quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

DILUINDO...

Dez horas, amor. Onze...
O dia diluiu feito bronze,
se embrenhou no breu, se fez noite.
As estrelas no céu
são o que eu quiser.
Gotas de chuvas congeladas.
Redes que coaram o mel.
Bolhas de sabão vitrificadas.
Sereno no véu.
Sorrisos no espelho.
Pingentes de por do sol.
Diamantes plantados no universo...
Em meus versos,
em meus pensamentos imersos.
Eu só te peço,
seu olhar na hora marcada
prá tudo se juntar
no firmamento.
Eu, você, as estrelas.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

ENGRAÇADINHA

Hoje, acordei desigual,
com o pé esquerdo à frente,
boca aberta, sensual.
Hoje vou fazer diferente !

Vesti mini saia colante,
sandália prata, rasteirinha,
um top pink brilhante,
me senti a menininha !

O sol, lá fora, fugiu,
lançando faíscas em mim,
não gostando do que viu,
em meu dia  pôs um fim !

Cabeça baixa, descontente,
tirei toda a maquiagem :
"Sessenta ! Se olhe inteira, de frente !
É foi surto, sem noção essa viagem.


domingo, 25 de novembro de 2012

RECONHECIMENTO

Penso, que chegou o momento,
que chegou a hora,
de ir com um pouco mais de calma.
Saborear a vida simples
como doces pedacinhos,
aos pedacinhos.
Saber que gosto tem,
a visão do inesperado
que, o meu universo,
tem um lado duradouro.
Desejar, que o eterno
se confunda com o infinito.
Pensar, que posso dar
o meu dia de presente,
a quem só me inspira
e, é meu bem mais precioso.
Agradecer, que já nasci
com os pés postos na estrada,
indo de encontro
às manhãs de esperanças.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A PRÓPRIA

Aonde vais
com esses passos lentos?
Cuide,que a noite
já bate à sua porta,
parado aí,ela vai te encontrar.
A vela acesa,
só serve prá espantar.
Farol de milha,
só serve prá cegar.
A luz de amigos,
não dá prá emprestar...
Pare um momento,
tente se lembrar,
fixe o olhar
um pouco lá prá dentro...
Verás a luz
que vai te iluminar.

domingo, 11 de novembro de 2012

MUNDO DA LUA

Éramos tão jovens!
Não tínhamos idade,
dividíamos nossa identidade.
Tínhamos sabor de semente virgem
a ponto de explodir,de se lançar ao chão
e,procriar o amor.
Tínhamos um vagar para sermos brisa,
aragem,soltos,livres,inocentes,
se afagando,se tocando,se sentindo;
sendo um no outro,o outro no um.
Vinhas manso para o meu lado,
eu,ia sem cuidado para o seu lado,
como quem só nasceu para ser folha verde,
protegendo um botão,que será flor.
Não sabíamos de limites,
nossa janela se abria para o horizonte.
Não sabíamos do fim das coisas,
vivíamos desconhecidos do perigo,
sobre a linha que equilibrava
o nosso eterno e o nosso infinito.
Éramos feito o dia que nos desenhava tudo.
Éramos a própria noite,
brincando de se esconder na escuridão,
com sinais de luz no caminho
para o "João e para a Maria."
Tínhamos por destino,viver no universo,
em uma casinha de boneca,no final da via láctea.
Éramos nosso primeiro amor,
brincando de amar na lua.

GOSTAVA MAIS...

Gostava mais,
quando tu,eras feito de mata,
de rio,de chuva,temporal,de clareiras.
Eras o próprio relâmpago,
trovão, rugindo entre as estrelas do Pantanal.
Gostava mais,
quando teu canto era de força,de guerra,
de plantio,de colheita, de crença
e,te igualava aos bichos da floresta.
Gostava mais,
quando tua fogueira te guardava,
te aquecia,te alimentava,te iluminava
e,a fumaça ia de encontro aos teus espíritos.
Gostava mais,
quando teu cocar de penas te dava autoridade
e,aos meus olhos,um arco íris,
o mais belo desenhado na terra.
Gostava mais,
quando teu corpo nu
era pintado de coragem, da onça,
do bugio,do lobo guará,da anta,
do jacaré,da ariranha,da sucuri...
Quando teus pés descalços
abriam caminhos sem destruir
a natureza.
Gostava mais,
quando eras Atikum,Terena,
Bororo,Cinta Larga,Guarani,Guató,
Kadiweu,Kinikinawa,Ofaié,Kaiowa,
Xavante,Xiquitano,Guarani Kaiowa.
Gostava mais,
quando não sabias do Pai Nosso,
quando não sabias de mim,
de minhas crenças,minhas doenças,
de meu quintal cercado de ambição.
Não serás mais curumim,
cavaleiro,canoero,guerreiro.
Por que não te deixaram assim?
Fizeram de ti forasteiro em tuas matas,
sem arco,sem flecha,sem zarabatana,
sem oca,sem taba,sem tribo,sem etnia.
Sem chão.
Cobriram teu corpo de trapos sintéticos,
deram um nó em tua língua
e,agora cavam buracos para porem lá,
a tua história.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A MÃE QUE PARIU O MONSTRO

Posso ouvir os pássaros lá fora,
nessas manhãs em que quero me levantar.
Posso ver o temporal ao longe se formar,
vento manso vem primeiro me avisar
que a chuva vai enfim molhar essa secura.
Posso tocar deslumbrada a valentia
de uma florzinha singela,
sobrevivendo ao lado de uma estrada poeirenta,
alheia ao perigo dos caminhões,das queimadas...
Minha imaginação,me leva para qualquer lugar.
Minha solidariedade segue além de minha porta,
apesar de saber que é um grão em meio a tanta areia.
São coisas simples que eu sei.

Eu não sei de quanto tempo é preciso para que
o amor consiga vencer as diferenças no mundo.
De quanta paciência precisa para atravessar tantas barreiras;
se cada manhã,nos chega como um milagre,
como pode depois, nos atingir como um pesadelo?
O ódio só precisou de cento e dois minutos
para mastigar a minha crença no bicho homem,
causou dor de navalha,fez um buraco em nosso peito,
fez a gente sangrar,virou anjo vingador com espadas de aço,
atravessando concretos como se fossem papéis.
Tanta gente se perdeu...
Será que o amor está com a validade vencida?

Penso na mãe que pariu o monstro,
mais um em meio a tantos...

                                           (sobre o onze de setembro)


Cabe aqui algo que li em uma parede em Santa Cruz de La Sierra,
"Yo soy el hombre de la selva
perfume,
cântico y amor
pero encendido de relampagos
pero rugiendo de huracanes
yo soy um rio de pie."
                           Raul Otero Reiche

Apesar e tudo,seguimos adiante,os bons,fazendo o seu melhor para o mundo,a vida.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

DIAS DE CAÇA

De manhã,o som do rádio
espalha na praça,hinos nacionais;
somos peixes em aquários,
já não lemos os jornais.
Nada de "pega pega"à noitinha,
nossos pais nos repetiam jograis,
entre as letras da cirandinha,
havia fatos,histórias reais.
Tanta gente se perdeu,
naqueles dias e noites arbitrários,
tingiram de medo os sonhos meus,
minhas crenças,escondi em armários.
"Sou lesma,embaixo do cobertor
enquanto a lua explode no quintal",
a claridade indiferente á nossa dor,
deixava tudo,quase normal !
Conti o coração de menina
pois,a liberdade estava esmagada
mas,vi seu farol de neblina,
adentrando as frestas das barricadas.
De manhã o som do rádio
me diz que sou livre prá ouvir
o que quiser...

sábado, 3 de novembro de 2012

SÃO CAMINHOS

Andei sabendo
que me mandas beijos,
por um caminho
que não vou passar,
as nossas trilhas
desenham paralelas,
nossos horizontes
brincam de se encontrarem.
Levo no rosto
sinais de minhas perdas,
carrego um fardo
que só a mim não cabe,
aprendi, enquanto caminhava,
a equilibrar a dor
que em meu peito se abrigava.
Enquanto marco
o chão sob meus pés,
deixo prá trás
a minha solidão;
meus pensamentos,
já voam em liberdade,
abrem caminhos pela via láctea
e,aqueles beijos que você me manda,
serão estrelas antigas
que o tempo vai incendiar.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

EM ABERTO

Da beira do inferno
eu vi teu céu azul,
me puz toda de branco,
um quadro prá pintar.
Nem eras um Picasso,
viestes lá do sul
mas,tinhas uma magia,
de um rio,fazias o mar.
Estendi minha alma ao vento,
amanheci neblina
com seios de aconchego,
prá te guardar melhor,
das ruas veio a pressa,
com fúria de rotina,
um hábito já maldito,
cercou o meu redor.
Preciso de uma trégua
em meu interior,
ficar destino pronto,
inteiro ao seu dispor,
te ouvir em meu silêncio,
em meu lugar mais fundo.
É pouco o que desejo,
meu tempo mais quieto,
deixar fluir nas veias,
meu querer em liberdade,
saber que estou em aberto
saber que vais plantar
em meus braços o teu afeto.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

