiais até hoje.
A vida se dividia entre oito solitários sobreviventes.Meus cinco irmãos eram apenas sombras,brincando na escuridão,eu também não vivia muito na luz mas a procurava de um jeito peculiar e, a encontrava no bico de luz amarela pendurada no centro do teto do quarto trancado. Em tardes de temporal,a luz acesa me aquecia, me levava prá dentro de mim,eu ficava comigo e me bastava. Sentada no chão ,cercada de livros de contos de fadas e bruxas,a solidão era bem vinda,era necessária. Não sentia falta de amigos reais,eles estavam lá fora,eu preferia cá dentro.
              Hoje meus interêsses são outros,minha voz,meu sorriso anunciam que estou aqui fora; meu dia a dia tem som de panelas,de máquinas lavando roupas,de cachorro latindo,de alguém me chamando ao portão,tentando me vender uma bíblia ou cheiro verde mas lá dentro continuo quase a mesma: eu ainda sonho com coisas, agora impossíveis de realizar pois o corpo não permite mas, eu posso escrevê-las e vivê-las na boa,velha e fiel imaginação

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

AS MULHERES PANTANEIRAS

Falta água na torneira
das mulheres lavadeiras.
Falta feijão na panela
das mulheres mais velhas.
Falta terra prá plantar
para as mulheres desse lugar.

Lá vão elas
com a trouxa na cabeça,
um rodilho prá equilibrar.
Em casa,antes que o sol desapareça,
faz qualquer coisa pro jantar.

Muita roupa prá lavar.
Muita água prá carregar.
Criança barrigudinha
corre descalça na estradinha.
Falta tempo prá abraçar.

Falta terço prá rezar
para as que são benzedeiras.
Nas águas doces que já foram mar,
zinca o socorro das parteiras,
traz ao mundo mais uma pantaneira.

Falta viço de arvoredo
na pele tostada de sol
das que estão na lida mais cedo.
Falta carmim de roseira
nas que são mais faceiras.

Lava os calos com sabão.
Pente de osso pro pichaim.
Água de cheiro no coração,
À noite se deixa levar na cama de capim.

Debaixo do sol ardente
ou,sob o manto de estrelas,
são todas mulheres valentes,
essas belas pantaneiras.

Rema,rema remador
a saudade a desaguar.
Rema prá longe a tal dor
prá chegar em Corumbá.

Na cidade é cinderela,
vestido de chita,faceira.
No cais do porto,em tarde de aquarela,
sua vida parece uma simples brincadeira. 

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

MANDINGA FEITIÇARIA QUEBRANTO...

Fogo amarelo,fogo vermelho.
Lambe ligeiro o seco chão,
seca a baía,ferve o espelho,
queima sem dó a criação.
Corre Cutia prá boca  do dia.
Voa Coruja prá boca da noite.
Lobo Guará,Onça pintada,
Ema pernalta,Tamanduá,
fogem sem rumo em meio à fumaça.
Eu quero quero,eu bem te vi,
eu massa barro,eu beija flor.
Nada que eu vire,
nada que eu faça,
para a desgraça,
nada escapa desse açoite.

Bate tambor, prá avisar.
Bate tambor dos deuses pagãos.
Façam mandinga,feitiçaria,
a melhor bruxaria,
qualquer porcaria...
Salvem os bichos que enfeitam meu céu.
Salvem os bichos que dançam nas águas.
Salvem os bichos que reinam no chão.

Bate tambor,bate tambor.
Corra a planície,a morraria,
apaguem essa cor,
afastem a dor.
Salvem do fogo as moradias.
Derramem o balde da calmaria.

Fadas e Bruxas.
Seres bizarros da mitologia.
Algum Guardião da escuridão.
Façam magia,olhem com quebrantos,
façam chover nessa secura.
Usem minhas lágrimas
e, todas as lágrimas
de todos os prantos
que caem sobre os rostos.
Retira o amargo.
Retira o salgado
de minha boca.
Regue a paz.
Regue a ternura.
Regue a esperança
e, todas as sementes
que se esconderam
no coração dessa terra.

