terça-feira, 25 de novembro de 2014

DIA SIM, DIA NÃO

Passo  as noites no sofá,
lendo ou, vendo tv.
Parece tranquilo demais...
Parece sossego demais...
Parece eu só, demais...
Vem sacudir essa apatia,
me tira dessa fotografia,
dessa pose tardia,
desse amarelo que o tempo,
resolveu me colorir !
Quero sentir a dor de novo,
me ver sem precisar de espelhos,
sem qualquer maquiagem !
Sentir um beliscar que me expulsa
de dentro e faz uma viagem.
Sentir sua mordida na nuca,
o seu abraço por trás !
Quero sentir qualquer sensação avulsa,
qualquer partícula do sempre,
pra não me perder novamente,
pra não me perder nunca mais,
diante de uma tv !

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

LA VAI ELA

La vai ela,
meio mulher, menina,
tão qualificada,
meio grossa, meio fina,
perfeitinha e acabada,
se achando divina.
Instalada num beco,
na quinta janela da esquina,
tem o sol  bem a seco,
clareando seu rio,
e um olhar de apego,
juntando seu mundo.
Já perdeu tantas contas
do rosário e do receituário,
da comida e do vestuário,
pede ajuda ao santuário,
quando o fim do mês desponta,
faz promessas pra sobreviver.
Diarista, quatro casas pra cuidar,
não tem o ponto cobrado,
nem horário pra matar,
só tem um passo estudado,
pra quando na rua passar.
Não anda mais em Madureira,
por amor, veio pra essa ladeira,
tentando se adaptar.
trocou o barracão da mangueira,
por uma quadra na fronteira,
e mostrar com classe faceira,
que é uma passista funkeira,
dois metros de sedução.
Raiz arrancada da favela,
la vai ela na branca passarela,
do carnaval de Corumbá

sábado, 23 de agosto de 2014

FERVILHANDO

Meu mundo sumido,
nos passos de lã,
sorriso esquecido,
naquela manhã.
A  noite traz penas...
eu quero acordar,
diante de cenas,
que não quero lembrar.
Minhas mãos têm tremores,
de um tempo algoz,
seguram minhas dores,
com força feroz..
Saudade é mãe,
que alisa cabelos,
que alimenta com pães,
e castiga com gelos.
Minha voz apagada,
não enche meu mundo,
no vento espalhada,
é caminho fecundo...
se não paro em pé,
eu caminho no bando,
amigos de fé,
e os corações fervilhando.

CASA PRÓPRIA

Busquei um jeito real,
um jeito quase normal,
de dizer que te amo.
Você pediu a medida,
o tamanho do meu sentimento..
usei régua, esquadro,
até circunferência;
fiz uma transferência,
do seu lugar para o meu...
Não encontrei lógica,
nenhum encaixe perfeito,
do seu perfil com o meu,
com minha ação e seu sujeito.
Olhei da terra para o céu,
sondei além das estrelas,
embaixo da lua de inverno,
na gota fria de orvalho,
congelada alí, no momento.
Cismei com tantos atalhos,
pra um amor que precisa de dois,
de risadas e feridas,
tanto quanto moradia.
Casa própria no coração,
e você querendo pagar aluguel.

domingo, 11 de maio de 2014

MATADOR

Meu amor
anda sem palavras,
e tem muito o que dizer.
Ficaram ali pelo meio,
entre a garganta e a boca,
como um detrito,
como um delito,
como um mal dito !
Meu amor
se tornou um bandoleiro,
ladrão, guerrilheiro,
abriu fechaduras e travas.
Ficou com as chaves.
Ficou com a cara brava.
Falou pelos poros !
Falou pelas mãos !
Falou pelos olhos !
Foi perdoado e aceito,
se tornou um matador.

FAMÍLIA

De manhã
o som do rádio,
toca meu interior.
Abre portas de lembranças...
Um café, por favor !
Meu sorriso escuda tristezas...
de uma canção de um mal amado,
defende o meu cercado
e um punhado de certezas.
Tenho o  sol de abril,
esperando pra esfriar.
Tenho um céu de anil,
invadindo o meu olhar.
Sonho com dias de setembro,
com flores pra enfeitar...
Sinto ! Ainda me lembro...
Todos juntos ao jantar.

MINHAS VERDADES

Vou rir
e esconder minha fragilidade !
Ninguém precisa saber,
onde moro nessa cidade.
O meu rumo está no mundo,
minhas verdades, no fundo.
Não preciso andar por continentes,
procurando minha origem,
sou filha de um bugre faceiro,
e de uma mãe coragem
Se eu soubesse do futuro,
não cruzava seu caminho,
amor, que é amor, pra mim
ultrapassa o juramento,
fica no firmamento,
vivendo do seu invento.
Vou chorar
e mostrar toda minha força !
Só eu preciso saber,
onde ela está,
pra levantar minha parede
quando ela desabar,
e recomeçar,
até eu me acabar !