DO MESMO MAL

Se és pecado e segredo,
se és um sonho de outono,
se és esperança e medo,
se és perguntas e não respostas,
se és um jogo,uma aposta,
de quem tu gostas?
Vives em mim,nada te devo,
me enches o dia,me roubas a noite,
meu lado oculto,um doce vício,
és sacrifício? O meu ofício?
Não te plantei,não te colhi,
na superfície,no precipício,
grão debulhado na pradaria,
brotas em flor,faz um jardim.
Chegaste assim,de calmaria,
fora de rota,no chão mais raso,
antes do fim.
A fúria inútil,ajoelhada,
é estrangeira em seu local
e,até sorri da ironia,
sofres também,do mesmo mal?

domingo, 28 de outubro de 2012

APATIA

O dia escoa...
Um ensaio de mudança,
o corpo alcança
mas,a vontade dança,
sem música.
Não vem à tona,
não se aventura.
Será o calor?
Meu dissabor?
Um leve tédio?
Um verme instalado?
Preciso enfiar as mãos na alma.
Sangrá-la,
fazê-la andar,
me levantar.
Seguir com as horas.
Seguir com os dias.
A luz acaba
e,vem a noite
e,mais um dia,
amordaçado.
É só um trem
em movimento.
Sou estação,
mais recuada,
mais recuada,
          ecuada
            cuada
              uada
                 ada
                   da
                     a.

domingo, 14 de outubro de 2012

O SEU,O MEU

Seu amor se veste de acaso,
sai buscando qualquer uma,
dessas,que se encontram em esquinas,
usa,abandona,esquece,
apaga entre brumas.
Seu amor não cria raízes
na possibilidade da perda,
seu amor de vida nenhuma,
amor de bolina.
Meu amor se veste de luz,
une seu dia com a noite,
linha estendida,sem fim sem começo,
lhe cuidando,lhe velando,
quando seu mundo respira entre sombras.
Meu amor,pura emoção,
se afoga,se salva,se enxerga eterno,
fonte infinita,esvaindo
pelo centro,pelas beiras,
no descampado do peito.
Meu amor feito chuva,
amante indecente,sem roupa,
aguando no corpo inteiro,
diluindo seu concreto,
do céu prá terra,completo.
Meu amor puro fogo,
lábios quentes,afagando,
labareda incansável,se alimentando,
bela dança nos lados,no meio,no fundo,
nos nossos abismos,prepara colheita.
Meu amor me dá vida,
feito na minha medida,
ar puro brincando na alma,
entrando e saindo pela boca,
encontrando outras saídas,
sabendo que o coração é porta,
de entrada e de saída.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

"DOCES GUARDADOS"

Há coisas para guardar,
num canto doce da gente,
eu guardei os seus presentes,
quando dar,era tão transparente.
O meu olhar foi mudando,
as coisas se acumulando,
olhava tudo de longe,
de você,me distanciando.
Entrei num grupo de ajuda,
saí de lá com uma idéia,
de jogar tudo lá fora,
depois,escapar,ir embora.
Puz la fora a tv de 29 polegadas,
meus armários,meu sudário,
a geladeira,as peneiras,
as panelas,sua coleção de gravatas,
nossas datas,suas bravatas.
Minha pele de cordeiro,
o seu saco de moeda,
seu champoo anti queda,
sua inquisição,sua falta de atenção,
meus processos de procura,
sua cara dura,
seu risinho debochado,
meus jogos de dama e de dado,
seus remédios,o meu tédio,
sua vitrola,suas bolas,
nosso colchão de mola.
Joguei seu jeito de cientista da Nasa,
que só aumentavam  os buracos da casa.
Poupei minha máquina de costura,
prá remendar minha vida futura.
Poupei meu aquário,meu Veludo,
meu par de pés mais cascudos,
tenho muito que caminhar.
Poupei meus sapos de cerâmica,meu Buda,
meus livros,meu Neruda,
meu disco do Djavan:
"Amanhã outro dia..."

EXPERIÊNCIA AVANÇADA

Você me diz tantas coisas,
em seu silêncio,
coisas que não quero ouvir;
mas,mesmo assim,
eu faço planos.
Fico olhando prá você,
imagino fazer coisas,
uma experiência avançada,
com seu coração,meu coração...
Causar uma mudança.
Eu sonho,eu penso,
fazer um puxadinho,
enfeitado de carinho,
bem longe da tentação.
Talvez,até faça seu doce preferido,
uma torta de limão,
prá lhe prender pela boca,
já que está difícil,pelo coração.
Só quero estar com você,
longe de qualquer lugar,
não ter que disputar sua atenção,
com essas coisas do mundo,
tão donas de você.
Não posso lhe dar
objetos de última geração,
só tenho o meu amor,
que não cabe em caixa de presente.
É amor de imensidão.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

RASTRO DE JAGUAR

Aqui na planície alagada,
o jeito é bem diferente,
o tempo faz emboscadas,
testando a coragem da gente.
Poeira,fumaça na tarde,
reluz o reio no estalo,
o salgado da pele que arde,
tempera um café mais ralo.
O sangue estampa no céu,
vasos,veias e artérias,
mapas de caminhos ao léu,
no espelho da baía,em animada matéria.
Só o homem pantaneiro,
vida toda no cerrado,
tem coração estradeiro,
pulsando no chão amado.
O grito do velho vaqueiro
que leva a vaquejada,
alerta o companheiro,
prá cuidar da bezerrada.
O som distante do berrante,
me lembra a Ave Maria,
rezo por esses gigantes,
na luta por cada dia.
Em volta da bela fogueira,
fome e sede saciadas,
os causos,modas,besteiras,
conversam,com as solidões relaxadas.
Tudo se transforma em magia,
quando a chuva cai de repente.
Raios,trovões,ventania,
inundam a noite quente.
Quem nasceu nesse mundão,
cavalgou sob o sol,ouviu rugidos ao luar.
Quem dormiu sob as estrelas,fez a cama nesse chão,
sabe que aqui deixou seu rastro de jaguar.

ESSA DOR

Minha dor está presa no peito,
nas letras triste de um bolero,
nas rimas de um samba canção,
que no rádio ouço tocar.
Ela toca em meu coração.
Meu olhar perdido em um ponto,
não vê o cigarro queimar,
as pontas dos dedos da mão.
Essa dor cá dentro do peito,
às vezes,senta à mesa de um bar,
me espera em casa,no leito,
está em meu despertar.
Essa dor é só minha,
caminha sózinha,
não vai me deixar.
Faz minha vida boêmia,
me dá noites de insônia,
faz eu ouvir os meus passos,
me assusta em ruas escuras,desertas.
Essa dor cá dentro do peito,
faz poemas imperfeitos,
faz um blues tão sem jeito,
que eu quero cantar,
prá espantar essa dor.
"Trata com cuidado essa dor,
trata com jeitinho,
foi você quem a causou.
Está doendo,amor..."

terça-feira, 9 de outubro de 2012

VENTO

Vento que leva.
Vento de velas,de caravelas,
me leva prá longe.
Vento que encrespa
as ondas do rio,
vento de chuva,
que acaba com a festa,
que faz cachoeira
em velhos beirais,
me leva prá longe.
Encha meu peito,
ele se arrasta vazio,
me faz ser balão,
passear sobre a floresta,
nessa noite de verão.
Vento chicote,
nas ondas do rio,
faz minha canoa
dar salto mortal;
preciso saber
se ainda está vivo
meu coração.
Vento mais manso,
vento que é brisa,
leva até ele,meus pensamentos.
Bata na porta,avisa,
deixei na varanda
minha doce saudade.
Vento amigo,
meu companheiro,
embala meu sono
sobre as ondas do rio,
não deixe que o frio,
venha me despertar.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

MELHOR IDADE

Aprendi a dirigir
muito cedo,muito cedo,
minha idade era ilegal,
eu,de nada tinha medo,
me arriscar,era normal.
Pelas vias de São Paulo,
dirigia um carro velho
que pegava só no tranco,
empurrado por estranhos.
Eu sonhava com um Simca,
com um Simca Chambord.
Namorava escondido,
um brotinho da escola
mas,meu coração ferido,
amava quem não me dava bola.
Não havia internet,
toda livre,esparramada,
só conseguia chegar nos garotos,
com caderno de enquete
e,os bilhetes corriam soltos,
no Correio Elegante.
Ao padre não confessava,
meus pecados mais "medonhos",
a consciência abafava,
os maus pensamentos,nos sonhos.
Brincadeiras de ser gente,
cresciam dentro do jeans desbotado,
enquanto esperava de contrabando,
a Lee branca do Paraguai.
O meu sonho impossível era a Lee,
desejava muito, uma branca Lee.
Os tempos tão inocentes
voavam por baixo da saia godet,
os beijos eram roubados,
punham o sangue prá ferver.
Morava em uma vila comprida,
com o olhar abarcando a cidade,
à noite as luzes acesas,
pareciam  constelação.
Eu não sabia
mas,estava na melhor idade.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

LEIA EM MIM

Olhe bem ´prá mim,me veja,
não sou só carne viva
de um desastroso roteiro
que você,ajudou  escrever,
nu e cru.
Não fique de fora olhando,
como mero espectador.
Aproveite,me aproveite,
sou de extremos,
raio riscando o céu
em uma brincadeira de espadas,
nas caladas madrugadas,
antes de ser temporal.
Estou lhe dizendo algo,
me leia!
Há um corpo de palavras em mim,
querendo lhe dizer...
Há um medo animal
de ser escorraçada,tragada.
Acrobata diante de um cego
com medo de despencar.
Descubra a frase secreta,
siga a seta,
leia nas entrelinhas do corpo,
onde você,displicente, passeia.
Estou quase raiz longe da terra,
com certeza vou secar.
Está tatuado no lado esquerdo do peito,
que me perdoe Gabriel Garcia Marques,
"Te quiero no por quien eres,
sino por quien soy cuando estoy contigo",
é meu jeito de dizer, te amo!