Ser Vingador,Ser Justiceiro.
Façam poção no caldeirão,
usem também varinha de condão.
Transforme em pedra,o queimador,
mantenha pulsando seu coração,
torne eterna sua memória,
nela, somente essa história,
se lembrar prá sempre
que fez algo errado,
queimou o cerrado.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A nossa história se repete
igual saco de confete
que já nasceu sem cor
e,sem graça se reparte
de um jeito bem desigual.
Não é destino.
Não é inspiração divina.
É desatino.
Simples,louco,
desatino.
Nosso dia a dia não anda
dentro das quatro paredes,
desanda mais cada dia
e,não tentamos consertar;
virou um louco ritual,
uma dança que provoca,
sufoca,evoca o mal.
Aquele amor verdadeiro,
precisa de curandeiro,
se esquentar no candeeiro
ou,talvez rebelião
que sacuda a prisão.
Palavras são balas perdidas
atingindo todos os lados.
Atira na mão.
Atira no colchão.
Atira no cão.
Atira no chão.
Atira no coração.
Ninguém trata as feridas.
Vivemos engalfinhados,
presos nesse emaranhado,
vomitando solidão.
Nosso dia  acanhado,
doido para anoitecer,
anda todo banhado
de raiva e frustração.
Não vemos a solução.
Não quer brilhar.
Não quer deixar
um rasgo de luz,penetrar nesse breu
e,iluminar o pesar.
Não vem a chuva molhar
prá acalmar toda essa sede.
Não vem o sol prá queimar
e, a raiva dissolver.
Não vem nossa estrela brilhar
e,a nossa boa lembrança retornar.
É pedra no coração.
É no´cego,apertado
que marca nossa distância.
separa tudo em lados,
difícil de ser desfeito.
O tudo e o nada bem guardados,
no inverno daqui de dentro,
no inferno daí de dentro.
Fogão,sofá,geladeira,
cama,rádio,prateleiras,
juntamos tantas besteiras
para a vida a dois funcionar.
Nosso amor etiquetado
não encontrou o seu lugar.
Passa tempo,passa tempo,
vai passando devagar.
Passa por uma trilha estreita
entre a garganta e o peito.
Retira do coração
esse amargo desfecho,
dê um outro jeito.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

AMÉRICA. EU TÔ EM CASA

Não quero uma casa no campo
que me estampe na mesma paisagem.
Quero uma casa sobre rodas,
sem enderêço,na América do sul,em viagem.

Só prá dirigir,um sujeito livre,leve,solto,com tino,
que diante do susto,do inesperado,sorria,
que não tenha pressa,que não se preocupe com o destino,
que aprecie um café forte e doce, ao raiar do dia.

Levar comigo tudo que me é caro,
quem sabe Andréa,com certeza Rafa e Fernando.
Meu cão Veludo,sua fidelidade,seu faro,
dois ou três "adotados",prá completar o bando.

Minhas flores,enfeitando as janelas,
nas paredes,os retratos do passado
prá ir matando as saudades mais singelas
que em meu peito estacionaram em esquerdo lado.

"No me quedar in ningún hogar,
solo se fuera por una parrilhada al punto
o una trucha caliente a la plancha,
o para mirar el mejor hogar del mundo"

Em meu quintal a visão da Cordilheira,
dos vulcões,das lagunas,do deserto de sal,
dos rios velozes,das ruínas,das geleiras,
das belas praias,das cachoeiras,do Pantanal.

Longe do borburinho,da badalação.
A Clarice,Coralina, a Allende,na cabeceira.
O Alencar,o Amado,em minha rede,sob um céu de constelação.
Paz,amor e beleza,com esses ingredientes ser doceira.

Machu Picchu,Urubamba,corredeiras do barulho,
no ouvido a Vanessa,Venegas,Gadu,Marisa,
Lenine,Bublé,Seu Jorge,o Sarravulho...
"Me abraça manta colorida,me proteja amuleto,passe por mim inusitada brisa!"

Aonde estou? Eu tô em casa.
Eu sou daqui,do altiplano,eu sou de lá.
Sou do Brasil,sou do cerrado,do alagado,
do Chacaltaya,do Atacama,Terra do fogo,de Corumbá.