UM TEMPO

Ah, meu amor !
nem a poeira e as traças,
nem o silêncio que me abraça,
fazem parceria em meu exílio.
tenho a presença do vento
que assovia à minha porta,
que seca os meus molhados,
que esparrama os meus guardados.
Tenho o sol que grita:
Cada manhã é outro dia,
mas eu não quero ouvir.
Tenho a noite invasora,
revirando os meus cheios,
trocando de lugar, meus vazios,
deixando uma dor no meio.
Ah, meu amor !
Só a chuva que cai, e seu nublado,
me faz sentar displicente,
nas bordas do tempo, um tempo,
fazer poesia
pra minha saudade abortar.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

CORDILHEIRAS

Esse meu manso jeito,
talvez, não seja perfeito,
pra encarar suas cordilheiras,
tão geladas, tão difíceis de ultrapassar.
Não há azul de mar em seu olhar,
poço profundo, sem fim.
Não é sagrado o seu costume.
Ouço de longe o tambor pagão,
do seu caminhar.
Não há pedidos em seu chegar.
Tomas, colhe, sem nenhuma intenção.
Aceito que meu coração,
se levantou do meu canto,
foi ao seu encontro,
preso por um quebranto.
Estar com você,
é mergulhar em abismos,
enrodilhada em encantos,
buscando o mistério de sismos,
em seu adentro nada santo...
Fazer o quê agora ?
Minha liberdade de antes,
se tornou refém desses instantes,
talvez eu exista em seus sonhos desfocados
e meu coração atirado,
se tornou flor em seu terreno abandonado.

SORTE

Oh sorte, me dê um sinal !
Pode ser no arco íris,
em uma página de jornal,
ou, na gota de café, sobre o pires.

Lancei minha sorte em papéis,
teve a ver com bruxaria,
foi selada entre anéis,
e nossa caligrafia.

Tão pertinho e sem perceber,
acordei com a sorte ao meu lado,
se tornou meu bem querer,
passeia em meu sorriso, brinca em meu telhado.

sábado, 15 de março de 2014

DOS PÁTRIAS

Já não me lembro
do apito do trem,
na velha estação...
Quando ele vai ?
Quando ele vem ?
Não me lembro
do azul da Cordilheira,
no terno desbotado
do meu pai.
Vem de Bauru !
Vai pra Santa Cruz !
Pelas serras, no cerrado,
as baías, pontilhão !
"No me lhame mami,
yo, no voy,
tengo dos Pátrias,
mi corazón y Corumbá ! "
Tenho saudades no avesso
que se molham
nas águas do rio,
e uma fé fugitiva,
ver pra crer !
Os meus dias,são de viver.
Minhas noites,são pra sonhar,
e as manhãs pra me encantar.

AMOLAR

Molhei meus pés
lá no rio,
sou criança,
vou brincar !
Espalhei meu olhar
no horizonte,
alcançou o Amolar !
Lá, sou bicho,
de vida cigana,
o mundo é o meu lar.
Lá, sou a chuva
que cai de repente,
sem aviso,
o chão seco vai inundar...
Lá, sou semente sem par,
em qualquer canto,
vou brotar.
Lá, sou o vento
indomado,
atrás dele vem a paz.
Lá, sou mais um coração
que fugiu cá da cidade,
para enfim, poder pulsar !

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

OH, LUA !

Oh, lua dos sonhos possíveis,
não fala nada em casa
que hoje, não vou voltar,
eu morri pelas ruas,
por tiro e bala perdida,
deixe minha gente descansar !
De onde veio a chama,
que me entrou pela boca,
e matou o meu sonhar ?
Por que cargas d'água,
a mágoa ficou presa na garganta,
e me impediu de chorar ?
Oh, lua dos sonhos impossíveis,
dê um jeito de avisar,
míngue um sinal entre estrelas,
pra minha gente desconfiar...
Já é dia, o sol vai escancarar
que eu não estou nesse lugar !

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

LUAS DE NEON

Saio com você às ruas,
sob as luas de neon,
minha mão guardada na sua...
nossos sonhos separados.
Procuro um canto qualquer,
quero plantar uma flor,
mal do bem, me quer
mas, eu não estou a seu dispor.
Morro e renasço a cada dia,
ser pra você, o que não sou,
esgoto a alma fria...
Tantas vidas eu lhe dou !
Possuo o caminhar dos animais,
em uma jaula sem espaço
e, respostas anormais,
já não sei o que faço !
Sigo como rio sem curso,
meus poemas sem beleza,
não sangro mais, não pulso,
sou o retrato da gentileza.
Fiquei sem raça ,sem cor,
isso tudo eu lhe dei.
Vou quando o sol se por
e, na volta, não voltarei.
Você não me vê, a emoção,
em seu caminhar ajustado,
vais me levando pelas mãos
mas, eu não estou ao seu lado.
Sirvo em prato trincado,
tantas contas pra pagar ,
no varal está espalhado,
nossos corpos sem amar !
Será que a chuva passou por aqui ?
Não vejo seu rastro no chão,
vou voltar pra cama e dormir,
esquecer meu coração.