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

LIBERDADE

Liberdade,
é uma roupa de festa,
colada ao corpo,
que uso prá passear,
em qualquer hora,
em qualquer lugar.
Meu corpo,muito maior,
se expreme dentro da roupa
e,atrai aquele olhar.
Eu me obrigo a retirá-la.
É minha melhor roupa de festa
mas,pouco uso
pois,continuo a engordar.
A roupa,guardei no armário,
algum dia hei de usar,
vou lutar prá emagrecer.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

SONHO

Sonhei com você,amor,
sonhei que me beijavas.
Éramos sombras na parede
que se desmanchavam entre cal,
filetes de vida,desaguando negro,
num vazio labirinto.
Indo e vindo do infinito,
indo atrás da aquarela,
da cor mais bela
prá colorir o nosso beijo.
Beijo de vida inteira,
beijo de amor,
saqueado,entregado,
faminto de universo,
de mim,de você.
Nossos contornos sumidos,
esvaídos,engolidos pelo beijo.
Sabíamos que íamos morrer
com o beijo
e,depois, voltar a viver,
depois, encontrar nosso início,
sermos dois em um,amor,
nunca ter lembranças,
nunca envelhecer.

DÚVIDA

Seu coração bate por mim,
ou bate prá sobreviver?
Qual silêncio
prá descobrir a resposta?
O silêncio de hospital?
O silêncio de capela?
Fico esperando
qual resposta me atingirá
como um soco,
aqui do lado de fora.
Esperando
uma única resposta.
Depois,
vou entrar em minha casa,
vou fechar minhas janelas...
Um minuto só,um minuto mais,
vou primeiro me alimentar
de paz prá te encontrar,
se não,também perco o chão,
pois já está perdido,o coração.

sábado, 29 de setembro de 2012

RETALHOS

O cavalo bravo,
solto no campo,
é como sinto meu coração.
Some na curva,
arrasta as horas,pinoteia o dia,
vai para longe do casarão.

A tempestade
traz uma liberdade
que o corpo pede,quer se molhar,
quer diluir toda tristeza que há no olhar.

O sonho bom
traz de bem longe o despertar.
porteira aberta,deixa passar,
o mal me quer na sua voz,
é labareda,queima veloz.

A flor da idade
quer válvula de escape,
quer bichinho prá amestrar,
quer um momento prá desbravar,
acha tudo um tesão,tudo sofre o coração.

O curral de Deus
de onde avisto
é feito de retalhos.
Salinas,baías,ilhas de buritis,
ninhal,capões,canto de bem te vis,
pintadas,cervos,tuiuús,araras,jacarés,
cheias,vazantes,corixos,Mar de Xaraés.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

NOSSO VELHO AMOR

O nosso velho amor
se aquece ao lado do fogão,entre panelas,
se enxerga com lampião,à luz de velas,
divide silêncios que matutam
sobre causos que escutam.

O nosso velho amor
anda à noite descalço,de pijamas,
depois,tranquilo,deita em nossa cama,
esperando a manhã nos acordar
e com coisas simples,poder lidar.

O nosso velho amor
cuida um do outro,o bem amado,
tem um sorriso doce,perdido no passado
que sonda de esguelha,encontrar
no outro,igual olhar.

O nosso velho amor
possui uma luz que rompe o escuro,
é semente de um fruto doce,maduro,
é sua mão procurando a minha
quando o medo de nós se avizinha.

O nosso velho amor
é um tesouro por nós encontrado,
é um suspiro,um caminho,um obrigado!
É o encontro de almas na estrada
prá morar na terra prometida.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

MEU DESABAFO

Hoje estou aqui prá desabafar,
prá reclamar desse cotidiano
de dragões para alimentar,
meu roteiro de todo ano.
Estou sempre subindo degraus,
de uma escada infinita;
dragando areia para as naus
mas no fundo há pedra brita.
Criamos ratos tão nobres
que,não aceitam o porão,
eles nos mantém felizes e pobres,
em filas,esperando o sopão.
Quando o vento uiva como cão,
derrubando nossos telhados,
esse reino não estende a mão,
prá secar nossos molhados.
Fazemos escolhas qual roleta
mas,já perdendo de saída,
de terno está o capeta,
com a honra já puída.
A ciranda,cirandinha,
só na roda não faz a conta,
milhões saem da varinha da fadinha,
para o cofre das cuecas.Que afronta!
Tô sem dinheiro,sem cultura,
sem jardins,sem sombras no meu passeio,
o lixo vai cobrir minha sepultura
e,a saúde está morrendo sem asseio.
Prá que ler na mão a sorte,
se já sei o futuro da boiada?
Muitos serão carne de corte,
outros tantos,terão uma casinha caiada.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

EVA

A inocência de Eva
foi para as ruas,
deu por falta do destino,
preso num cigarro aceso,
que a fumaça levou embora.
Eva plantou na esquina,
sua necessidade de respirar,
se embriagou de paixão,
se exibiu com suas plumas.
Só pensava em voar dalí.
Eva não conheceu nenhum Adão,
pai, irmão, amigo...
Tem por protetor,um cafetão.
Eva juntou garfos e facas,
pôs sua beleza na mesa,
uma ceia quase bíblica
e, se serviu no jantar.
Eva se sente cansada,
entre as molduras de vitrines,
está virando alvo dos inúteis.
Tomates,ovos,atirados ao seu redor,
deixam seu mundo pior.
Quando o dia aparece,
mostra Eva alisando livros,
comprando sapatos,roupas bonitas,
perfumes caros,pentes de ossos,
prá pentear futilidades externas.
Sua cara continua pintada,
precisa chamar atenção,
esconder a cicatriz que faz contorno
em seu olhar,em sua boca,em suas mãos.
Eva está com a validade vencida
e,não aprendeu inglês,nem português,
só a lingua que "ela fez",
perto de um chão de privada.
Foi assim que deu entrada,
na calçada da infâmia.


domingo, 23 de setembro de 2012

LÁ FORA

Minhas noites complicadas,
têm insônia,desalentos,
não dormem,ficam acordadas,
vão passando a passos lentos.
Cada dia chega largo,esparramado,
dono de todo lugar,
o meu mundo fica estranho,pesado,
se encosta onde dá prá descansar.
Já levanto renunciada,
pingando lerda,minha vontade,
minha manhã ludibriada,
não vê que a noite ainda me invade.
Esse tempo de céu baixo,
impede a solidão de ir embora,
com ninguém eu me encaixo,
o que busco está lá fora.
Meu espaço está estreito,
com portões que não se abrem.
Mesa,tv,sofá,meu leito,
arrumadinhos,de nada sabem.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

ONTEM

Ontem,tive um dia de simplicidade
que descansou na rede da varanda,
adormeceu ,ganhou mais um ano de idade
e,enfeitou os cabelos com guirlanda.

Ontem,ganhei da vida algo moço
quando já estava perto de morrer,
minha alma fluiu,em alvoroço,
me encontrou,me encantou,voltou a me ver.

Ontem,aceitei com prazer sua mania,
de me por no colo,me morder a nuca,
depois,enquanto sua boca meu beijo comia,
meu corpo arrepiado,sentia uma febre maluca.

Ontem, você tocou minha paixão,
como se tocasse um violão,
do toque surgiu uma canção.
Eu vou ouví-la à sós,com o coração.

Ontem, você me trouxe dezenove rosas,
cada uma de uma cor diferente,
espalhando-as pela casa,bem formosas,
diziam-me o tamanho do amor que ainda sentes.

Ontem, adormeci mais cedo,
com o vento de tocaia
querendo me contar um segredo:
você me abraça quando minha lucidez desmaia.

SEU DESTINO

Vem me conhecer.
Queira me querer,
eu não sou de marte
e, não sou de morte;
sou seu segundo à parte,
que você pode desperdiçar,
inteiro,à porta da frente,
aguardando seu sinal para entrar.
Enquanto estou aqui fora,
vá juntando suas coisas,
dê um jeito onde você mora,
me dê todos os motivos
mas,seja muito criativo,
para eu querer ficar,
para conseguir me prender,
prá sempre juntinho a você.
Porque,meu bem, eu não consigo,
fazer visita à toa,
nem prá fugir da fria garoa,
que insiste em me molhar;
prá mim essa chuva fina
é apenas uma cortina,
a nos separar .
Não quero mais brincar de esconder.
Enquanto você se esconde,
eu insisto em me mostrar.
Não tenhas medo assim,
foi a chuva que fez um borrão e mim.
Eu sou só um verso repentino,
um sonho antigo em sua memória,
quero me fazer seu destino,
deixa eu escrever nossa história.

domingo, 16 de setembro de 2012

PELE ABERTA

Às vezes,os meninos de minha rua,
botam as horas em fios,
só para vê-las passarem,
assim,bem coloridas,empinadas,
bandeirolas tremulando ao vento.
Fazem sombras deslizantes
em meu quintal,
eu passando,fico a olhar...

Às vezes passo um fio,
no buraco da agulha,
vou remendar a alma rasgada,
que do corpo quer sair.
Faço pontos bem sumidos,
esse corpo ainda dá de usar...

