terça-feira, 30 de março de 2010

PEDAÇOS poema

Não me sinto inteira sem você,
estou feita de pedaços,
como quebra-cabeça sem solução,
como esses cacos disformes
que colam velhas calçadas,
por onde passo.

Minhas mãos vazias
querem te tocar.
Meus braços
são ninhos abandonados,
esperando prá te abraçar.
Os meus pés
seguem o seu rastro no caminho,
mesma direção.

O meu cansado coração,
anda hipertenso,
angustiado se isolou
num espaço imenso,
com um tum-tum acelerado,
na mesma batida do seu:
"Você já o teve e perdeu!"

Tudo que consigo ver,
são as imagens das lembranças
estampadas em porta-retratos,
em cada canto da casa.
Tudo que consigo ouvir,
é a risada da piada
cheia de malícia,
o deboche do canastrão feliz,
em louco teatro.

A música que agora ouço,
tem origem no nordeste,
Zé e Alba Ramalho.
Tudo que consigo sentir,
é o seu odor marcante,
mistura de suor e perfume caro,
na camisa esquecida,
na cueca abandonada,
no chinelo sem par
ficados para trás em sua pressa de ir.

segunda-feira, 29 de março de 2010

EFEITO BUMERANG poema

Você tem a idéia torta
e usa sua língua afiada,
mas às vezes se faz de morta
num treino que é uma piada.
Você quer ir longe,muito longe,
muito além de sua porta
e usa sua língua afiada.
Lâmina língua que corta.
Corta o ar.
Corta o mar.
Corta o coração.
Corta até a palma da mão.
Deixa sangrar.
Deixa doer.
Não há culpa em seu coração.
Ah! Mas um dia você vai ver,
um dia você vai ter,
vai receber um belo troco,
voando em sua direção,
meu efeito bumerang:
Tudo que vai,volta.
Tudo que sobe, desce.
Tudo que abre, fecha,
mas nem tudo que cala, consente,
que ri agora,um dia chora.
Tudo o que fazes comigo,
farão um dia contigo,
é só uma questão de esperar
e, quem espera sempre alcança,
diz o dito popular.

domingo, 28 de março de 2010

DA COR DE CHOCOLATE poema

É da cor de chocolate
a boca que me sorri,
é tão doce o seu ser,
vício gostoso,sem culpa,
sem cobrança,sem pecado,
somente nesse estado,
é assim meu filho amado.

É da cor de chocolate
a raiva que dele se esvai,
se aborrece,fica louco
quando dele fazem pouco,
mas de repente um sorriso,
um pedido de perdão
lhe aquieta a emoção.

É da cor de chocolate
o tempo de quem procura
nesses dias que não passam,
e em meio ao certo e ao errado,
é difícil ser natural,
a ninguém fazer mal,
buscar um capital,
estar na Capital,
encontrar "o que fazê",
se acampar em Campo G.

É da cor de chocolate
tudo que nele se vê,
choro,raiva,gargalhada.
Com a bandeira da alegria,
pede,dá,recebe amor,
o amor que com amor se paga.

sábado, 27 de março de 2010

TUDO DE NOVO poema

Estou grudada na tv,
ouvindo o seu belo discurso:
"Que a vida começa agora,
vou lhes levar mundo afora!"
Mas...hoje é domingo,
e eu não tenho 57.
O ano não é o das trevas
e sim de 2007.
Eu já comprei aquela roupa,
usada-de marca , na feira.
Ando nas ruas da cidade,
escondendo a minha idade,
cheia de pose e de posses.
Quem dessas pessoas
entra na fila comigo?
Tenho carro 86,
vou prá balada com 6,
na volta tenho mais braços
prá empurrar.
Empurro a vida.
Empurro o carro.
Empurro o tempo.
Amanhã é outro dia,
dia que a gente esquece,
mais uma segunda-feira
que volta inexorável,
fazendo acontecer
tudo de novo.

O SOL NA CARA poema

Acordas mal humorado
se sentes atrapalhado.
Inseguro?
Diferente?
És seguro?
Estás talhado prá ser gente,
ir em frente,ir em busca,
deixar o quarto
quatro paredes,seu cobertor,
as viagens na internet.
Ir lá fora,além da porta,
colocar o sol na cara,
sobre as rodas de seu skate.
Queres mais espaço
alçar o vôo,
a hora e essa,pedes passagem.
Falando fino,
falando grosso,
antes menino
agora adulto.
À sete chaves guardas um culto,
nenhum altar,nenhuma prece,
só amor que aos seus oferece.
Guardas também
bem guardadinho
entre os acordes
de seu velho violão
o coração,
de quem se achou em B.H.

( Para Fê,amor maior-2005)