Roda é giz desenhando carreteiras.
Meu coração vai de carona,não tem fronteiras.
Minha vontade é livre,é mochileira.
Minha porta é de sol,o que vale é sagrado,é branca minha bandeira!

domingo, 18 de setembro de 2011

PERGUNTAS

O que eu posso fazer
pela dor de Cabul?
Dou meu cobertor?
Mando uma chuva do sul?
Dou meu pensamento azul?
Um saco de tolerância?

O que eu posso fazer
pela dor de Angola?
Dou alguma esmola?
Dou a minha hora?
Dou o meu peito que chora?
Dou a paz de outrora?

O que eu posso fazer
pela dor do Brasil?
Nos morros eu dou mais um fuzil?
Para os políticos dou mais  trinta mil?
Escondo os podres sob o céu de anil?
Dou um brilho com bombril?

O que eu fiz
pela dor de Berlin?
Varri os cacos do fim?
Uni as forças do sim?
Prá festa final eu não vim?
Rezei muito por Berlin?

O que eu posso fazer
pela dor da fome?
Mudo prá outro nome?
Esquecer,quem sabe ela some?
Lembrar dela enquanto come?
Cantá-la na voz da Alcione?

O que eu posso fazer
com essa dor no coração?
Arrancá-la,jogá-la ao chão?
Exilá-la no Cantão?
Matar o guardião?
Vou depositá-la em suas mãos.

sábado, 17 de setembro de 2011

SETEMBRO

Nesses dias de setembro
ando meio escuridão
tentando ouvir melhor,
o que diz meu coração.
Ando meio amanhecer,
desembrulhando com cuidado,
o dia que me será permitido viver.
Ando meio por do sol,
esvaziando lentamente
esse meu dia mais velho.
Seguro instantes,segundos,
por trás de grandes silêncios.
É a mais pura magia,
inventa vidas que ainda quero viver,
constrói estradas largas,sem fim
que eu quero percorrer.
Agarro no olhar
o pingo indeciso do sereno,
que se arrisca entre o beiral e o precipício,
é o segundo de que preciso
para ir ao meu encontro,
pois tudo em mim, está no raso.
Por ser intenso,
escondi o tudo no fundo
e não é difícil procurar.
Não se acha em espelhos
a proximidade do fim,
se encontra bem lá no centro,
é quando morremos por dentro.
Dessa escapei por pouco
pois andei muito doente.
Emoldurei meu setembro,
quero muitos para bem viver.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

RANÇO

A voz insistente ventava,antes do temporal.
Tua necessidade,rasgo de luz,antes do breu.
Meu dia curto,cheio, morria,sem tempo,fatal.
Desalento,cobra apertando meu coração que cedeu.

Tarde amarela colérica,começava a sangrar,
porta aberta à raiva sorrateira,atraída.
Sua boca de lâmina,continuava a cortar,
não juntei os pedaços,encontrei a saída.

É estranho pisar o chão com pés dormentes,
até o ar dá voltas,faz um nó...
pedaço,retalho,sem rumo,cadente.
sou sombra,invisível e,só.

No começo,ele gostava de minha carne com sal e mel,
me cercou,me seguiu,pôs tempero,me esculpiu.
Abraços me deu,cheiros,mordidas,beijos,me deu o anel.
O sabor envelheceu,criou um ranço,desandou. Ele ? Fugiu.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