Às vezes, no entardecer,
vejo soltos,vários fios de sangue,
na pele azul do céu, retalhada.
Pele aberta e sangue que não escorre.
Um fio separa o sol do rio,
tá inundado de dourado,vai se afogar.
Meu olhar alucinado,
não poderá o fio salvar.

sábado, 15 de setembro de 2012

HOJE NÃO QUERO FAZER UM POEMA

Hoje não quero fazer um poema,
porque meu coração não me deixará sair ilesa,
só me trará mais um dia de tristeza
quando já há tantos que me entopem as veias
e,vão me matando aos poucos.
Hoje não quero o sol,não quero a chuva,
nem as estrelas no céu.
É noite,estou reclusa,do mundo expulsa,
uma inquilina que não pagou aluguel,
implodida de modo cruel,
cordeiro imolado para o nada existir.
Hoje mataram a minha inocência,
a infância e,o seu correr livre pelas ruas.
Mataram a esperança que me brotava sem aviso.
Hoje,o ódio e a ignorância se juntaram,
fizeram cadeias dementes,
regaram as sementes com sangue.
Hoje perdi a palavra e a substância.
Hoje sou duas mãos vazias em prece
mas não consigo rezar,a oração não me aquece.
Hoje uma bomba explodiu no reinado da dor,
onde sou morador.


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

SÓ OLHAR

Enquanto eu te esperava,
o tempo bateu à porta,
pronta eu não estava.
Enquanto eu te chamava,
as horas já estavam mortas
e,tudo perdeu o sentido.
Minha voz cobria o silêncio,
tapeava uma solidão desconhecida,
que se mudou pro meu quarto.
Lá fora um dia arreganhado,
invadia espaços com sombras.
Feixe de luz entre frestas,
me caçou e me encontrou,
atingiu em cheio a pele,
quando eu me encontrava nua,
vagando dentro de mim;
muito além do corpo,
do contorno de tudo que se fazia ser ,eu.
Você me deixou no escuro
e,eu soube aproveitar;
apurei o meu olhar.
Agora,passeio na noite,
de mãos dadas com meu coração,
palmilho cada emoção,
conheço o seu destino.
Sobrevivo cheia de cuidados,
pois meu caminhar
ainda está fragilizado.
Sabe,amor?
Estou indo em direção ao horizonte,
o passo vai devagar,
talvez encontre uma ponte.
Marquei encontro com o sol,
naquele ponto distante
onde ele se encontra com o rio
antes de adormecer.
O que eu quero?
Só olhar.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

DEDO NO DESTINO

A folha era de manga,
sózinha,não tinha o resto.
Seca,retorcida,cor apagada,
tinha um jeito de queimada.
Não precisava do sol.
Não precisava da chuva,
vinha em direção ao chão,fatal
mas,no meio do caminho,o varal,
a folha se salvou,no varal se agarrou.
Ficou ali pendurada, jeito de trapezista,
domando o vento,equilibrista,
espetáculo que o tempo ajudava mostrar.
Não pus dedo no destino,
apenas a cercava com roupas
que punha pra secar;
com o tempo,a folha o varal,
prá mim ficou invisível,normal,
tinha mais o que fazer.
Julho,mochila nas costas,
me botei no Vale Sagrado,
agosto,quente, atribulado,
me cercava de água e vento
e,esqueci da tal folha.
Setembro me pôs mais sensível,
num dia vi algo incrível,
a folha virou um casulo,
pendurado em fio de seda!
Não pus dedo no destino.
Nem o sol quente impediu
o que saiu pelo ralo,
algo gosmento, sem cor,nada belo,
balançando perigoso no ar.
O assombro não me poupa,
era um inseto mudando de roupa,
em que festa vai dançar?
Sonho impossível,secreto,
a folha de manga escondeu,
não se juntar às iguais,
de ser só adubo no chão,
não quis esse fim banal.
Em sua queda mortal,
entre o chão e o infinito,
encontrou aquele varal
e,aí se agarrou...
O universo conspira,
muda o destino da folha,
sem saber vai ser o ventre,
guardar um tesouro na bolha,
uma sina mais que perfeita,
dar a luz a uma borboleta
e,só depois,feliz, morrer.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

OUTRA VEZ SETEMBRO

Penso que a noite virá,e eu vou ter um sonho bom,
estará prata,menos escuridão.
Encontrarei mais fácil o caminho de volta,
verei a menina que fui e,o que estou agora.
Estou sim,pois,graças a Deus,não me encontro pronta.
Cada segundo o meu jeito de olhar para as coisas,muda,
para melhor,eu acredito.
Não estou pronta,há sempre algo para refazer
e,eu aceito me refazer.
Inacabada,só assim,tenho certeza de que continuo viva.
Nesses dias de setembro,desejo mais do que ser a sombra
que só acompanha um corpo,rasteira,calada.
Nunca alcançará as alturas.
Eu quero viver o me resta, nas alturas.
Sonhar mais,criar mais.
Ter a emoção à flor da pele,
ancorada em uma fina linha que não a delimita,
mas que serve de apoio, prá ela se arriscar mais
em busca do novo e que venha o novo.
Sinto que nesses dias,meu tempo passa mais rápido,
só que,o tempo teve tempo de me dar o presente
enquanto passava,passou,passado!
Que louco isso!
Por isso é tão mais fácil me ver inteira no passado,
sentir de como a lucidez judia da gente,pois,lembra demais...
Nesses dias ela anda falhando,retalhando minhas lembranças,
deixando-as soltas,aos pedaços,guardadinhas num cantinho meu
prá que eu possa juntá-las na memória,num outro setembro.
Setembro me faz ser mais doce comigo,ser mais amiga,me perdoar,
até do desejo de querer ficar mais um pouco aqui,
nesse conturbado mundo,como uma semente alada.
Voando...Planando...Voando muito entre prédios,pessoas,
rios,matas,montanhas,praças...
Poder estar mais perto das estrelas e, só depois pousar
num tapete de flores para me plantar,  nascer flor
e,enfeitar meu outro setembro que virá...

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

ACOLHE MEU CORAÇÃO

Não sinto magia no ar,
sensação que vivi até ontem,
talvez seja obra do acaso,
ou, talvez da solidão,
que a saudade caminhe comigo.
Perambulam todas as lembranças,
num movimento constante,
tonta saio à rua,
quero trocá-las pela noite sem lua,
jamais por outra pessoa.
Enrolada em agasalhos,
caminho tiritando de frio,
atrás de alguma  porta secreta,
deve ter algum  calor;
mas a vizinhança  tem fome
e,come sem qualquer distinção,
e eu, sou o prato do dia.
A curiosidade devora,
todos meus ais,meus porquês,
recheios de minha história.
No céu,que o outono acinzenta,
algumas luzinhas tremulam,
o meu frio já as alcançou.
A dor extrema às vezes se vai,
não morre,só empalidece,
doente de tanta dor que sente...
Caminhando em meio ao frio,
prá gelar a tal saudade,
ainda a ouço baixinho,
entre os sussurros da noite,
"acolhe meu coração,me dê abrigo,
aqui fora está frio".

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O AMOR

À primeira vista,
o amor veio simples,desconhecido de mim.
Achou uma fresta,entrou sem pressa
e,me encontrou descuidada, de mim.
Um doce amargo invadiu meu ser
e,lá se acomodou.
meu dia a dia normal,arrumadinho e certo,
ficou bem perto de se desarrumar.
Veio junto uma alegria desmedida
que me fazia sorrir,
veio uma dor sem motivo,
mal agouro,pessimismo
que me fazia chorar
e,se uma calma chegasse,
trazida pelo seu olhar,
um sobressalto no peito
inundava tudo ao redor.
O amor trouxe com ele,
uma ternura prestativa
que cuidava de você,
um ciúme,um medo dissimulado
que sondava seus segredos.
Trouxe o medo maior que tudo,
o medo de te perder.
Ainda não sei definir o amor,
prá mim,foi como um riacho,
claro e raso,onde podia me banhar
mas,também foi como lâmina,agulha,faca,
que me fazia sangrar.
Com certeza um tiro certeiro
pois,a bala carrego aqui dentro,
ela me faz morrer todo dia.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

UM PEDAÇO DE PÃO

Nesse canto da cidade,
há um quê de solidão,
atrás das janelas com grades,
nem o céu está à mão.

Fico dormindo até tarde,
me distanciando das horas
mas,o tempo passa,ele age,
dá suas voltas sem demora.

Estou sempre atrasada,
nessa corrida sem fim,
eu me perdi na estrada,
traçada dentro de mim.

Às vezes,chego tão perto
de encontrar o caminho
mas,vejo um abismo coberto,
dentro, meu sonho com espinhos.

