domingo, 11 de dezembro de 2011

DAQUI; NÃO SOU!

Eu não sou desse lugar,
desses quadrados entupidos,
desses quadrados abarrotados,
que abraçam tanta gente,
com braços de aço e concreto.

Não quero andar por aqui,
nessas ruas mal asfaltadas,
nessas calçadas apertadas
que dizem serem feitas,
somente para caminhar.

Sou moradora da lua
que por pura distração,
despencou de uma nuvem,
perdeu a direção
e,se estabacou ao chão.

Eu não sou um anjo.
Eu não sou um demônio,
também não sou bruxa,
dessas coisas eu não manjo.
Eu quero apenas voar.

Cansei das coisas desse lugar.
do jeito marginal de viver,
com cada qual em seu canto,
tentando sobreviver,
sem muito se envolver.

Só me cansei de estar só,
salvando a pátria de um mundo,
com minha vida funcionando no gerúndio,
comendo...vestindo...dormindo...andando...
pagando...trabalhando...comprando...

Ninguem me cobra aluguel na lua,
ninguem aponta os meus pecados,
não sinto fome nem sede,
voo livre,leve e nua,
a única coisa que faço alem de ficar nas nuvens,
é escrever os meus poemas
relatando essas viagens.

CAPITALISTAS

Nós ja saimos das trevas,
nós ja saimos da escuridão
mas ainda somos primitivos,
ainda somos primários,
defendendo essa escravidão.
Usamos tacapes invisíveis,
prá defender nossos ganhos,
nós somos muito elegantes
em destruir tantos sonhos.

Dançamos a dança da guerra.
Profanamos a mãe terra
sem, em armas empunhar.
É vermelho o nosso sangue.
É vermelha a dor que causamos.
Cercamos propriedades,
liberamos os nossos sonhos,
cada qual em qualquer lugar,
é só uma questão de comprar.
Somos reis desses pedaços,
somos reis sem ter nobreza,
alimentamos a pobreza,
num jogo bem sucedido
pois não saimos feridos.

Nós ainda somos primitivos,
nós ainda somos primários,
cobertos de ouro e prata,
usamos as nossas clavas
pra defender nosso sistema.
Trincando os nossos dentes,
rangendo neles, nossa raiva,
pisamos os covardes e os crentes.
Somos charmosos canalhas espertos,
em torres de ferro e concreto,
nem sempre mostramos a cara,
nem sempre estamos à vista.
Nós somos capitalistas.

O HOMEM MORCEGO

Zé Pechisbeque um velho guerreiro,
percorre a cidade o ano inteiro,
vendendo em um carrinho,bijuterias.
Separa um sofrido dinheiro
para sua fantasia.
O zinco e o cobre é "jóia de ouro!"
prás moças faceiras de Corumbá;
mas quando chega o carnaval
e os tambores ensaiam na periferia,
tudo deixa de ser normal,
o Zé não e mais o das bijuterias.
É conde,ou rei,é barbaro ou cristão,
o brilho do Zé,muda é outro,
só de olhar já da gosto.
É brilho de rara beleza,
espalhado entre as rugas do rosto,
brilho cheio de nobreza.

É carnaval,na escola o enredo é de fé.
Alegria do povo e do Zé.
Quatro dias de pura emoção.
Na passarela desfila um só coração.

Em sua escola querida,
ele é sempre o grande destaque,
qualquer veste no corpo do Zé,ganha vida,
até um simples fraque.
Esse ano está diferente,
perde o posto o Zé Pechisbeque,
sobra só um lugar apertado no chão.
"Vou ser só um folião?"
Fantasiado de homem morcego,
sai sozinho na multidão.
Em seu peito,o conflito,a aflição,
esse ano não vai defender sua escola.
Cresce o som,o batuque da bateria,
o Zé não sentiu o pé que feria,
com o rasgo da sapatilha.
Sangra o pé do passista,
o vermelho no asfalto faz trilha,
o homem morcego abre os braços,ele brilha,
sua capa godê já flutua,
o negro cetim cheio de pedraria,
deixa à mostra os olhos.A boca sorria.
O brilho que eu vi não foi de bijuteria,
virou diamante nos olhos da histeria.

É carnaval,na esola o enredo é de fé.
Alegria do povo e do Zé.
Quatro dias de pura emoção.
Na passarela desfila um só coração.

O homem morcego tem bateria no peito,
sente dor,samba mais,dá um jeito,
da tudo que tem, do lado de fora,
seu amor pela escola tem passos perfeitos,
é destaque isolado,sem ala
que a pedra da Frei o seu dedo esfola.
Um grito na noite destoa do samba:
"Ha um homem morcego ferido no chão!"
É o Zé Pechisbeque,das bijuterias,
vendedor conhecido na periferia
que reinou muitos enredos na bela Império,
morreu no desfile,num ataque fatal,
na segunda noite de carnaval.
O sangue do Zé no chão derramado,
levanta a suspeita: Foi tiro? Foi facada?
O sangue que cai é do dedo esfolado.
A escola querida seguiu com o enredo
e, ninguem descobriu o grande segredo:
O homem morcego estendido ao chão
que a escola querida deixou na mão,
é o Zé Pechisbeque,das bijuterias
que esse ano não foi o destaque
mas deu para a Império o seu coração.

                           (ficção)