NÃo ESTOU A FIM

Saio cedo,compungido,
meio louco, distraído.
Nada no bolso,
ocupado o pensamento...
Piso aéreo sobre fossos.
Levo comigo o meu jeito moço
de seguir contra o vento.
Levo comigo o meu jeito sombra
para atravessar difíceis pontes,
sem ser notado.
Levo comigo o meu jeito rebelde
de permanecer noite.
Estou cansado da luz, do dia,
do aloite.
Não desisti de mim,
de você,de ninguém
apenas,hoje não estou a fim.
Não quero ver gente.
Quero construir distâncias.
Quero matar lembranças.
Quero acabar com esse circo
que está em de mim,
porque hoje não estou afim.
Não acordei amargo.
Não dormi mal.
Não é a recessão,
nem o vazio das mãos
mas,quando liguei a tv,
no programa que ninguém vê,
a imagem me pegou de emboscada,
me pegou despreparado,
cortou minha respiração,
sem meu café,meu cigarro,
já com bem alta pressão.
Vi um tatu queimado,com bolhas,
lento,se arrastando sobre as cinzas
do cerrado,já sem folhas.
Arte cruel,bizarra.
O pincel de fogo na mão do homem
fez farra.
Como  um soco, me atingiu uma solidão!
Uma doída solidão.
Uma insuportável solidão...
A gente já era assim
ou,compramos a maldade dia a dia?
Hoje,agora,eu não estou a fim!

sábado, 9 de julho de 2011

VIAGEM

Vacas magras, plantação.
Campo seco, verão.
Céu  morrendo,escuridão.
Riacho turvo, pontilhão.
Homem franzino, guardião.
Mulher sozinha, desesperação.

Passa rápido entre janelas,
distâncias lambidas pelo vento.
foge meu olhar da ruína,
cerrando a velha cortina.

Inquieto olhar,
quer se encostar em outro lugar.
Distraído olhar,
se chocou com um outro olhar.
Interessado olhar,
se arrisca bem perto da teia.
Prisioneiro olhar,
encontrou o seu lugar.

O que queres me contar
com tamanha intensidade?
Meu pensamento faz linhas
nos cantos da boca e da testa,
escritas de imaginação,
mapas de curiosa tensão.

O apito choroso do trem,
rompe o elo, a ligação.
Fecho os olhos enfim libertos,
dou-lhes medo e proteção.
Meu destino já está perto.
Meu destino já está marcado.
Meu destino já está traçado.
Na passagem está escrito:
"Não nas estrelas, no sal."

Será que rasgo a passagem?
Mudo o destino final?
Sigo para sua estação?
Será que  mudo a imagem,
visto um novo personagem
e,de mãos dadas com a emoção,
sigo para a sua cidade, Perdição?

MAR DE XARAÉS

Grita laranja o céu sob a bela revoada...
Oh tristeza,crie mágicas asas,agora!
Carregue consigo essa saudade acampada
pois ela teima em não ir embora.

Me dê de presente uma manhã singela.
Descanse meu olhar entre as águas e o coador.
Espalhe o cheiro do café além da janela,
misture coisas simples,para prender meu pensamento voador.

Não ter pressa,não desejar tudo,não me sentir um nada,
embarcar nas folhas brilhantes do camalote viajante.
Vencer,apenas uma jornada,
junto com esse rio que se alargou na vazante.

Água, na terra se mistura.
Minha esperança está inundada.
é um saber que não traz a cura,
da saudade que pinga em conta gotas, regulada.

Socós_bois,dia inteiro o corixo patrulhando,
prendam minha agonia no bico
que cá em meu peito está brincando.
Já passou da hora! Doente fico.

Águas que correm sem roteiro.
Rios, baias, lagoas,
enterrem minha tristeza em barreiros.
Na areia da lagoa,façam uma bela coroa.

Não hão dias e noites iguais.
Mudam-se as cores,até a lua se reparte em pedaços.
Algum dia meus sentimentos se tornarão ilegais
e, só então aceitarei o novo abraço.

Em meu quintal,ao sol,se aquecem os jacarés.
Brilha o descanso perigoso,predador.
minha solidão se prende entre o adobe e o sapé.
meu coração, se dividiu no mar de Xaraés.

domingo, 24 de abril de 2011

BABILÔNIA

Ando sem tempo
de te dar um beijo.
Ando sem saco
de me arrumar no espelho.
Ando pelas ruas em transe,
nessas calçadas estreitas
que pedem para serem refeitas;
para mim é um labirinto.
Prá onde vai tanta gente?
Já é tarde,eu me ressinto,
não encontro minhas sementes.
Bugigangas em vitrines,
têm preços que eu não pago,
não atraem o meu olhar.
Carros,buzinas,sirenes,
não param de funcionar,
nada funciona prá mim...
A mistura de odores
atiça as minhas dores,
em meu peito faz embrulho
que deixo no canto da praça,
num enjoado barulho.
Ando só pela cidade
com um restinho de orgulho,
sem tribo,confraria,irmandade,
carregando minha idade.
Quero estar em outro lugar!