AH, AMOR

Amor, não chora,
dentro do peito guardado,
nesse lar onde tu moras,
há um sol bem mais dourado.
Os sonhos são seus vizinhos
e, os sentimentos, mais fortes,
guardo você nesse ninho,
antes que lhe alcance, a morte.
Amor, não peça,
pra sair para o lado de cá,
aqui, há perigos à beça,
não poderei lhe salvar.
Há magos encantadores,
que lhe prendem em uma cartola de teias.
Há trapezistas, domadores,
que podem lhe trair na mesa da santa ceia.
Amor, não mude !
em seu lugar há grandeza,
cá fora, a realidade ilude,
com artificial beleza...
Se queres sair, vá com calma,
não perca o foco, a direção,
atinja o centro, a alma,
é la que mora o coração.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

AÇÚCAR QUEIMADO

Emprestei um olhar amigo,
para te olhar com atenção,
não gostei do que vi,
o olhar tinha razão !
Meu olhar contaminado,
sinceramente estragado,
se confundiu com a imagem e ação,
olhou você, o ser amado,
com um olhar de paixão.
Não viu que a doce ilusão,
do olhar de mel derramado,
na verdade, era açúcar queimado,
esquecido no fogão !
Vi, enfim, suas minúcias,
escondidas com astúcia :
anéis dourados, cintilantes,
talvez, estrelas cadentes,
encantando minha solidão.
Roubaste de mim esse fogo,
que levas todo garboso,
era meu, o sentimento que sentes,
"saco vazio,ausente,
foi adequado o presente ? "
Como fugir dessa teia,
onde minha emoção serpenteia,
e prende o coração ?
O pensamento trabalha,
na esteira da perdição,
caio desse desatino,
encontro razoável destino,
cá dentro do meu contorno,
finalmente, voltou meu eu !

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

QUANDO A CHUVA CAI

Quando a chuva cai,
na terra de minha infância,
inventa lagos, enxurradas....
navega na frágil distância...
meu barquinho de papel.

Quando a chuva cai,
essas frases sem sentido,
sem pensar, que eu lhe digo,
ganham um sentido secreto,
é medo de lhe perder.

Quando a chuva cai,
traz um ventinho gelado
que me arrepia de frio.
Há um silêncio deslumbrado,
diante do seu papel,
regar, molhar, encharcar,
fazer a vida recomeçar...
de novo no céu brotar.

Quando a chuva cai,
fecho os olhos pra sonhar,
deixo a chuva me molhar.
Digo coisas ao pensamento,
de voar e de encantar,
roda pião, catavento,
quero agora brincar.
A felicidade é um vento,
levando meu coração.

domingo, 5 de janeiro de 2014

PARDOS SABIDOS

Meus olhos carregam alguns gelos,
escondem uma nudez em pelo,
do meu eu enjaulado,
entre anéis de melado.

Às vezes, se derretem a seco.
Às vezes, se consomem molhados.
Caminham por vários becos,
vão lançando os seus dados.

Atentos, espiam inspirados,
as cores e dores do mundo,
enfeitam, refazem em bordados,
estendem a corda ao abismo.

Meus olhos não usam palavras,
mandam mudos, fulminantes recados,
se fecham com chaves e travas,
defendem todos os meus lados.

Meus olhos se desmancham em mel,
em terreno conhecido,
abrem sua cortina de papel,
se mostram: Pardos sabidos !

sábado, 4 de janeiro de 2014

NO CORDÃO

No cordão
não saio não ! Eu não !
Lá desliza sinuoso,
há um jeito suntuoso,
com cetim e sedução.
Os passinhos curtinhos,
escorregam pelo chão.
No cordão
não saio não ! eu não !
Avisei ao rei João
e à rainha Joaquina !
Quero sair espalhado,
enrolado em serpentina,
com um terno listrado,
no cabelo gomalina.
Já pus meu bloco na rua,
fiz promessa à lua,
não chover e não ventar,
só me iluminar
e o samba me levar.
No cordão
não saio não ! Eu não !
Na avenida tudo é belo,
lantejoula e papelão,
o meu ano amarelo,
ganha brilho, ostentação,
no desfile da ilusão.
No cordão
não saio não ! Eu não !