sábado, 30 de novembro de 2013

PRA SONHAR NÃO CONVIDA

Ah, meu bem !
Você nem imagina,
quando vês o meu sorriso,
que eu passei a noite inteira,
diante do espelho, com receita,
treinando minha falta de juízo,
pra lhe encontrar.
Você não sabe
mas, a senhora timidez,
não quer sair de casa,
se vestiu com a sensatez
e escondeu as minhas asas.
Essas coisas da vida,
nossas lidas, nossas contas,
pra sonhar, não convida.
Não lhe completo,
nem no meio nem nas pontas,
não há escadas nem trancas,
de trazer pro quarto escuro,
a sensação milenar da esperança,
e acordar o lado mais puro do amor.
Saímos às ruas pra brigar
pela santificada  família,
cansados,amargos,voltamos pro lar...
Não me acabe !
Não me mate dia a dia,
me deixe voar,
preciso voar !
Se eu não puder ir,
vem então ficar comigo !

GRINGO

Não me chame não !
Não me chame
"Chica !" Quando sale el sol,
pra sair ao sol !
Sei que sou do oeste,
fogo e compaixão.
Na boca do forno
queima  a paixão,
sai um beijo morno.
Aqui é caliente
mas, não me tente...
Estou com as malas prontas,
sigo para o sul!
Vou de encontro ao frio!
Vou me aconchegar!
Vou fazer fogueira,
só um calorzinho,
para me aquecer.
Logo vais chegar,
porque o amor vinga
quando é plantado.
Gringo de Sevilha,
sapo encantado,
não se perca em milhas !
No existe el tiempo,
ni el dolor, telo digo yo !
Dime corazón,
és tão verdadeiro ?
Se mostre então, após o beijo...
Beija ! Beija ! beija !

sábado, 23 de novembro de 2013

VERDADES

Não conto
verdades pra mim.
Não minto
sobre o que sinto.
Meu jogo é limpo.
Ando só,
restrita, faminta,
algoz, esquisita,
osso duro de roer.
Meu coração
é chama secreta,
é fogo, terra e céu
inventados:
arde antes de morrer.
Fui guardada
em armários, gavetas,
um objeto sem destino,
sua inquilina.
Pingente de lustre que enfeita
mas, eu sou faísca de luz no sereno.
Uma grinalda de um vestido fujão.
Quero não, ser perdoada !
Quero não, explicar
o meu poema !
Bebe então essa leveza
que eu coloquei aí,
sobre sua mesa !

ONDAS

Pés cortados, aroeira,
do cerrado, do sertão,
fazem fileiras,
diante do meu olhar.
A cerca inteira
separa,
meu mundo do seu.
Só,
na janela aberta,
a mansidão pra olhar,
onda do rio que vai,
vou nela.
Onda do rio que vem,
também.
Acalma, esquece,
tudo que entristece...
Eu pratico
o cactus da proteção.
Prefiro a solidão,
o arame farpado rasgando,
as veste do meu coração.
Eu sei,
o coração procura,
encontra, arrebenta
a porta do sul do oeste,
na primavera se veste,
outra vez vai passear.