sexta-feira, 26 de março de 2010

A QUESTÃO

Fui notando apreensiva o afastamento sutil,os sorrisos nervosos,rápidos em sua boca fina como um rasgo. Percebi o afastamento de suas mãos,rompendo o contato procurado,necessário.
Percebi o seu olhar baixo,figidio e estranhamente alerta.
Senti falta de coisas simples que preenchiam meus dias.Senti falta das mordidas inesperadas em minha nuca que me arrepiava o corpo todo.Senti falta dos abraços espontâneos que me aprisionavam.Deixava-me prender e não arquitetava a fuga.
Senti falta falta de quando ele encostava o nariz em meu colo para aspirar o cheiro natural de meu corpo,antes de ir trabalhar,como a querer guardar,abastecer-se na ausência,uma reserva para a saudade.
Senti falta das esfregadelas da toalha úmida,em meu rosto,após o banho morno, "limpeza de pele" dizia.
Senti falta do mergulho rápido de sua língua em minha orelha.
Ele foi se calando. Era dezembro,aniversário de vinte cinco anos de casados,mês do Natal.
Foi desaparecendo pelos cantos claros da casa,pelos cantos escuros.Escondeu-se em páginas de livros grossos e supostamente interessantes,que lia compenetrado,alheio aos ruídos que eu fazia.
Escapou de olhos fechados-serenos,deitado no sofá,ouvindo suas músicas clássicas de um instrumento só,de sopro.
Quem sabe onde?
Quem sabe o que?
Fugia nas pinturas de parede, fazendo rebocos,inventando ocupação. Esgueirava-se no trato diário das suas orquídeas roxas-vermelhas-verdes que transplantava com meticuloso cuidado e paixão,que não dava mais prá nossa relação.
Fugia dos encontros inevitáveis ,divididos entre ambos no espaço apertado da casa.
Não aceitava mais o café doce e forte que eu lhe levava na cama,ao amanhecer.
Fazia regimes malucos prá não se sentar à mesa no almoço,no jantar,prá não falar quem sabe a palavra salvadora.
Tão previsível. Tão claro e ao mesmo tempo tão sombrio. Tão desconhecido de mim.
De repente, da vida que vivemos juntos, dos sonhos que sonhamos juntos,das promessas mudas,feitas um ao outro, não restou nada. Tudo se fraguimentou sem ruídos,como num castelo de cartas.
Tudo ficou tão pesado e tão frágil,como se eu pisasse em vidros finos,descalça. A ponte invisível que nos unia,ruiu, implodida por palavras traiçoeiras, mal definidas,que jorravam da boca dele; por falta de palavras que não conseguiam sair de minha boca cerrada pelo medo da perda.
Os silêncios cada vez mais longos,dolorosos,viraram passaporte livre para a fuga,para o abandono dele do leme da vida a dois .Fugiu daquele mundinho acanhado que agora o oprimia.
Em uma madrugada de fevereiro,finalmente escapou; lá fora a algazarra alegre e bêbada de foliões inconsequentes,que regressavam às suas casas, cá dentro o desespero mudo inundava os olhos e o coração de lágrimas.
Ironia da questão, eu o conheci numa noite de fevereiro de hum mil novecentos e oitenta e um. Amor meu,à primeira vista,prá sempre.
Era carnaval.

quinta-feira, 25 de março de 2010

MARGINAL-------poema

A violência sustenta a vida
de quem vive sem amor,
é dando porradas querida
que demonstro meu valor.

Cresci em meio ao entulho,
esgoto,fome e bordel,
dormindo qual um embrulho,
no chão forrado com papel.

Sou filho da desconfiança
que não vê o que se diz:
quem espera sempre alcança,
mesmo num mundo infeliz.

Não escolhi meu destino,
que é incerto e marginal,
sou um conhecido ladino,
à espera de um grande final.

FRONTEIRA______Poema

Viver aqui e agora
é bom e cheio de calor,
quando a noite ao dia devora
o som e o perfume têm certa cor.

As tardes são silenciosas,
cheias de preguiça,
cheiram a perfume de rosas,
ao meu instinto enfeitiça.

A algazarra de cantos tardios
ecoam por entre a mata
fazendo que cães vadios
demonstrem muita bravata.

Há o reclame da criança:
"Ainda há tempo de brincar!"
Da mãe que tem esperança,
ao filho uma educação dar.

Mas...tudo acontece devagar
em meio à comida e dormida,
e tudo fica sem par
perdidos em meio à lida.

Com um olhar mais atento
roupa suja vira bandeira
desfraldada pelo lamento,
de quem já está na fronteira.

Onde começa a pobreza ?
Onde termina a sujeira?
Na caixa que vira mesa
ou na diária canseira?

Nesse ambiente abafado
há duas redes surradas
que já roubaram o feitio
dos corpos de formas mirradas.

A fé está sempre atrasada,
na parede presa a um prego,
contando em rezas marcadas,
pedidos de quem está cego.

Mas é por aquele buraco
que tem nome de janela,
que o sonho é um marco,
da vida depois da cancela.

Do lado de lá há promessa
de um mundo verde e fartura,
cá dentro o desalento confessa,
é mundo que não se atura.

O sonho às vezes engana
com brilho,no caminho de asfalto,
escolhe de forma insana,
deixa tudo num salto.