Quem sabe você é Maria,
e até ontem  sofria
de uma louca aflição.
João festeiro,ou Joana sonhadora
dando a outros seu coração.
Podes ser Pedro,uma rocha
rolando pela estrada...
Quem sabe alguém leva arma
para sua proteção?
Um assalto vai fazer?
Talvez você seja mágico
e vai me fazer sumir.
Você que segue apressado,
será por boa notícia,
ou talvez nem boa assim,
será que perdeu seu emprego,
ou esquecestes a vela acesa?
Incêndio não paga promessa...

Quando acordo de mim,
já é uma noite sem fim,
de longe a larga avenida
vira lava incandescente,
se instala outro jeito indecente,
da vida sobreviver.
Os edifícios,as esquinas
agarram os meninos,as meninas,
eu lembro na hora,no susto:
esqueci de te pegar!
A mulher toda arrumada
se esconde em paredes de vidro,
minha esperança desgarrada,
se ilumina apenas um pouco.
mas só uma escuridão
encontra a solidão das pessoas.
Uma vontade urgente,
enche meu ser de mil asas.
Quero daqui ir embora,
nesse instante,já,agora,
sem deixar os meus tesouros,
fugir de mais um dia de louco,
de mais uma noite de insônia,
na cidade Babilônia.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

DO JEITO QUE VOCÊ É

Você guarda palavras
à sete chaves.
Você ensaia um sorriso,
rápido,curto,miúdo,
raio solitário na noite,
não há nuvem,não vai chover;
me lembra lampejos de estrela
que não deseja morrer.
Você anda como gato,
vai se colando às paredes.
Vai sumindo nas calçadas,
no meio de tanta gente.
Desejo que tenhas as sete vidas e,
uma a mais,a preferida.
Mas...
Você é tão bonito,
do jeito que você é.

Você não distribui abraços,
é desperdício de toques
mas,carrega em afeto,
o único abraço que dá.
Você diz que "fica sem graça"
quando digo que te amo,
você não percebe querido,
o tamanho da graça que tenho
de só ao seu lado estar?
Essa ternura contida
que às vezes discreta se mostra,
em meio a grupo seleto,
me dá a certeza completa
de que tenho o seu afeto.
Pois é...
Você é tão querido,
do jeito que você é.

Quando explodes de raiva,
penso que foi por tão pouco;
por seu pavio ser tão curto,
tento manter a chama afastada
pois,há lenha prá queimar.
Às vezes você fica cego.
Às vezes vacê fica surdo.
Às vezes você fica mudo.
É noite em seu olhar,
fico perdida no escuro,
não consigo encontrar a porta,
nem abrir uma janela
para o sol da manhã entrar.
Eu faço qualquer coisa,
até viro lamparina,
prá poder te alumiar;
finalmente ter a certeza
de que você continua aí
dentro desse seu momento escuro.
Eu só sei que...

Você é tão amado
do jeito que você é.

                          (para Fernando Antunes )
                             Filho amado

sábado, 26 de março de 2011

SÓ VOAR

Vamos fugir meu bem,
prá outro universo.
Escapar de tantas prisões,questões,celas.
Seguir,quem sabe? Um costume inverso...
Levar na bagagem,nossas mazelas
mas,deixar nossa saudade de sentinela.

Vamos traçar meu bem,
nossos caminhos com giz,
prá poder mudar,voltar,apagar,
a nosso gosto,assim posto,de supetão.
Embarcar nesse trem,o que eu sempre quis.
Viagem marcada,passagem comprada na emoção!


Vamos adormecer  meu bem,
ao relento,sob o vento,na chuva fina.
Acordar cobertos de felicidade...
É férias meu bem da nossa sina,
vamos mudar tudo com total simplicidade.

Talvez digam que somos loucos,
tudo bem,nós sabemos a verdade...
o sol é para todos,o sétimo céu é para poucos,
ainda há tempo de voar na liberdade.

