quinta-feira, 31 de maio de 2012

O RIO

À tardinha, o descanso,
o olhar fica mais manso,
morre o dia com preguiça,
um convite que atiça,
a paixão que não sacia,
Rio Paraguai e o sol
fazem bela parceria...
O contorno não tem rosto,
na paisagem está posto,
a canoa,o canoeiro.
O meu olhar trapaceiro,
vê a estátua de bronze,
repousada no dourado,
sobre a lava desmaiada,
na superfície do rio.
Do banco, no cais do porto,
minha lembrança é um broto,
crescendo no coração;
corre livre,ligeira,
refaz de olhos fechados,
as belas curvas do rio.
As águas que chegam à margem,
num vai e vem espraiado,
é o jeito mais que perfeito
do fazer amor no leito,
do gozo chegar  à beira.
A areia se mostra lisinha,
a areia se mostra branquinha;
ao esticar meu olhar,
sigo os camalotes
que passeiam feitos buquês,
enfeitando o grande decote.

terça-feira, 22 de maio de 2012

NÃO DEIXE DE CANTAR

Não deixe de cantar
ainda que sua voz,
tenha se perdido,
entre a fumaça de seu cigarro.
Não deixe de cantar
ainda que a angústia,
trinque sua garganta,
deixando rouco seu peito.
Não deixe de cantar
ainda que  a noite roube seu sono,
ainda que seu dia se arraste
perseguindo um grande final
e ele não chegue.
Não deixe de cantar
ainda que seus sonhos,
tenham dado um tempo
e,estejam a serviço
de seu pão de cada dia.
Não deixe de cantar
ainda que seu velho violão
esteja esquecido, arranhado,
encostado num canto inútil
da parede de seu quarto.
Há cordas, há acordes,
seus dedos encontrarão o toque,
uma canção esperará por você.
Não deixe de cantar
ainda que eu não esteja aqui,
saiba,e vou te ouvir,
eu vou sentir a ternura em sua voz,
eu vou sentir a saudade em sua voz,
eu vou reconhecer o amor em sua voz,
de alguma forma você me fará feliz.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

A CIDADE

A cidade tem um ímã,
ela vai te atrair.
A cidade está armada
e,aponta prá você.
A cidade virou monstro,
ela vai te engolir.
A cidade está inchada,
não consegue caminhar.
O seu corpo se esparrama
em uma linha horizontal,
suas garras são bem finas,
armadilha vertical.
O seu chão está blindado,
não ter verde é normal.
O seu céu ficou finito,
está cinza-esquisito.
O seu sol se revoltou,
quer queimar a sua pele.
A sua lua só confunde,
parece ser lamparina,
já perdeu o seu mistério.
Não és mais tão romântico,
não és mais tão crédulo
e,se você surgir à janela,
vira notícia,é novidade.
Olhar prá quê ?
Olhar prá onde ?
Seu horizonte é de concreto
Sua solidão tá enquadrada,
Sua  identidade tá sucumbida.
Mas...A verdade mais lambida
é que você se acomodou.
Você se encostou.
Você estacionou
no horário nobre,
se empanturrou de pipoca
e, só engorda,só engorda,
só engorda a cidade.

domingo, 6 de maio de 2012

O SEU BEIJO

O seu beijo
veio com um silêncio de morrer,
eu mal vivia
o meu respirar.
O seu beijo
veio nu,usurpador,
se aproveitou,
quando acabou,
deixou minha boca em nenhum lugar.
O seu beijo
veio como cavalo indomável,
cavalgando minha boca.
Cavalga meu bem,cavalga,
só deixa o vento passar por mim.
O seu beijo
veio tão inocente,
não sentiu a malícia que havia,
na ponta de minha língua atrevida
que brincava de espada
com a tua.
O seu beijo
veio como um raio de boa noite,
não anunciou chuva
mas,me mostrou a lua,
cheia,no céu de minha boca.
O seu beijo
adormeceu em minha boca,
ficou um gosto de eternidade,
minha boca se acostumou
no  infinito,
não quer mais acordar.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

DADOS PESSOAIS

Meu nome é muito comprido,
a mim,não tem significação,
talvez num momento bendito,
minha mãe escolheu sem muita noção.

Minha altura na média,anda encolhida,
alcanço o céu com as pontas dos pés.
Minha cor de pele é curtida,
mistura de leite e café.

Os cabelos,outrora bem pretos
estão com a densidade em ruína,
parecem de milho ou talvez gravetos,
estão me dizendo que não sou menina.

Meus olhos castanhos intensos,
observam curiosos,são caçadores.
Não enganam,mostram o que penso,
com eles eu vejo o mundo com cores.

Nem tudo se mostra em meu rosto.
Quem eu sou,guardo no coração,
nem perfeita,nem imperfeita,isso posto,
digo que sou um poço sensivel,só emoção.

terça-feira, 1 de maio de 2012

ESTRANHA

Hoje eu me sinto estranha,
amanheci carente,
me dê flores
como se fossem palavras de afeto,
a você talvez não signifique nada
a mim, é salvação.
Amanheci invisível,
me dê seu sorriso
como se fosse uma porta aberta,
talvez você não veja eu entrar
mas, em qualquer canto vou estar.
Amanheci fora de mim,
me dê sua mão
como se fosse elo de corrente,
me mostre o lugar de onde sou,
me ensine prá lá eu voltar.
Amanheci silêncio,
me dê o som de sua voz
como se fosse um sinal
de que,posso permanecer quieta,
mesmo assim vais me ouvir.
Amanheci sem pernas,
me carregue no colo,
me tire do tédio,
das sobras do tempo,
me mostre a paisagem
que encanta você.
Amanheci alada,
não me dê nada,
eu já tenho tudo.
Eu sou borboleta.
Eu sou vagalume.
Eu sou passarinho.
Eu sou um poema,
cá dentro um mundo
e,ele me vê.