terça-feira, 23 de março de 2010

ENCARCERADOS CONTO

Sentia fé.
Sentia a segurança com que ele a cercava, com força, a mesma que mantinha o velho carvalho em pé, há muitos anos, à frente da casa. Majestoso,demarcando o lugar.
Ele a protegia de algo sem face,sem identidade, invisível, que fazia brotar em seu interior um receio de estar lá fora. Assustador.
Protegia, mas tornava o medo muito maior.
Ele lhe ocupava todos os espaços, ficava entre ela e a luz, produzindo sombras em seu mundo.
Sombras que se interpunham entre a paixão que lhe cegava, e a vontade de ter asas para ver além do velho carvalho,de experimentar,de conhecer,de poder fazer escolhas sem culpa.
À princípio não notou a prisão,não estavam à vista as grades que a impediam de ir e vir, mas os grilhões apareciam em forma de buquês de flores perfeitas sobre a cama,sem data especial; ou , em pacotes atrativos,fechados com laços de cetim,escondendo uma supresa doce.
Muitas vezes surpreendeu os grilhões em seu olhar interrogativo,que tentava descobrir a razão de sua risada mais solta,mais feliz em meio aos amigos que ainda tinha.
Sem perceber, ele fez surgir a suspeita nela,fez com que essa suspeita crescesse ao ponto de descobrir finalmente, que era prisioneira. Ele sem querer,lhe mostrou o caminho da fuga,que eram à princípio de curtas distâncias,ao alcance dele.
Fuga difícil, pois se deixou aprisionar nas verdades dele,nas vontades dele. Dormia e acordava nas certezas dele. Viveu a vida dele; tornou-se uma parte dele, sem ser e, não se deu conta.
Ele era sua lua, a iluminava.
Ele era seu sol,a aquecia.
Ele também era um ladrão sorrateiro que lhe roubou a essência.
Começou a fugir do olhar dele, da voz dele, dos abraços dele. Foi escapando pela porta dos fundos, depois pela porta da frente,aos poucos,porém, se surpreendia ao vê-lo à sua espera...
-Não vais voltar?
-Não sentes falta de sua casa?
-Não gostas mais de lá?
Era sutil,nunca se colocava nos quetionamentos,não existia a primeira pessoa, só que agora ela percebia que a primeira pessoa estava lá, oculta. Por que isso ? Perguntava-se. Talves temesse a resposta reveladora e pressentida.
-Não, não volto !
-Não, não sinto falta!
-Não, não gosto mais de lá!
Ele lhe deu a passagem, lhe mostrou o caminho.
Magnânimo?
Inocente?
Dissimulado?
Normal. Tudo seguia numa aparência normal,na superfície,mas as pedrinhas,marcando o caminho da fuga,já estavam lá.
Não havia mais jeito,não havia nenhuma proteção,nenhum conforto que a fizesse ficar.
Esperou o último dia de férias dele,para escapar e não poder ser seguida, encontrada e novamente aprisionada.
Abraçou-o, manifestou-lhe a saudade que sentiria ,durante a breve viagem. Subiu no trem , carregando uma única mala,onde juntou poucos pertences; só deixou o amor que ainda sentia por ele.
Sorriu no sorriso dele.
Acompanhou com a mão,o adeus dele.
Esperou o trem se distanciar para gritar:
-Não volto mais !
......................................................................................................................................................................
Viu a dor da surpresa que congelou o sorriso dele, viu os passos cambaleantes,ensaiando a corrida na plataforma da estação,tentando alcançá-la.
Inutilmente,continuava encarcerado no amor por ela..

sábado, 20 de março de 2010

ROMANCE URBANO

No alto do arranha-céu
há um odor de Havana,
corpos suados,denso véu,
relaxam em uma tarde insana.

O céu desses amantes
é forrado de papel,
impresso de habitantes
que dominam qual cartel.

O que povoa esse amor
que vive nos intervalos?
É cifra,é pressa,é dor
de quem perdeu nos cavalos?

Onde reside a paixão
em meio ao vidro e concreto?
Se abriga no coração
ou está a vagar sem teto?

Ah! Que pena desses amantes!
Vivendo como em Interlagos,
se amando só por instantes,
à beira de grande estragos.

sexta-feira, 19 de março de 2010

AFRODITE 1974

Menina da esquina
de cheiro tão forte,
eu sei sua sina,
eu vejo sua morte.

Sua veste é tão justa
vendendo a paixão,
quanto ela custa?
Feijão,razão ou prisão?

Menina com medo,
sem contos de fada,
você tem segredo
na cara pintada.

Esse é seu destino
à margem da rua,
lugar clandestino,
sem sol e sem lua.

Há ainda quem diz
quão fácil é sua lida
pois és meretriz
com a vida vendida.

Seu nome é Afrodite
como a deusa do amor
mas,nasceu Valéria,acredite
registrado em papel de valor.

Ah! Quem me dera menina
um dia poder te mostrar
que além dessa esquina
existe melhor lugar.
Em 1974, ajudei um grupo de alunas dando idéias na realização de um trabalho escolar,uma coreografia . As alunas, entre quinze e dezessete anos ,de certa forma eram mais ou menos comuns,porém havia uma que se destacava do grupo. Ela era de estatura baixa,magra ,corpo harmonioso,cabelos tingidos de pretos,compridos ,com um corte e um penteado que lembrava Brigite Bardot,boca com batom sempre vermelho,unhas ponteagudas e vermelhas,os olhos oblíquos contornados de rímel preto.
As demais a olhavam de lado com certo preconceito que não era percebido por ela ,ou talvez, não estava nem aí para o que pensassem dela, pois transitava no meio das outras com a maior desenvoltura,muito bem vestida sempre. Era boliviana e os pais trabalhavam com chocolates .
Seu nome era Afrodite e, muito tempo depois escrevi este poema através dos olhos de suas colegas de classe.

quinta-feira, 18 de março de 2010

PAIXÃO

Só por hoje vou deixar de lado
os meus cuidados,a minha crença
e mergulhar fundo na emoção
ficar atordoado
me afogar,beber do mel desta querença.

Só por hoje vou ficar quieto
sorver extasiado o verbo de tua boca
perder no esquecimento as regras deste afeto
e ser aluno atento à emoção louca.

Só por hoje vou viver o instante
agarrar o agora,vulnerável,apaixonado
deixar escancarado este meu peito amante
e ser prá ti o eterno namorado.

quarta-feira, 17 de março de 2010

À ESPERA DE TI

Preciso saber com certeza
se esse olhar que me procura
é carinho antecipado
ou é um descompromissado afago?

Preciso saber com certeza
se esses passos que me acompanham
é procura,é encontro
ou é só um anônimo rastro?

Preciso saber com certeza
se essa voz que diz meu nome
me chama,me encanta
ou é só um eco perdido?

