domingo, 18 de setembro de 2011

PERGUNTAS

O que eu posso fazer
pela dor de Cabul?
Dou meu cobertor?
Mando uma chuva do sul?
Dou meu pensamento azul?
Um saco de tolerância?

O que eu posso fazer
pela dor de Angola?
Dou alguma esmola?
Dou a minha hora?
Dou o meu peito que chora?
Dou a paz de outrora?

O que eu posso fazer
pela dor do Brasil?
Nos morros eu dou mais um fuzil?
Para os políticos dou mais  trinta mil?
Escondo os podres sob o céu de anil?
Dou um brilho com bombril?

O que eu fiz
pela dor de Berlin?
Varri os cacos do fim?
Uni as forças do sim?
Prá festa final eu não vim?
Rezei muito por Berlin?

O que eu posso fazer
pela dor da fome?
Mudo prá outro nome?
Esquecer,quem sabe ela some?
Lembrar dela enquanto come?
Cantá-la na voz da Alcione?

O que eu posso fazer
com essa dor no coração?
Arrancá-la,jogá-la ao chão?
Exilá-la no Cantão?
Matar o guardião?
Vou depositá-la em suas mãos.

sábado, 17 de setembro de 2011

SETEMBRO

Nesses dias de setembro
ando meio escuridão
tentando ouvir melhor,
o que diz meu coração.
Ando meio amanhecer,
desembrulhando com cuidado,
o dia que me será permitido viver.
Ando meio por do sol,
esvaziando lentamente
esse meu dia mais velho.
Seguro instantes,segundos,
por trás de grandes silêncios.
É a mais pura magia,
inventa vidas que ainda quero viver,
constrói estradas largas,sem fim
que eu quero percorrer.
Agarro no olhar
o pingo indeciso do sereno,
que se arrisca entre o beiral e o precipício,
é o segundo de que preciso
para ir ao meu encontro,
pois tudo em mim, está no raso.
Por ser intenso,
escondi o tudo no fundo
e não é difícil procurar.
Não se acha em espelhos
a proximidade do fim,
se encontra bem lá no centro,
é quando morremos por dentro.
Dessa escapei por pouco
pois andei muito doente.
Emoldurei meu setembro,
quero muitos para bem viver.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

RANÇO

A voz insistente ventava,antes do temporal.
Tua necessidade,rasgo de luz,antes do breu.
Meu dia curto,cheio, morria,sem tempo,fatal.
Desalento,cobra apertando meu coração que cedeu.

Tarde amarela colérica,começava a sangrar,
porta aberta à raiva sorrateira,atraída.
Sua boca de lâmina,continuava a cortar,
não juntei os pedaços,encontrei a saída.

É estranho pisar o chão com pés dormentes,
até o ar dá voltas,faz um nó...
pedaço,retalho,sem rumo,cadente.
sou sombra,invisível e,só.

No começo,ele gostava de minha carne com sal e mel,
me cercou,me seguiu,pôs tempero,me esculpiu.
Abraços me deu,cheiros,mordidas,beijos,me deu o anel.
O sabor envelheceu,criou um ranço,desandou. Ele ? Fugiu.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

NÃo ESTOU A FIM

Saio cedo,compungido,
meio louco, distraído.
Nada no bolso,
ocupado o pensamento...
Piso aéreo sobre fossos.
Levo comigo o meu jeito moço
de seguir contra o vento.
Levo comigo o meu jeito sombra
para atravessar difíceis pontes,
sem ser notado.
Levo comigo o meu jeito rebelde
de permanecer noite.
Estou cansado da luz, do dia,
do aloite.
Não desisti de mim,
de você,de ninguém
apenas,hoje não estou a fim.
Não quero ver gente.
Quero construir distâncias.
Quero matar lembranças.
Quero acabar com esse circo
que está em de mim,
porque hoje não estou afim.
Não acordei amargo.
Não dormi mal.
Não é a recessão,
nem o vazio das mãos
mas,quando liguei a tv,
no programa que ninguém vê,
a imagem me pegou de emboscada,
me pegou despreparado,
cortou minha respiração,
sem meu café,meu cigarro,
já com bem alta pressão.
Vi um tatu queimado,com bolhas,
lento,se arrastando sobre as cinzas
do cerrado,já sem folhas.
Arte cruel,bizarra.
O pincel de fogo na mão do homem
fez farra.
Como  um soco, me atingiu uma solidão!
Uma doída solidão.
Uma insuportável solidão...
A gente já era assim
ou,compramos a maldade dia a dia?
Hoje,agora,eu não estou a fim!