Cativa no tempo,confusa,
sem você no coração,
só, uma saudade reclusa
que pede um pedaço de pão.

domingo, 26 de agosto de 2012

A BOCA... O BEIJO

Não foi um beijo carnal,
lascivo,sensual.
As salivas,a maciez...
Havia uma timidez.
Não encontrei a boca,
a que esperava.
a boca de salva vidas,
chantilly, suflê,gelatina,
de gosto doce,macio.
A boca era fina.
A boca era um rasgo.
A boca era um talho,
duas cartas de baralho.
Um mergulho,a procura...
Alcançei um terreno anormal,
meio sublime,celestial.
Flutuei,saí do chão,
sem começo,meio,fim.
As lâminas da guilhotina,
me fizeram perder a cabeça,
pedaços leves,entre estrelas,
se jogavam de ponte levadiça,
caiam na areia movediça...
Quando voltei a mim
só vi seu olhar cheio de preguiça.

sábado, 25 de agosto de 2012

A EMOÇÃO

A emoção é algo incerto,
é algo perto a lhe espreitar,
lhe tira a fome lhe consome,sem saciar;
lhe arrasta a esmo,sem desgastar.
Vira pessoa,um bom sujeito
a lhe acordar.
Está oculta ou bem à vista
mas se há pistas,vai despistar.
Talvez é verbo,quer conjugar,
ou,só palavra prá se identificar.
Vive na flor,entre as coxas.
Vive no abismo,bem vertical,
tem queda livre,não é normal.
Abalo sísmico no vão do peito,
crime hediondo,quase perfeito,
cena do crime,surge no olhar.
Vive na beira num fio estreito,
no grito agudo a ecoar.
É um chicote que vai surrar,
lhe dobra todo sem lhe quebrar;
água invasora,foge do leito,
vem de repente,sem um controle,
se acalma aos poucos,só esperar.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

BEM

Pele de seda,hidratada de manhã,
parece fácil,parece fútil
e,tão inútil na minha idade.
Água de rio,de cachoeira,
água de bica,tão natural!
é natural meu despertar
na madrugada,belo silêncio.
Café quentinho,bem forte e doce,
antes só fosse um compromisso
prá caminhar ou, trabalhar,
mas,esse momento peguei prá mim.
Noite tão boa,noite tão longa,
dá uma preguiça de levantar,
eu quero mais é descansar.
Eu só quero me sentir bem.
Erguer os braços,olhar para o céu,
um rodopio,talvez dançar,
ou só cantar aquela canção.
Voltar lá atrás meu pensamento,
me ver de novo,meus vinte anos.
Eu só quero me amar de novo.
Eu só quero me sentir bem
e, ter caminho prá caminhar.
Saber que posso por nos meus pés,
meu tênis velho,a calça jeans,
batom vermelho,sem preconceito;
botar na moda o meu conceito,
ainda há tempo de me enfeitar,
pois eu só quero me sentir bem.

domingo, 19 de agosto de 2012

SOLIDÃO

Solidão.
Deixei de brigar contigo,
jogar na tua cara o meu sorriso,
puro despeito por te encontrar inteira,
soberana em teu reinado de única súdita.
Deixei de te estampar bem colorida,
mudando tuas vestes cinzas,
nas escritas em meu caderno.
Joguei a toalha mas, não apaguei o fogo,
ainda és brasa,és tição vivo,
ardendo lento em meu coração.
Deixei de pintar minhas telas,
eram portas abertas,janelas
por onde eu podia passar.
Jazem agora em saco preto,
num buraco qualquer;
sem as cores,
sem os sonhos prá me encantar.
Deixei que o silêncio
enrrodilhasse minha garganta,
sufocando meu presente.

Solidão.
Não falo mais,não mando nem sinais.
Não divido conversas prá marcar meu lugar.
Não sou mais festeira,até fiquei solteira,
expremi na peneira meu desejo normal
e,piso macio nas sombras vadias
que vêm me assombrar.
Fiquei invisível e imprevisível.
Virei a poeira sem lugar prá assentar.
Fiz de minha vida uma cela,
eu,animal prisioneiro ferido,
num vai e vem acuado,
adiando a chegada da noite,
espreitando esbugalhada a visão do dia;
tentando ser restrita ao seguir teu destino.

sábado, 18 de agosto de 2012

PIMENTA MALAGUETA

Eu sou tão verdinho,
você,pimenta malagueta,
que queima em minha boca,
faz de minha vida uma roleta.

A emoção mais pura
se joga em minha cama,
o meu mal,já não tem cura,
enquanto arde,no corpo se esparrama.

Você me deixa feliz,
indolente,incapaz,aprendiz;
um relógio sem ponteiro,
um barco sem timoneiro.

Não peço amor de história,
nem soturno,nem preguiçoso,
só quero ter na memória,
seu vermelho cobiçoso.

AGOSTO

De mãos dadas,confiante,
fui atrás do dia
que me mostravam seus olhos.
Sob os pés,muitas léguas prá andar...
Andei,andei,
não dei conta de chegar
e,os meus dedos se juntaram
com o pó desse lugar.
Você ficou pelo caminho,
encantado com a paisagem,
entre as árvores retorcidas do cerrado,
ganhou sua forma,
não quis mais caminhar.
Sua sombra se alongou no caminho,
virou assombração,
virou espantalho,se juntou ao chão.
Eu? Indo... indo...indo...
fui fugindo do desgosto.
Era agosto.

QUADRADINHO

Dou ao desmedido amor,abrigo,
uma casinha de sonhos na montanha.
Dou carinho,atenção,aceitação de amigo
e,uma paixão que na cama se assanha.

Um caminho como linha sinuosa
entre vales,desenha meu sossego,
branca cerca, circunda cuidadosa,
a esperança,tremulando no aconchego.

O amor vai se calando,ganha cotidiano.
Ganha necessidades,talheres e louças.
Ganha viagens pelas cortinas de pano.
Ganha mágoas que surgem como poças.

O amor vai perdendo sua imensidão,
vai ficando comedido,certinho,quadradinho;
fica tão pequenininho,que sai pelo portão.
Vai atrás de um outro ninho.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

SIMPLES E COMPLICADO

Preciso dizer a mim mesma,
prá que eu possa ouvir:
Acabou,preciso deixar você ir...
Não dá mais prá carregar
o peso de sua partida,
com você ainda aqui.
Não dá mais prá acordar só
e,ter que me levantar duas,
uma que caminha léguas,
a cada passo que dá,
outra que não consegue
atravessar a rua de casa
pois,se vê nua,sem você.
Estou a descoberto,
sinto falta de seu abraço,
de caminhar ao seu lado,
de ver o lado sul das coisas,
de você ser o meu norte.
Não esqueça o meu gosto,
aceite a sorte
de que o sorriso em seu rosto,
pode me iluminar.
Não faças de mim,
apenas o vento,
passando em sua vida,
varrendo lembranças,
desatando os laços,
de um jeito banal,simples.
Eu não consigo aceitar
de ter que  lhe deixar ir,
ficar sem você...
Há em mim o conflito,
de lhe querer feliz
mas longe de mim?
É complicado.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

MENINA

Menina,
o seu rebolado
está com mal olhado,
se mostra escancarado,
já saiu da roda,
já ganhou as ruas,
já entrou na moda,
está de pernas nuas
e,nem a ciumenta lua,
quis alumiar.

Menina,
sua saia rodada,
pensa que é balão,
vai alçar o võo
sem sair do chão;
faz linda estamparia
com o entardecer:
menina és puro fogo,
o sol quer calmaria...
se afoga lentamente
ao se banhar no rio.

Vai juntando gente
na conhecida ladeira,
o suor que brota,
respinga na calçada de pedras,
fazendo bordados
de mulher rendeira.
É diamante líquido
na pele curtida
do negro batuqueiro;
a menina em transe,
tem paixão,seduz
e,o povo enfim respira
na ladeira Cunha e Cruz.

PUNHAL

Meu amor pede silêncio
prá acontecer.
Quer toque de mãos,
quer olhar de paixão,
quer o céu na boca,
juntar delicadesas
em ponta de língua
ao abrir caminho,
para o beijo mortal.
Meu amor pede cuidados
prá sobreviver.
Quer olhar amoroso,
quer mimos inesperados,
quer volúpia em dose certa,
quer lençol de cetim escarlate
envolvendo a pele sangrada,
que foi arrancada
durante a paixão.
Meu amor pede luz
prá se ver melhor,
mas se a escuridão
esconder nossos corpos,
continuarei calma
pois,meu amor ama com alma,
velha e aprendiz de muitas vidas,
atravessou muitas cortinas
de esperança e medo.
Meu amor ganhou levesa e eternidade,
antes de se abrigar em meu corpo,
se enterrar em minha carne,
num canto quente púrpura.
Meu amor virou punhal,
cravou-se em meu coração
e,não se pode arrancar.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

FORA DO LIMITE

Andei um tempo
praticando a arte
de ser infeliz,
consumindo a dor,
de modo suspeito,
até sob a luz do dia.
Andei um tempo
fazendo programas
insanos
mas,que me matavam
de tédio,
entre intervalos
de lucidez.
Andei um tempo
beijando a morte,
de um jeito promíscuo,
como se beijasse rosas
no altar,dos sonhos
de alguém.
Andei um tempo
matando a inocência,
em minha própria versão:
sorrindo,sendo feliz,
não dando conta
do que perdia.
Andei um tempo,
deixando apenas
o tempo passar
e,ao passar,
ia me espancando
a pele.
Quem sabe nasci
prá apanhar?
Andei um tempo,
sobrevivendo
num canto do oeste,
onde todas as pestes
queriam se encontrar
e,nem mesmo a fronteira,
pôs limites no lugar.

sábado, 30 de junho de 2012

LUA

Lua,
hoje você apareceu
com olhar de peixe morto,
estavas minguando
entre nuvens escuras.
Estavas fria,
mesmo assim,
seguistes teu caminho,
como quem houvesse  lido
o destino,
em mapa astral
e,cheia de si,
tivestes certeza que serias
eterna rainha.
Ainda que sejas invadida
e acabem com a doce miragem
de tua paisagem,
que só os enamorados
conseguem ver,
continuas crescendo em meus olhos.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