Preciso saber com certeza,
pois meu olhar de ti é prisioneiro,
meus passos a ti procuram
e em meu peito soa baixinho:
"Estou à espera de ti."
Os poemas,contos, aqui postados,foram escritos aos catorze,quinze anos;muitos em cadernos de brochura,alguns perdidos,outros separados em folhas de cadernos diferentes,papel de pão,guardanapos enfim, obdeceram a um impulso que não escolhia hora nem local para se manifestarem. Impulso que era despertado por uma palavra que alguém dizia,por uma canção ouvida no rádio,por uma história de amor que ficava sabendo,por uma perda de alguém. Tudo era combustível para eu escrever.
Hoje,encontro inspiração,ou seria desabafo,em minha própria história de vida,não invento sofrimento,ele simplesmente está lá,esperando para ser espalhado entre os meus escritos ,só dessa forma não fica tão pesado para eu carregá-lo.
Nos meus escritos falo também do lugar onde vivo ,das pessoas que me são caras,das que passam pela minha vida e deixam sua marca,até dos meus bichos que me fazem companhia nos momentos solitários.
O ambiente que me deixa em estado de graça para escrever:tempo nublado,cinzento,com prenúncio de tempestade,anunciada por um ventinho gelado que tira meus cabelos da testa;procuro meu quarto,acendo a luz,tranco a porta,pronto! Perfeito.Nunca mudou,sempre foi assim.
Escrever,é minha terapia,é a faxina necessária prá ter de volta o coração leve por um tempo; é o alimento que me dá energia prá enfrentar cada dia e tudo que ele traz,as coisas boas e as más.

terça-feira, 16 de março de 2010

LOURA SEMINUA

Por um pequeno defeito
que nos olhos se insinua,
eu vi marcado em teu peito
uma loura seminua.

O ciúme aqui cresceu
fiquei cega e com razão
pois quem se dizia meu,
não ousaria magoar meu coração.

Percebem? Sou morena,
começo de noite,final de tarde,
discreta,suave amena,
nada tenho que se alarde.

Apesar de estar longe
com o amor ao desabrigo,
tu devias estar como monge,
solitário...a sós comigo .

Porém,vejam só que maldade,
bem de perto e na luz crua
percebi que era saudade,
a tal loura seminua.

FLOR DA PELE

À flor da pele
deixei plantar
uma semente de carícia
de tão profunda raiz.

Teve a brisa do seu beijo
Teve o cuidado do seu abraço
Teve o sol do seu olhar
Teve a gota do seu suor

À flor da pele
deixei crescer
uma semente de malícia
de tão daninha raiz.

Teve a brisa da minha dúvida
Teve o vento do meu tormento
Teve o sol da minha verdade
Teve a gota do meu pranto

À flor da pele
seca-sedenta-árida
nasceu
cresceu
forte e isolado
um majestoso cactos de solidão

segunda-feira, 15 de março de 2010

NOVO AMANHECER

Quero os meus pés descalços
em úmidas calçadas,
quero sentir a forma,o chão
nos passos que lentos se vão.

Quero molhar a língua
seca-amarga-sedenta
na gota fria que míngua,
de mãos que só a fé,torna benta.

Quero o amanhecer na rua
sem carro-gasolina-buzina-multidão,
quero a lua,a noite nua,
andar de mãos dadas com meu coração.

sábado, 13 de março de 2010

JEITO ANTIGO

Eu quero
a lua de outrora
quero a brisa
quero a aurora
quero o encontro no horizonte,
prá limitar
prá envolver
o meu mundo,
o meu jeito antigo
de viver.

Eu quero
de volta o som da viola
a voz rouca,macia
o olhar furtivo...
o roçar de mãos
o sussurro da noite,
prá limitar
prá envolver
o meu mundo,
o meu jeito antigo de gostar.

Eu quero
a paz solene das seis horas
quero a crença
quero a trança
o riso da criança,
as folhas secas
que formam tapetes
nos bosques misteriosos,
prá limitar
prá envolver
o meu mundo,
o meu jeito antigo de crer.

Eu quero
o cravo vermelho na lapela
o brilho aprisionado nos cabelos
o perfume
o terno branco de linho
o andar calmo,sozinho
que me lembram você
e o seu jeito antigo de ser.

SAUDADE ?

Da minha vida feliz
que foi tão pouca,
que eu me lembre...
Não tenho guardados antigos,
nem emoção louca,
nem bolorenta quimera
pois aqui,não encontaram abrigo.
Só tenho
ainda no ouvido,
ecoando
por toda vida,
o som doloroso
de sua partida.

CINZAS

Me ocultei
nos farrapos sofridos
de uma fantasia colorida
em três dias de folia.
Desfilei triste,
mascarada de descrença
no bloco do eu sozinha.
Da passarela,confusos vi,
rostos sem nomes,me sorrir.
Braços sem corpos
me envolveram em
desinteressados abraços.
Na multidão fui grão
que acumulado,não me mostrou,
mais me escondeu.
Distoei do samba enredo da alegria.
Só cantei cinzas esquecidas,
de quartas-feiras passadas.
Brilhei falsa nos luminosos
artificiais.
Mergulhei,me afoguei
na loucura de confetes
e serpentinas,
mas quando um sol
de quarto dia
pôs sombra nua
sem fantasia à minha frente,
eu constatei,
depois daqueles três dias
continuava,agora em cinzas,
o bloco sem alegria
do eu sozinha.

MIGALHAS

Das vozes sem nomes,mansas
que penetraram em seus ouvidos,
dos olhares lânguidos
que o envolveram,
dos corpos desconhecidos que se debruçaram nus
em seu peito amante,
do lábios trêmulos ,oferecidos
que você fechou com seu beijo sensual,
dos seios palpitantes
que suas mãos ávidas afagaram:
Eu me contento com o contato
rápido e desinteressado de suas mãos.
Eu me contento em mergulhar
no brilho de seu olhar descuidado.
Eu me contento em fazer graça
só prá ver sorrir.
Eu me contento em suspeitar
que você às vezes se lembra de mim.
Eu me contento em conhecer
o som fraco de seus passos
em meu caminho.
Eu me contento em lhe amar
e lhe saber feliz.

quinta-feira, 11 de março de 2010

O QUARTO

Invado o quarto.
Faço parte do silêncio
me escondo na penumbra
venço o tempo e espero.
Debruço o corpo cansado,
ansiado
em sua cama desfeita
por seu corpo amante.
No lençol ainda morno
por seu corpo ausente
me aqueço
e adormeço.
Quando, sem hora
sem promessas
você regressa e,
me descobre no prazer
desse contato,
fica a certeza:
nesse quarto,nessa penumbra,
nessa fumaça de seu cigarro,
você e eu...eu e você...
O nosso amor é o que no basta,
nada mais.