O tempo é velho e caminha com pressa,
nós somos o pó que lhe alimenta,
que no redemoinho inútil se expressa,
enquanto nossa beleza, ele arrebenta.

Então,vamos fugir meu bem,
enquanto minha vontade de aprender,
é uma criança.
Enquanto ainda tenho pernas
prá entrar nessa bela dança.
Enquanto meu olhar estiver preso
no brilho de seu olhar...

terça-feira, 15 de março de 2011

COM MEL E LIMÃO

Quero me convencer de que você é perfeito,
de que não esconde os seus escuros.
Quero fechar meus olhos,dizer que te aceito,
sem ficar com o pé atrás ou,em cima do muro.

Quero escolher uma flor bem singela,
que brota descuidada e indefesa,
daquelas que no campo,nada espera,
apenas um olhar que enxerga a beleza.

Quero pintar o dia quando o sol se por
com um pouco de paz,de alegria,de paixão.
Derramar essas cores por onde você for
pois,bem aí vai passar meu coração.

Quero roubar no milagre de cada amanhecer,
o canto agitado do primeiro passarinho
que vem anunciar sozinho,
o belo dia que vai ser.

Quero esperar que essa brisa cálida,
que acaricia planícies e serras,
anime minha vontade medrosa e pálida
de te mostrar o amor que no meu coração berra.

Depois de tudo,na rede,em nosso descanso na varanda,
quero adoçar sua boca com mel e limão,
fazer só o que você manda...
tentar mudar esse meu jeito de só dizer: não!

domingo, 6 de fevereiro de 2011

HOJE

Hoje, só prá você
vou escolher uma flor singela,
dessas que no campo nada espera
além de um olhar que vê a beleza.

Hoje,só prá você
vou pintar o dia quando o sol se por
prá que seu céu brilhe por inteiro
e ser mais fácil saber seu paradeiro.

Hoje,só prá você
vou inundar seu coração
de coisas que me alegram nesse mundo
e,vou mostrar bem mais no fundo
o mistério desse meu amor profundo.

Hoje,só prá você
vou acordar mais cedo
gravar o canto do primeiro passarinho
depois te acordar de um jeito bem mansinho,
com o canto que anuncia o belo dia que virá.

Hoje,só prá você
vou sair dessa cal apagada, sem cor
me tornar giz e me escrever,seja como for,
nos quatro cantos do universo,em qualquer tela,
o quanto é difícil sobreviver sem você,sem amor.

Hoje,só prá você
vou dizer em seu ouvido que tudo é perfeito,
que percorro sem medo seus claros e escuros,
que ao fechar meus olhos, também vejo seus defeitos,
mas é maior o bem que você me faz,eu juro.
.
Hoje,só prá você
vou arrumar seu descanso na varanda,
adoçar sua boca num beijo de mel e limão,
um pouco doce,um pouco azedo,fazer o que você manda,
mudar esse meu jeito solitário de dizer não.

domingo, 30 de janeiro de 2011

APENAS OLHANDO

Pela grade da janela
do meu apertado quarto,
vejo a palmeira diferente
que você largou no chão.
Ela cresceu muito...
MMMAAAJEESSTTOOOSAAA
brilha sob sol de céu azul.
O vento lá fora balança
as folhas recortadas como
um rasgo.
Ssssuuuaaavvvveeeemmeeennte...
Os telhados e as paredes das casas
vizinhas,inertes,se acercam assombrosos
de sua majestade.
Inúteis,tentam esconder a beleza
que indiferente,segue para o alto.
IMMPPOONNEENNTEEE.
Aqui dentro em meu quarto,
em meu leito de doente,
o meu teto é limitado,branco e,
finito.
O vento que sopra em mim,
é de um velho ventilador
tentando refrescar minha febre,
com energia paga e cara.
La fora tudo quer ser infinito,
o brilho do sol,
o verde das folhas,
o vento dançarino.
Eu? nada tenho de infinito
mas meu pesamento é
andarilho,não está doente,
não está no leito,
VVvvOOoooAAAaaaa...