CHUVA

Hoje o céu acordou chorando,
um choro bem mansinho.
Soluços saiam quietinhos,
mas depois foi só desespero,
o choro inundou o lugar.
O dia foi ficando triste,
semicerrando as cortinas,
nublou até minha esperança
de um dia melhor surgir.
Eu,que já estava calada,
tentava pregar um sorriso
no rosto todo fechado,
bem diante do espelho.
A propaganda tão falsa
de uma felicidade aparente,
não convenceu nem a mim
e,me pus a chorar;
sem ninguém prá me abraçar.
A tempestade do peito
inundou a minha casa.
Apesar de ser em vão,
meu coração fez discurso,
querendo me acalmar;
mas a tristeza  maior,
ganhou espaço na chuva,
me fez chorar mais e mais...
Dentro de mim o oceano,
cobre buraco profundo
e,a fonte que o alimenta,
vive de desaguar,
prá não me afogar na angústia,
de uma inundação cá no peito,
eu me ponho a chorar.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

AMÉRICA

O sangue que corre nas veias,
serpenteia a Cordilheira,
abre fendas traiçoeiras
prá chegar ao coração.
Há vale aberto no peito
e,se mostra sagrado.
Há ilhas do sol no olhar
e,eu vejo o Titicaca,
sinto que é você
pois eu vejo o seu azul,
o mais puro azul royal,
sob um céu de puro anil,
sem,azul jamais o ser.
Há lagos tão verdes esmeraldas,
que me enganam o olhar,
é um verde que não está lá.
Há desertos tão perfeitos,
postados no espelho de Marte,
é laranja,é uma febre que ataca,
me ata,em pé,na cama,
de noite,no frio,
de dia,ao sol.
É místico,é árido,
é mágico o seu jeito,de Atacama.
Fica seco o meu olhar,
quando diante de ti,estou,
me deixas com falta de ar,
me levando às alturas,
me sinto até mais pura.
Há Salar e, o tempero de cozinha,
vai sobrando no lugar.
Tudo branco e, no branco,eu sozinha,
e, um vulto no horizonte;
não colhas frutas por lá,
nada é doce,é puro sal.
Há um Continente glacê,
e,eu quero me lambuzar.
Há um cerrado alagado,
e,eu quero me banhar;
no meio de tudo uma rede,
e,eu quero me balançar.
Há vida sofrida,esquecida,
nas cumeeiras da América,
meus pés andaram por lá,
e,algo me aconteceu,
plantei saudade castelhana,
em coração brasileiro.

                                     

ASSOMBRADO

Tento encontrar um jeito,
apenas,seguir adiante...
O corpo apresenta defeitos,
anda muito desgastado
e, me derruba por instantes.
Eu não me perdoei
de pecados que surgiram do nada,
de culpas que brotaram em mim;
de onde vêm,eu não sei,
talvez,nasceram comigo,
ou,simplesmente me cairam no colo
e,pesaram em meu peito.
Eu não tinha riqueza em ouro,
eu só tinha o seu amor.
Ele me alimentava a alma.
Ele me trazia a calma,
como se noites quietas
que adormeciam os bichos,
voce fizesse acontecer.
Vinha desse amor a proteção,
como um barco ancorado no cais,
que fugiu da tempestade.
Era seu braço e o abraço
que me juntava lá dentro,
dando minha direção...
Cada dia sem você
é como sonho secreto arrancado,
é como esperança abortada,
é como destino sem planos,
é como corpo sem alma
tentando sobreviver.
Quando a noite me cerca
e,a escuridão me cega,
meu coração assombrado,
vê o que não está mais ali,
seus olhos brilhando,vagalume,
vagando sem me enxergar.

MATEI A FLOR

Faltou atenção para a flor.
Faltou olhar com amor.
A veia d'água salgada
foi chegando à raiz.
Faltou ponta de dedo delicado,
à terra,em volta da flor,
o seu vermelho despetalado,
foi se abrindo sem paixão.
Inerte,ao chão espalhada,
murchou sob o sol,esquecida,
só a terra a amparou condoída.
Não fez tapete no gramado
pois,o verde já estava manchado;
nem beija flor assanhado,
um beijo lhe deu,na aflição.
No caule desorientado
que o vento deitava sem dó,
um botão desmaiado,
não deu conta da desgraça,
não vingou,, o solitário,
não recebeu a graça,
naquele canto da praça.
Cada dia que atravesso,
nem a mim mesma confesso
se,o amanhã vai me encontrar...
A dor que trago no peito
que,me mata bem devagar,
trouxe com ela um defeito,
o de contagiar o redor
e,me faz sentir pior.
Minha dor alcançou o jardim;
matou aquela  flor, por fim.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

O RIO

À tardinha, o descanso,
o olhar fica mais manso,
morre o dia com preguiça,
um convite que atiça,
a paixão que não sacia,
Rio Paraguai e o sol
fazem bela parceria...
O contorno não tem rosto,
na paisagem está posto,
a canoa,o canoeiro.
O meu olhar trapaceiro,
vê a estátua de bronze,
repousada no dourado,
sobre a lava desmaiada,
na superfície do rio.
Do banco, no cais do porto,
minha lembrança é um broto,
crescendo no coração;
corre livre,ligeira,
refaz de olhos fechados,
as belas curvas do rio.
As águas que chegam à margem,
num vai e vem espraiado,
é o jeito mais que perfeito
do fazer amor no leito,
do gozo chegar  à beira.
A areia se mostra lisinha,
a areia se mostra branquinha;
ao esticar meu olhar,
sigo os camalotes
que passeiam feitos buquês,
enfeitando o grande decote.

terça-feira, 22 de maio de 2012

NÃO DEIXE DE CANTAR

Não deixe de cantar
ainda que sua voz,
tenha se perdido,
entre a fumaça de seu cigarro.
Não deixe de cantar
ainda que a angústia,
trinque sua garganta,
deixando rouco seu peito.
Não deixe de cantar
ainda que  a noite roube seu sono,
ainda que seu dia se arraste
perseguindo um grande final
e ele não chegue.
Não deixe de cantar
ainda que seus sonhos,
tenham dado um tempo
e,estejam a serviço
de seu pão de cada dia.
Não deixe de cantar
ainda que seu velho violão
esteja esquecido, arranhado,
encostado num canto inútil
da parede de seu quarto.
Há cordas, há acordes,
seus dedos encontrarão o toque,
uma canção esperará por você.
Não deixe de cantar
ainda que eu não esteja aqui,
saiba,e vou te ouvir,
eu vou sentir a ternura em sua voz,
eu vou sentir a saudade em sua voz,
eu vou reconhecer o amor em sua voz,
de alguma forma você me fará feliz.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

A CIDADE

A cidade tem um ímã,
ela vai te atrair.
A cidade está armada
e,aponta prá você.
A cidade virou monstro,
ela vai te engolir.
A cidade está inchada,
não consegue caminhar.
O seu corpo se esparrama
em uma linha horizontal,
suas garras são bem finas,
armadilha vertical.
O seu chão está blindado,
não ter verde é normal.
O seu céu ficou finito,
está cinza-esquisito.
O seu sol se revoltou,
quer queimar a sua pele.
A sua lua só confunde,
parece ser lamparina,
já perdeu o seu mistério.
Não és mais tão romântico,
não és mais tão crédulo
e,se você surgir à janela,
vira notícia,é novidade.
Olhar prá quê ?
Olhar prá onde ?
Seu horizonte é de concreto
Sua solidão tá enquadrada,
Sua  identidade tá sucumbida.
Mas...A verdade mais lambida
é que você se acomodou.
Você se encostou.
Você estacionou
no horário nobre,
se empanturrou de pipoca
e, só engorda,só engorda,
só engorda a cidade.

domingo, 6 de maio de 2012

O SEU BEIJO

O seu beijo
veio com um silêncio de morrer,
eu mal vivia
o meu respirar.
O seu beijo
veio nu,usurpador,
se aproveitou,
quando acabou,
deixou minha boca em nenhum lugar.
O seu beijo
veio como cavalo indomável,
cavalgando minha boca.
Cavalga meu bem,cavalga,
só deixa o vento passar por mim.
O seu beijo
veio tão inocente,
não sentiu a malícia que havia,
na ponta de minha língua atrevida
que brincava de espada
com a tua.
O seu beijo
veio como um raio de boa noite,
não anunciou chuva
mas,me mostrou a lua,
cheia,no céu de minha boca.
O seu beijo
adormeceu em minha boca,
ficou um gosto de eternidade,
minha boca se acostumou
no  infinito,
não quer mais acordar.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

DADOS PESSOAIS

Meu nome é muito comprido,
a mim,não tem significação,
talvez num momento bendito,
minha mãe escolheu sem muita noção.

Minha altura na média,anda encolhida,
alcanço o céu com as pontas dos pés.
Minha cor de pele é curtida,
mistura de leite e café.

Os cabelos,outrora bem pretos
estão com a densidade em ruína,
parecem de milho ou talvez gravetos,
estão me dizendo que não sou menina.

Meus olhos castanhos intensos,
observam curiosos,são caçadores.
Não enganam,mostram o que penso,
com eles eu vejo o mundo com cores.