MOMENTOS

Foi naquele momento
no quarto tão cru
sem adorno,sem perfume,
naquele quarto tão nu
que eu te amei.

Foi naquele momento
em seu leito branco
aconchego de seu corpo
que eu te amei.

Foi naquele momento
debaixo daquela
difusa claridade
que discreta me mostrou
que eu te amei.

Foi naquele momento
em que a fumaça
de seu cigarro
em cortinas passageiras
se formou
que eu te amei.

Foi naquele momento,
naquele tapete solitário
estendido ao chão,
simples,rústico,
com uma figura de leão
que eu te amei.

Foi naquele momento
em que a porta
brusca se abriu
trazendo o eco grave
de sua voz
que eu te amei.

Foi naquele momento
em que o som forte,
terno,
sensual,
de um velho violão
se fez ouvir
que eu te amei

Foi naquele momento,
no descanso distraído
de seu braço em meu dorso
que eu te amei.

QUINZE ANOS

Eu sou
a nova folha da manhã
que recebe e acomoda
em sua superfície,
a pequenina gota
de orvalho.

Eu sou
o início de chama ardente
que trêmula se inicia
rápida se firma
se alarga e
se aquieta.

Eu sou
a fruta verde e fechada
de uma árvore velha
que conserva em seu seio
um misto de sabor
amargo-adocicado.

Eu sou
o sorriso tímido,incerto
de começo duvidoso
mas,num ato de ousadia
se alarga,se impõe
e ilumina o
meu rosto.


Eu sou
o passo trôpego
bêbado na inexperiência
que se torna forte
e caminha rápido
na direção certa.

Eu sou
a morna e silenciosa noite
que chega sem ser percebida
e aos pouquinhos,devaagarinho
abraça o mundo
o involve inteiro,
a tudo cala,
nada promete
e,tudo cobre...

quarta-feira, 10 de março de 2010

EQUÍVOCO

Fugir.

Escapar.

Sair de cena.

Essa era a questão,ou não era?

Estava confusa.Lá dentro de mim, em meu mais profundo ser,havia se instalado sem aviso,um turbilhão incessante,uma mistura de sentimentos inconfessáveis, que se chocavam,batiam nas paredes de meu estômago, regorgitando o fel amargo da desesperança,em minha boca. Meu coração dava socos violentos e surdos o meu peito. Tão fortes!

Tinha impressão de que alguém ouvia as pancadas. A dor insuportável era física,nesse momento.

Onde me encontrava? Num ponto afastado, isolada?

À beira de um precipício escuro? Sem fim?

Talvez a salvação...Havia salvação? Talvez fosse aquele ponto de luz tremulando lá no fundo? Quem sabe para alcançá-lo,bastasse um salto.

Tudo clarearia?

Fazia o almoço diligente e delirante,com movimentos precisos,numa aparente calma. Cortava os legumes com a faca grande e afiada, presente dele.

O burburinho à minha volta, a conversa animada não me alcançavam. O meu corpo atuava só na superfície: um ensaio de sorriso,um olhar rápido,sem deiar pistas,sem destino certo.

Ninguém viu o olho fundo-seco-vítrio-enorme, crescido nas órbitas,viciados no desespero.Ninguém percebeu o silêncio se instalando.

Fiquei mais quieta que o normal, tive a companhia do silêncio dele.

Meu silêncio escondia,encerrava,poupava. O silêncio dele estava pronto para explodir,destruir,combater,mudar a ordem das coisas.

A fúria instalada soltava pequenos raios dos olhos cor de mel,que me atingiam como dardos cegos,corrompendo meus sentimentos,aumentando as reservas negativas. O choro subia pelo estômago,oprimia meu peito;a boca seca,os olhos agora úmidos,contidos num esforço supremo,impediam que a primeira gota de lágrima escorresse pela minha face macilenta.Como seria na cama grande,nós dois,quando a escuridão do quarto nos isolasse mais ainda em nossas incompreenssões?
Queria descobrir de onde vinha meu pânico,meu medo,meu pressentimento do que poderia acontecer...
Terminei de fazer o almoço. Tudo limpo,arrumado. Finda minha obrigação do dia.
O aroma de temperos se espalhava pelo ar,além da cozinha. Olhei a faca de inox limpa, vi meu rosto quase sereno refletido nela,coloquei alguns fios dos meus cabelos negros e compridos,que se soltaram,atrás da orelha.
Fui cortando o pulso lentamente,profundamente muito além da dor. Observei por um instante a beleza do líquido vermelho-grosso,contrastando com a bancada branca da cozinha,onde desenvolvia meus afazeres de todos os dias para bem alimentar os meus.
Acompanhei o fio que escorria até o chão,também branco,da cozinha. Sorri. O céu é branco e as estrelas são vermelhas !
A pressão no peito ia sumindo em uma doce vertigem.
Fui caindo
caindo
caindo...
Mirna não viu. Ele. Correndo em sua direção e,se deparando com a trágica cena, alcança-a com as mãos,ergue-a num abraço dolorido gritando desesperado:
_Por que?
Por que?
Por que?
Era tarde, muito tarde...


segunda-feira, 8 de março de 2010

LABIRINTO

Hoje eu fui lá no fundo
no profundo de você.
Percorri caminhos tortos,
descaminhos,labirintos,
me perdi,me encontrei
e,lhe encontrei.
Pálida luz à distância.
Pálida luz que ainda
brilha!
Você tentou esconder
em suas noites
de silêncios mentirosos
os seus mistérios.
Só por medo,
por receio,
envolveu-se em teias
de imagens falsas,
prá se ocultar.
Eu toda luz me iluminei
e, lhe iluminei.
Eu me vi
e, lhe reconheci.
Eu me senti
e, lhe senti.
Não lhe toquei
eu não podia
e nem queria.
Simplesmente
precisei,
desejei
lhe encontrar,
prá saber com certeza
que você
tão você
só você,
lá no fundo,
no profundo de você,
sem disfarce
em verdade existia.