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

AQUELE BLUES ANTIGO

Meu tennis velho já desmancha
mas,é ele que me leva para casa
pois conhece bem caminho.
A calçada tem covas rasas
eu carrego minhas asas,
está tudo tão calminho,
vou seguindo bem sozinho.
Vou cantarolando.
Vou assoviando,
aquele blues antigo,
fazendo dueto com minhas lembranças.
Vou sozinho,
vou seguindo.
Tudo está tão calminho.
Vou cantarolando.
Vou assoviando
aquele blues antigo.
Gato preto arrepiado
passa ali adiante.
O meu coração errante
bate de porta em porta,
ganha mais uma mina.
Não tenho medo.
Não tenho segredo.
Tenho um pé no cerrado,
outro lá na fronteira,
pode tudo ser besteira
mas,sabes o que me gusta?
É aquele blues antigo
que você tão clara e justa,
cantou só para mim.
A cidade quase dorme.
As distâncias são enormes,
eu apenas quero paz
nesse simples caminhar;
pois agora estou bem calminho.
Vou cantarolando.
Vou assoviando
a canção do velho bando:
aquele blues antigo.



.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

DESFECHO

A boca seca pede água.
Minha paixão queima só.
Meu corpo banhado de mágoa,
na garganta dá um nó.

Mão na mão,uma é caça
lutando prá sair da armadilha.
Equilibrio,bebe o fel dessa taça!
Esperança, vá ser andarilha!

Olho no olhar maltratado
se perdem entre labirintos.
O amor já foi deportado.
O ódio reina, é vilão faminto.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

BAIA BONITA

O sol sangra à tardinha,
artérias rompidas no espelho da baia.
Minhas mãos em concha se avizinha:
tentava aparar o sangue que caia ...

Enquanto a noite engole o dia feito fera,
emudecendo filhotes a sós em ninhos,
na varanda o meu anseio espera,
o rastro de poeira, ao longe,no caminho.

O céu é tela que o pintor descuidado,
deixa cair um balde de estrelas,
que se abrem em redes bordadas com diamantes.
Obra prima! Eu não o vi tecê-la
mas, me faz pensar que ele é gigante.

É só aqui,nessa planície mágica
que os milagres sempre acontecem.
Longe de tudo,a vida pode ser trágica
mas é paraíso,estão aqui, só os que o merecem.

A língua mansa da fogueira lambe a escuridão,
transforma em brasa o inesperado obstáculo.
A lua cheia finge ser um lampião,
quase sem pressa vai crescendo no espetáculo.

Para minha amiga Maria Esther,dona da Baia Bonita(Nhecolândia),que um dia me acolheu no paraíso,num momento em que eu precisava me esquecer,me refugiar em qualquer coisa.
Que bom que você me colocou diante de sua janela:voei em cada asa de pássaro,caminhei com cada bicho que passou,me encantei com a simplicidade das coisas e com o afeto das pessoas.
Que bom que você é minha amiga,me ajudou a ver que estou viva,em pé.
Muito obrigada !

domingo, 16 de janeiro de 2011

NOITE

Noite,mergulha no escuro,
se esconde atrás de muros,
velha birrenta,não quer aparecer.
Cores sangrentas fazem show sob luzes,
denso espetáculo prá quem pode ver.

Noite insiste, quer descansar,
persiste nas trevas,faz sombra pro olhar.
Cada dia que empurra,tentando passar,
é uma lenta tortura do desejo alcançar.

Os seres da noite
não vivem ,flutuam...
Personagens com nome,
personagens com fome
de, no dia morar.
Fazem palco das ruas,
o holofote é a lua
prá seus talentos mostrar.

Engolem o fogo de suas mazelas,
criam relâmpagos em escuras vielas,
equilibram a quimera em saltos tão finos;
o peso do sonho,a vida mais bela,
é granada esquecida ainda com pino.

Noite que chora
lavando suas dores.
Noite que implora
prá desaparecer,
me deixa dormir!
Não sou companhia
no seu destruir.
Perca essa mania
de acobertar esses dramas
e,caia em sua cama.
Não és tão vadia!
És doce agonia
de pura magia,
ao amanhecer.