Nem tudo se mostra em meu rosto.
Quem eu sou,guardo no coração,
nem perfeita,nem imperfeita,isso posto,
digo que sou um poço sensivel,só emoção.

terça-feira, 1 de maio de 2012

ESTRANHA

Hoje eu me sinto estranha,
amanheci carente,
me dê flores
como se fossem palavras de afeto,
a você talvez não signifique nada
a mim, é salvação.
Amanheci invisível,
me dê seu sorriso
como se fosse uma porta aberta,
talvez você não veja eu entrar
mas, em qualquer canto vou estar.
Amanheci fora de mim,
me dê sua mão
como se fosse elo de corrente,
me mostre o lugar de onde sou,
me ensine prá lá eu voltar.
Amanheci silêncio,
me dê o som de sua voz
como se fosse um sinal
de que,posso permanecer quieta,
mesmo assim vais me ouvir.
Amanheci sem pernas,
me carregue no colo,
me tire do tédio,
das sobras do tempo,
me mostre a paisagem
que encanta você.
Amanheci alada,
não me dê nada,
eu já tenho tudo.
Eu sou borboleta.
Eu sou vagalume.
Eu sou passarinho.
Eu sou um poema,
cá dentro um mundo
e,ele me vê.

domingo, 29 de abril de 2012

GLACÊ

Eu lhe vi ao longe,
caminhando ao vento,
cabelos compridos ao vento,
vestido comprido ao vento.
O mar tentava lhe invadir.
As ondas se encrespavam
mas,ficavam só na linha,
                       só na linha
e tudo virava horizonte,
com as ondas num ir e vir,
sobre tudo era açúcar
querendo lhe diluir.
O que você pensava ?
O que você ouvia ?
O que você queria ?
De longe a areia
era apenas glacê,
pincelada por seus pés.
Açúcar cristalizado,
levemente queimado,
era seda,
era seda,
o sol tentava interferir,
num claro escuro assanhado.
Ele queria e você deixava,
nascer vermelho quente,
o sentimento inocente
da gente,
que era doce,
que era doce...
Era apenas glacê.

sábado, 28 de abril de 2012

MINHA RECEITA

A fada madrinha
não está na história,
o encanto perdeu o lugar.
Já não tenho esse mundo prá mim
que cabia num quarto qualquer.
Ele encurtou,sumiu na distância,
eu segui sem magia,tinha pressa
de beber a tal água da fonte,
de saciar uma fome na origem,
que me aguardava também
no horizonte.
Dia a Dia construi minha vida,
bons costumes,maus costumes,
rabiscaram a pessoa que sou,
me juntaram por baixo da pele,
me enfeitaram por cima com panos.
O sorriso que trago na boca,
é meu  eterno cartão de visita.
Vê se você me aceita.
Vê se você acredita.
Leia a fórmula em minha bula.
Leia o passo a passo em minha receita.
Vem comigo sem pesar o amanhã,
nem que seja até ao quintal,
vou mostrar o brilho da estrela
que passeia em meu olhar mais normal.
Vou mostrar que guardei a poção,
faço encanto,boto fé no destino,
que é cumpri-lo juntinho a você.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

LUZ E CRUZ

Talvez voce não soubesse
que eras minha luz.
Talvez voce não sentisse
que eras minha cruz.
Borboleta eu era,
atraída,desorientada,
traída,aprisionada,
precisando de uma ponte levadiça,
prá escapar,prá ir,prá vir
de uma forma mais arisca.
Os seus bilhetes persistentes
eram tão leves,
          tão fáceis de carregar,
          tão fáceis de acreditar.
Ficaram presos em minhas mãos.
Ganharam terreno no coração.
Guardei na caixinha de recordação.
Viraram gatilhos prá emoção.
Viraram pressão prá perfeição.
Viraram pedidos na solidão.
Até seus beijos mais apressados,
tinham o costume de me salvar...
Eram fatais em nossas noites,
não existiam em nossos dias.
Nas pontas de seus dedos
havia uma luz de cometa
que acendia em mim,
que se atrevia em mim.
Viraram navalhas cortando a carne,
nos lados,no meio,na meta.
Perdi a aderência.
Perdi a aparência.
Fiquei nublada.
Virei nuvem em céu assombrado.
Fiquei pesada.
Precipitei.

CASA VELHA

Não possuo nada,
nem dona de mim eu sou,
só possuo um tempo, demais,
um tempo culpado,
lembranças atrás.
Deixei que a tristeza
roubasse um espaço.
Esqueci meu discurso,
mergulhei no silêncio.
Um nó apertado
me prende num laço,
pus fogo ardente,
causei meu incêndio,
queimei nosso quarto,
prá matar as lembranças.
A casa ainda em pé
está velha
mas,guarda o cheiro de canela.
Está assombrada,
às vezes lhe vejo
na  janela.
O tijolo descascado
cimentou a saudade
na parede.
A solidão pinga, pinga,
é goteira no telhado.
A esperança
perdeu na sala a virgindade,
o amor foi surpreendido,
nas cinzas do chão
foi derrubado.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

MINHA DOR

Vou espalhar minha dor pela cidade,
botar palavras,fazer delas versos simples,
cantá-la num samba bem canção,
em portas de bares,só com violão.
Vou torná-la estrangeira,
congelá-la nas Cordilheiras,
fazer dela um grito de guerra
en las calles de La Paz.
Vou deportá-la para a China
ou,talvez prá Argentina,
afogá-la em Las Bocas
ou,quem sabe compor um tango,
uma milonga,
com sucesso nas Malvinas.
Vou bebê-la com los hermanos,
brindá-la com viño chileno.
Vai prá bem longe a minha dor,
lá prá costa sul da Tailândia,
virar azul,se diluir no mar.
Talvez virar boêmia na Cinelândia.
Virar fumaça em São Paulo.
Virar um blues de bordel,
na voz do outro mundo de Gardel,
num primeiro de abril em Seatle.
Vou espalhar minha dor
aqui mesmo,nesse canto do fundo,
desse boteco onde nada acontece.
Vou fazer um show de rock
entre os manos e as minas,
entre os bêbados e os solitários,
entre os aplausos e as porradas,
vai se cantar a minha dor.

SÓ ESPIANDO

Às vezes eu tenho preguiça
de morar em mundos,
de inventar assuntos,
de abrir cadeados,
trancas,trincos,portas.
Às vezes fico aqui dentro
só espiando...
A  criatividade mal dormida
não quer se levantar.
A palavra mal parida
não quer se mostrar.
Fico só espiando,
o olho no buraco da fechadura
esperando voce passar,
prá eu te acompanhar;
quem sabe uma história
poetar...

domingo, 15 de abril de 2012

QUEM DIZ QUE EU CONSIGO...

Mãe,estou me preparando prá sua partida iminente,
dessa vez você não levará malas
mas,aqui em minha mente,
há bagagem,vai pesada e,há escalas.
Meu coração  pede prá você esperar no caminho
mas,acho que nessa manhã não vou lhe encontrar,
que você não vai se despedir,irás de fininho,
como quem desaparece no sopro prá chama apagar.

Quem diz que eu consigo,
talvez lhe atrasar,lhe segurar pelas mãos,
lhe acarinhar mais um pouco com o olhar;
talvez eu me despeça com uma canção de ninar
ou, talvez apenas lhe abraçar,abraçar,abraçar...
Você me chama e,ao seu lado não me vês.
Foges desse dia, me deixas à sós,comigo;
essa solidão nos separa em mundos,eu aqui e lá bem longe,você,
solta,voando,procurando abrigo.

Outro dia ouvi seu desejo
gaguejado tão de repente:
"Queria ser passarinho prá voar..."
Ah! Como dói essa impotência na gente.
Mãe não sou advinha mas, eu vejo
suas asas planando no Amolar.
Vais voltar para seu amado Pantanal,
virar criança feliz,viver seus sonhos
e,eu haverei de ter encontrado algum canal
prá acalmar meu coração tristonho.

A gente não é mais como antes,
nem eu,nem você,nem nossas vidas.
Não temos mais "sensibilidades de elefantes",
nem as cicatrizes daquelas tais feridas...
Você não foi uma mestra de escrita
mas,me deixou a melhor lição,
por dentro ser mais bonita
fazendo o bem e com o coração.

Como quando catava zangada o grão de feijão.
Como quando rezava sem entender,prá  Deus.
Eu finalmente aprendi sua lição e,hoje me lembro com emoção.
Oh mãe! Só faltou você me ensinar a lhe dizer adeus.
Quem diz que eu consigo...

quinta-feira, 5 de abril de 2012

DA JANELA DE CASA

Da janela de casa
vejo que a cidade aumenta
mas,o meu querer inventa
que ainda é verde
e,que ela me é particular,
tem meu jeito,meu cheiro,
abriga minhas manias,
minha saudade em fotografias.

Da janela de casa
meus pensamentos se atiram
muito além da morraria,
por trás da calmaria,
presos em uma linha de  pescar,
o vai e vem com colheita,
tem um peso que quase deita,
prá preencher um vazio de sempre.

Da janela de casa
meus sonhos pulam estrelas,
são apenas doces energias
que faxinam minha alegria;
pisam nuvens de algodão,
brincam de amarelinha,
pois sou menina pequenininha
em meu céu riscado de linhas.