MIRAGEM

Cheguei tão perto
de seu mundo
limitado por um teto
tão concreto.
Qual mísero sedento
no deserto das visões,
mergulhei na miragem
de seu belo e descansado
mundo.
Foi tão brusco o acordar
o enxergar.
Eu lhe vi tão vazio
tão pequeno prá meu mundo.
Como abrigar
em tão ínfimo cubículo
de crenças suas,
eu a incerta,
a meiga,
a tímida brisa,
que se acumula
se expande
se alastra
transborda.
Cheguei tão perto e constatei:
da miragem,da visão,
do vazio do seu mundo,
apenas vi, o resto solitário
de um cactos de egoísmo.

PARTO

Foi num espasmo de angústia
que eu me tranpus
do feto de uma lágrima
rolada.
Foi desta gota fugidia
que renasci em risos,sorrisos,
como um primeiro passo;
como um primeeiro contato.
Fizestes parte deste parto
de esperanças e novas crenças.
Foi tua mão que em concha
se fechou
e, recolheu aquela lágrima
rolada;
lágrima que há muito tempo
encubou
em seu brilho tão efêmero,
aos pedaços,a minha vida.
Foi nesta lágrima
que umideceu a sua pele
e penetrou bem mais fundo
que a frágil epiderme,
que eu me mostrei
e me entreguei
ao primeiro amor.
No infinito do teu ser
e do meu ser.

sábado, 6 de março de 2010

AMANTES

Descanso o corpo no abraço.
Transpasso a matéria
e parto em uma primeira viagem.
Navego em teu amor
com a vela tão branca,da alma
contida em meu corpo
de oferenda.
Te encontro amante,
repousado em meu regaço
amoroso,
amparado em meu limite
no espaço:
meu corpo.
Descubro-te
em emoções ilimitadas,
extravasadas,
infinitas em partículas
que penetram minha alma,
tomam o corpo e fazem dele,
só amor.
Faço de teu corpo-surpresa,
meu porto,
minha chegada.
Quando parto,
deixo gravado em teu peito,
em tatuagens de ternura,
minha primeira verdade:
eu, mulher.

A CASA

Penetres em minha alma,
é uma casa aberta.
Na sala tu verás muito cansada,
a esperança.
Verás também
num canto qualquer
a persistência,insistindo
que a confiança
permaneça no local.
Se adentrares mais um pouco,
em direção à cozinha,
ouvirás o bater físico
do coração,
ao mesmo tempo,
sentirás em toda parte,
o odor agradável da ternura.
Entras mais,vás ao porão
e, lá encontrarás a vela,
quase se apagando,
do pessimismo.
Não te assustes!
Essa pequena coisa
que não reconheces,
é a angústia
que vive pedindo licença,
para ir à sala,
sem contudo,conseguí-la.
Percebes?
Naquele canto do quarto?
Um embrulho grande,
envolvido em teias de solidão?
É a incerteza.
Em seu esquecido descanso,
tende a se destruir,
a morte é certa.
Perguntarás:
E o amor,
em que parte da casa está?
Responderei:
Está a caminho,
entrando pela porta aberta,
sem pedir passagem,
permissão.
Invade a casa
com seu jeito surpreso
de mais uma moradia.
É um hóspede com o qual,
tenho muito cuidado,
ele gosta de pregar peças
nas pessoas que,como eu,
num dia qualquer,
deixa a porta aberta.

PERDA

Verdade incrível,perdi você!
Não é possivel!
Dirão alguns.
Há tanto amor,tanta ternura!
Só eu sei,
que esse amor nunca foi dito.
Imperioso desejo
de por palavras no amor!
Não me lembrei,
eu me esqueci
que foi pouca a minha escola.
Inevitável!
Você ouviu de minha boca,
um amor menor,
um quase desamor.
Palavras...
Limitaram o grande amor
embrutecido,
inculto,
sincero,
guardado no peito.
Perdi você.

NÃO SEI

Não sei cantar,
contar,
falar um sentimento.
Não sei da rima,
da química,
da dose certa,
prá uma canção.
Prá ser sincera
não sei de estrofe,
verso,
som
que, bem descrevem
um sentimento.
De uma coisa
tenho certeza,
precisa amar,
sentir,
sofrer.
Fazer do amor,
o sentimento,
com fantasia,
com ilusão,
é mascarar
a força,
a beleza
dessa emoção.

AMOR DIVIDIDO (1970)

É tão pequeno o coração
prá tanto amor.
Sinto o peito sufocado,
arfando
mas sem cansaço,
aperta mas não rompe.
Eu sei,
só há uma saída
prá tanto amor
se libertar,
o mesmo amor
nos dois corações.
Talvez,
assim bem dividido,
se equilibre,
se perpetue,
nos dois corações.

BUSCA (1970)

Busquei-te
em momentos perfeitos,
mágicos instantes da vida
mas, foi uma busca irreal.
Busquei-te
no grito contido,
no espaço vazio,
do meu infinito.
Busquei-te
no adormecer das tardes,
na sonoridade do ar,
nas ondas bravias
em noite de temporal.
Fui mais além...
Busquei-te
em detalhes pequenos,
na lágrima rolada,
na angústia acumulada,
na esperança imortal.
Busquei-te sim e,
te encontrei tão imperfeito!
Tão real!
Te amei simplesmente,
com total força
de minha imperfeição.

sexta-feira, 5 de março de 2010

O QUE ME DEFINE

Quarenta graus à sombra,ontem,me jogou no sofá diante da tv,às catorze e poucas horas.
Calor,muito calor! Tv é uma coisa que não me atrai muito,hoje em dia;você acessa cem canais mais ou menos que só repetem assuntos.Um saco!
Passeio prá cima e prá baixo com o controle e,paro curiosa,numa cena em branco e preto de um filme espanhol ou mexicano,sei lá !
Um quarto,uma mulher em roupas íntimas diante do espelho passando as mãos pelo corpo,fazendo as seguintes perguntas:
_O que me define? São as minhas ancas largas? São as minhas curvas suaves? Minha pele macia?Meus cabelos negros e sedosos,ou será o meu olhar intenso?
De repente,quase inconsciente, dei conta de que me fazia a mesma pergunta,com certo receio de não gostar da resposta ou pior, não encontrar resposta ou ainda encontrá-la,conhece-la e preferir deixá-la no mesmo lugar como um embrulho esquecido.
Vamos lá! Tenho prá mim que o que me define não é definitivo,não está pronto,é flexível e não está na minha aparência que funciona mais como moldura de boa ou má qualidade. O que me define é tudo aquilo que me construiu e que ainda me costrói;coisas que acontecem no momento e não passam batido,coisas que acontecem dentro do espaço de quatro anos ,por exemplo. Confuso? Não prá mim.
A base,o ponto de origem é a familia.
Fui criada com relativa dificuldade,dividida com cinco irmãos,um pai autodidata,filho de índia com português;mãe pantaneira,analfabeta com uma grande frustração:"não ter estudo".Ambos lutadores,sobreviventes.
Fui muito mais a "filhinha do papai",boa ouvinte de suas histórias e conselhos. O dia a dia duro,me amadureceu rápido,cedo e, me isolou. Aprendi a não pedir nada pois,percebi que nem tudo que sonhasse ter,conseguiria:a boneca exposta na vitrine que abria e fechava os olhos,meu maior sonho de consumo na época. Por outro lado,o Papai Noel deixava sobre meus sapatos surrados,na janela:boneca de pano,ou sem articulação,daquelas toda colada,ou panelinhas;não me lembro dele falhar em nenhum natal de minha infancia;porém vivia numa espectativa dele falhar e, por proximidade,de meu pai,minha mãe não estarem lá,um medo que crescia dentro de mim.
Não vivia o presente,achava tudo muito frágil,me tornei uma cabeça de fósforo eternamente acesa.
_"(Se meus pais morressem,o que seria de mim,de nós?)"
Crescemos longe de parentes,não os conhecia,por conta da história de meu pai,que soube quando não era mais uma menininha, não tivemos contato com tios,primos,avós.
Tornei-me introspectiva,pensativa,com uma relativa timidez,confundida com orgulho,uma amiga,porém não me abria com ela. Os meus primeiros anos no colégio foram difíceis,não conseguia me enturmar,só foi bom doponto de vista do aprendizado:depois que aprendi a ler eu descobri o mundo.
Mundo estranho fora de casa,onde era super protegida pelo meu pai.Porém ,foi fora de casa,que encontrei um lugar muito especial:a biblioteca do colégio,que descobri por acaso. A hora do recreio passou a ser esperado com ansiedade,pois passava todo ele na biblioteca lendo;as prateleiras das estantes recobriam as quatro paredes com livros de contos de fadas,devorados por mim,nos quatro primeiros anos em que frequentei esse colégio de freiras.
Mundo novo,povoado de fadas,príncipes que viravam sapos,monstros,princesas adormecidas,prisioneiras,seres alados que brilhavam ao sol,minúsculos,bruxas más,poções,anõezinhos,lobos maus,etc. Depois vieram os romances que lia até terminar,muitas vezes lidos à luz de velas prá meu pai não ver que eu ainda estava acordada ,às três da manhã,lendo. Vivia com olheiras e,vivia muito mais nas histórias que lia;tudo isso me tornou boa aluna ,mas dificultou nas relações: amigos, namorado.
Minha profissão,num primeiro momento,surgiu como tábua de salvação,uma forma segura para sobreviver,não gostava,porém me tornei ótima nela e, no final descobri que adorava o que fazia:professora de crianças,formada em História.
Durante o segundo grau feito no interior de São Paulo,em bom colégio público,era incentivada pelos professores,cada um em sua área a ser jornalista,a me dedicar à arte,pois tinha talento para o desenho. Meu pai queria que eu prestasse concurso para ser bancária,sonho dele,enfim optei pela necessidade de arranjar um trabalho logo,estava em jogo minha segurança.
Casei,tive dois filhos,muito amados.
No momento estou em recuperação de uma separação muito sofrida,um casamento de vinte cinco anos sem brigas. O primeiro ano,2007,foi terrível,o segundo a mesma coisa,não dormia ,não comia,só chorava,em qualquer hora e local,diante do filho mais velho que me abraçava,diante de conhecidos que indagavam,que não entendiam como o casal vinte,se separou. Fiquei hipertensa,hoje a pressão já está um pouco mais normal,mas ainda tomo remédio,tenho gastrite , um pouco de pânico .
São três anos que considero de desperdício,pois parei no tempo,a depressão me colocou sentada numa cadeira,num canto escuro da casa,com o olhar fixo na porta entreaberta,olhando para a rua,para a claridade lá fora,numa esperança de que ele surgiria ,o tempo foi passando,a vida foi passando,o que era constante além do choro,era a sensação de desamparo , injustiça e vergonha. Meu grande erro:colocar minha vida nas mãos dele,pois quando ele foi embora,levou meu amor,levou o amigo,levou meu braço,meu abraço,minhas pernas,o caminho.Não houve brigas,houve o descuido,a acomodação,numa relação de conforto,segurança,confiança,pelo menos eu assim entendia.
Ainda tinha meus sonhos,porém agora ele fazia parte deles,eram tão certos que via nós dois velhinhos,saudáveis,cheios de humor,cumprindo a promessa que me fiz secretamente:"Até que a morte nos separe e,que eu vá primeiro."
É, no fundo,no fundo eu ainda vivia como nos contos de fadas,acreditando no "felizes para sempre e, esquecendo de avisá-lo.
Costumo dizer que estou sendo levada,por enquanto,não sei prá onde,nem até quando; respondo quando quero e,quando me perguntam;não procuro mais questões,nem monto quebra-cabeças existenciais. Quero viver na superfície,pois o contato mais profundo me assusta,se estou certa ou errada,pouco importa,pois ganhei o passaporte prá fazer ou não,besteiras.
Quanto ao amor,ele se tornou protetor com meus dois filhos muito amados(eles o sabem) e, amigo com minha sobrinha,que ouviu e viu meu sofrimento e, companheiro ,com Veludo.
Há mais uma coisa:já estou conseguindo erguer a cabeça quando faço minhas caminhadas matinais,porém a vergonha de ver sua vida,sendo julgada nas ruas e becos de meu bairro,pelos curiosos,ainda existe.Quero encerrar com humor,prá disfarçar um pouco:
"Minha vida com ele foi uma biga,eu,uma roda de madeira,ele, um pneu inflável... Numa rua de pedra lascada...Numa corrida louca...Pensa.
AH! Vi outro filme: Ambos no quarto,ele em pé com as malas prontas,ela sentada na beira da cama.
Ele: Você é uma boa mãe,uma mulher maravilhosa,eu também sou um bom pai...
Ela: Então por que ,Henrrique?
Ele:Me dei conta de que estou envelhecendo,minha vida inteira dediquei a essa família.meu tempo está se acabando,quero esse que me resta,prá mim,só prá mim,eu mereço!
Última informação:o filme é mexicano.Desliguei a tv e pensei:"see you in heven"(DO FIME!)