Da janela de casa
o sol passa bem mais ligeiro,
torna o tudo, irreal,passageiro,
meus olhos não conseguem enquadrar
e,se a lua surge mais que perfeita,
meu coração enfim descansa
querendo se eternizar.

terça-feira, 3 de abril de 2012

NA CATORZE

Não é só água de chuva
que corre na Catorze.
Não é só água servida,
água doente
que corre na Catorze.
Não é só vento acanhado
treinando prá ser ventania
que corre na Catorze.
Não são todos os vícios
e,todos os malefícios
que correm na Catorze.
Não é só a pressa de todo dia
que faz de seu rosto um borrão
que corre na Catorze...
Corre na Catorze
uma esperança desmedida.
Corre livre, sem freios,
corre por todos os lados,
sobe pelas paredes,
alcança o quarto-sala
do sétimo andar desse apartamento.
Criativa,convence até o pouco inocente,
distraido,à janela do olhar,
prá acompanha-la na corrida.
Corre na Catorze
o tempo,astuto atleta
que quase voa no caminho,
tentando conquistar o pódio.
Perdida já está a esperança
nessa disputa injusta,
ela corre sobre esteiras
fincadas no coração dessa gente
que corre pela Catorze.

domingo, 1 de abril de 2012

A DOR DA PERDA

A dor da perda de um amor não da calo,feito sapato apertado que você só precisa deixar de usar. A dor da perda de um amor é um chão cheio de sabão em que você precisa passar,você escorrega,cai,levanta;torna a cair e levantar; e como a gente gosta de escorregar...

sábado, 31 de março de 2012

ERA TANTO O MEU AMOR

O meu amor por você
nasceu em uma correnteza,
você rio caudaloso
eu, barco de papel me deixando levar
.
O meu amor por você
não escondia nada,dizia tudo,
dentro de minha quietude.

O seu amor às vezes me arranhava,
às vezes,se mostrava rude
eu, de ti me afastava.

O meu amor por você
se mostrava manso:
um abraço,um toque,um beijo...

O seu amor era feito de mimos,
surgia de belas caixinhas,
se fazia presente.

O meu amor em campo fértil
era tanto,era tanto
e, de tanto dele cuidar,
você de mim perdeu o encanto.

Tive que lidar com a dor
do peito rasgado,dilacerado,
tudo aberto,tudo à mostra,
sozinha na casa,na rua,no leito.

Tive que lidar com a saudade,
escondida,bem guardada,
essa prisioneira rebelde,
me arrebentava as portas
apenas prá se mostrar.
Eu ? Empurrando-a prá dentro.

O meu amor não morreu
mas,agoniza calado,
virou água de poço profundo,
difícil de retirar.
Virou um sono encantado
que nenhum beijo pode acordar.

quinta-feira, 29 de março de 2012

DE QUE ADIANTA

De que adianta
ser algodão doce
se no mundo
reina o sal
e ele alimenta as pessoas.
De que adianta
falar através de poemas
se no mundo
o discurso é direto,
às vezes cruel.
De que adianta
desejar que a lua
enfeite nossa noite de amor
se o sol já fez no meu dia,
exposição de nossas mazelas,
estampando minha vida na sua.
De que adianta
ter esperança,
atrasando para o futuro
meu desejo do presente.
De que adianta
eu correr atrás da sorte:
ela seguindo a estrada,
eu indo atrás de esteira.
De que adianta
esse doce em minha boca,
ele derrete em segundos,
fica preso um amargor
que toma conta do antes.

EU EM VOCÊ VOCÊ EM MIM

Meu olhar passeando,
encontrou a planura do seu
em uma tarde de sol.
Deitei e rolei à vontade,
fiquei sem roupa,descalça
e, encontrei moradia.
Você aceitou a bagagem
que eu trouxe da viagem..
O seu olhar de vidraça
me fez lhe ver pelo avesso,
de um jeito bem travesso
me acerquei confiante,
me tornei  seu espelho.
Olho no olho um instante
virou uma eternidade,
virou jogo de perder,
virou jogo de ganhar,
alternado no olhar.
Seu olhar andarilho
encontrou a caixinha do meu,
em uma noite de luar.
Você analisou com cuidado
o embrulho achado ao acaso,
foi desfazendo os laços,
foi desatando os nós,
fez de mim um presente,
guardou  em lugar secreto,
do lado esquerdo do peito.
O meu olhar de breu
fez de você vagalume,
luz riscando a noite
me chamando prá brincar.
É chama,me chama,eu vou,
eu em você,você em mim.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

ANIMAL

Gruda em meu olhar de mel,é teia.
Desvenda o meu mistério e reinarás.
É tempo de cio,meu instinto incendeia,
uivo,clamando na noite,sou lobo guará.

Rastejo sinuosa no quente cerrado.
Minha boca te marca venenosa,revel,
teu descuido,te pôs a mim amarrado,
dei o bote,tô com fome,sou cobra cascavel.

Meu prazer se arrisca em vôos razantes.
Voce é jardim ao meu inteiro dispor.
Sugo o néctar no beijo de amantes,
eu não sou delicada,eu sou beija-flor.

Relaxo um instante e,te engano,
meu abraço fatal tem garras afiadas,
sou predadora,com o rabo me abano,
então fique esperto,sou onça pintada.

Meu jeito dengoso te faz despertar,
é cedo meu bem,a luz é mortiça,
eu sou mansa,quero colo, te abraçar.
Em seu peito descanso,sou bicho preguiça.

Na paixão que te devora,sou devorada,
lua cheia desenha no leito o meu mal,
me abrigo no ninho,sou muito caçada,
o horizonte se estreita,sou alvo,sou animal.


       ( Quem percorre as estradas que cortam o Mato Grosso do Sul,vê com tristeza a quantidade enorme de animais mortos,atropelados por quem deveria protegê-los.Dói o coração quando me pergunto sobre aquele animal morto:Será que é um filho? Uma mãe? um pai? Quem atropelou ou jogou sua bituca irresponsavelmente causando incêndio, é um filho,é um pai,é uma mãe,é um animal que incrível,é racional !
Envergonho-me desses seres humanos e de estar inserida nessa classificação.)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

VOU VOLTAR

Vou encontrar um tempo,
se não achar,eu invento.
Vou voltar prá mim,
fazer coisas que estou a fim.
Não quero nada pela metade,
nem pertencer a nenhuma irmandade.
Deixar nos livros as picuinhas vãs,a filosofia,
me preocupar com fatos do agora,quem sabe do dia.
Vida simples,vem prá mim!
Vida costurada,se afaste de mim!
Vou de encontro ao que importa de fato.
Não preciso mais dos fúteis artefatos.
Vou tirar meu salto agulha,
aquele medo? Voce embrulha...
Vou por meu velho tennis branco,
minha mochila verde lona,
três calças jeans desbotadas,
alguns lenços de seda prá enfeitar minha cara feliz.
Levar a havaiana,talvez o tamanco
e,pra não me sentir uma velha boneca,
por na mochila algumas camisetas de gola careca.
Chapéus de pano estampados,óculos com lentes coloridas,
pra disfarçar minha vontade desmedida,
de virar turista,com o olhar esticado no horizonte.
Ah! se voce por acaso lembrar de mim,
estarei com meu celular mas,sabe?
O tempo voa,não tenho asas e estou com pressa...
Distâncias podem ser rasas quando a saudade aperta,
não veja nisso um convite pra voce me encontrar,
não perca seu precioso tempo,
eu estarei em outro lugar.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O AMOR

O amor não vive sozinho,
é um menino peralta
que só pensa em brincar,
com as emoções das pessoas.

O amor precisa
da chuva fininha
pois é uma frágil plantinha,
querendo apenas crescer.

O amor é um segredo constante
que, no início se resguarda
entre os corações dos amantes
mas,ele quer se mostrar.

O amor é um brilho faceiro
que se constroi no olhar
e vai bem sorrateiro
iluminando o lar.


quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

CAMPO MINADO

Estão sumindo as ilhas de buritis,
as araras,os bichos preguiças,os quatis.
Florestas virgens se tornam quintais,
de violentas queimadas,crescem arrozais.

Na luta do homem com a terra,há intento,
é por crença,teto,até  alimento
mas,a ambição que se esconde entre as sementes,
acalcam sem dó,os sonhos simples das gentes.

Meu belo  e bravo cerrado,
liberta sua dor do pranto contido,
num choro manso e doce no campo minado,
banha de vida o peito ferido.

Descansam nos galhos as juritis,
se enrolam na presa os anéis da sucuri...
Oh! Lua gestante,de brilho mais puro,
me engane com sombras,sou bicho no escuro!

A chuva que cai,traz paz,alegria,
Atonios plantam sonhos,se banham Marias,
desenha espelhos em singelas baías
que o sol, rei vaidoso,a imagem aprecia.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

DOI

Dói.
É dor que me assalta a carne.
É dor  instalada na pele.
É dor aliada à febre.
É dor que possui minha alma.
É dor que me tira a calma.
É dor que não se vê.
É dor que não se crê.

Escondida atrás do sorriso,
camuflada no brilho do olhar
se pendura na beira dos olhos,
sorrateira tenta pular.
Brinca  às vezes, com malabares,
entre o estômago e o peito,
ganha palco em meio ao silêncio.

Sem que eu espere,
me ataca de frente,
no agora,bem de repente.
Vários golpes,
ao lavar o talher,
solitária,caminhando no mato,
assistindo à televisão,
acordando de um sonho,na escuridão...

É dor em mim,espalhada,
definida,imagem perfeita,
engolida a seco,se ajeita.
Tem um cheiro,uma cor,até nome,
uma origem,um destino,não vejo final,
vai doendo num jeito qualquer,
dor madura no coração da mulher.