Me perdoem se tiver erros,escrevi sem ler.

quarta-feira, 3 de março de 2010

ADEUS

Ainda sofro.
Sofro por aquela mão
que não encontrou minha mão
trêmula,
que se estendeu na busca
da emoção, do contato.
Ainda sofro.
Sofro pela palavra não dita e,
tanta coisa prá dizer.
Ainda sofro.
Pelos passos que se quedaram,
na angústia daquele momento e,
tantos motivos prá caminhar.
Ainda sofro.
Sofro pelo olhar que não houve,
olhar que não buscou o
meu olhar
e,tanta coisa nele transposto.
Ainda sofro.
Pela ausência-presente que,
ocupa todos os espaços,
exteriores-interiores
mas sem compartilhar emoções.
Ainda sofro.
Sofro pela injustiça que ficou,
de não poder entender
o porquê, a razão.
Ainda sofro.
Sofro pelo que foi deixado
prá trás:
uma sobrevivência confusa.
Ainda sofro.
Sofro pelo meu amor
tão imenso,tão sincero,
que perdeu o significado,
a razão de ser,
de existir.
Apenas num momento de adeus.

NADA

Nada.
Apenas a lembrança vaga
de noites de acalantos,
sonhos ditos,
imagens falsas,
uma realidade cruel.

Nada.
Apenas caminhos escuros,
onde a luz nunca habita.
Onde a brisa companheira
se perde entre folhas mortas.

Nada.
Apenas amores escondidos
nas páginas amarelas
de um lugar,feito magia,
chamado: saudade.

SOU

Sou
a pequena gota de lágrima
que em seus olhos brilha.
Sou
a emoção mais forte
que em seu coração cresce.
Sou
a carícia constante
que em seu corpo habita.
Sou
o pensamento intangível
que em sua lembrança existe.
Sou
a brisa fugidia
que sua face afaga.
Sou
a fresca água da fonte
que sua sede sacia.
Sou
o sorriso permanente
que nos seus lábios se abre.
Sou
o beijo morno e delicado
que suas aspirações estimula.
Sou assim,
pequeninas vidas
que dão a certeza
de sua existência.

QUIS

Quis por um momento
não sentir tua presença.
Quis muito mais!
Quis te tocar.
Quis sentir nestas mãos tão frias,
a forma,o espaço ocupado
o limite no nada.
Quis ter só para mim,
a emoção egoísta,
o sabor angustiante,
o coração apertado.
Quis por um momento
muito mais que tua
presença sentir.
Quis ter-te.
Simplesmente.
Para poder te dizer:
Te amo !

A PIOR COISA

Não há
coisa pior que:
ter pensamento
marcado,
na face, fronte fremente.
Ter coração
apertado,
dizer amor que não sente.

Não há
coisa pior que:
as mãos vazias,
o nada!
No olhar parado,
o medo!
O gesto, voce ,
calada!
Na boca a palavra...
( segredo...)

"Coisas"

Sabe?
Eu queria lhe falar de coisas
Não aqui, nem agora
Mas...em um outro local
em uma outra hora.
Queria lhe falar de coisas
que passei,de coisas que sonhei e..,
não realizei.

Queria lhe dizer de coisas de voce,
de coisas que voce não me participou
mas eu senti.
Queria lhe dizer de coisas que voce é
mas, não sei porque coisas
voce as esconde.
Esconde...atrás dessa fisionomia
despreocupada, alegre ou será
um tipo de tristeza que
que conheço tão bem?

Queria lhe dizer que
essas coisas que voce é,sente e diz;
talvez não sejam as mesmas
que sou,sinto e digo
mas são coisas.