terça-feira, 18 de agosto de 2015

SOSSEGA VENTO, SOSSEGA

Sossega vento, sossega !
Não derruba o passarinho do ninho,
o balanço da árvore, não nega,
pra ela, isso é carinho.
Fique esperto !
Vou por meus olhos em você,
quando afastar a cortina da janela,
quando espalhar as bolhas de sabão,
quando fechar a cancela,
quando dar um giro completo no chão.
Sossega vento,sossega...
mas faz da minha saia um balão,
vá pro norte, vá pro sul,
espalha o cheiro fresco do pão,
me mostra esse meu céu mais azul.
Sossega vento, sossega,
mas antes ,arrepia a superfície do rio,
passa por dentro de casa,
sem uivar, sem dar um pio,
la fora, você extravasa...
Sossega vento, sossega,
passa manso por mim,
mas, infla meu peito, arrebenta,
o que lá dentro está vivo,
um sonho bom, mas, cativo.
 

segunda-feira, 20 de julho de 2015

SEM RIMA, SEM CLIMA

Domingo, aqui no centro,
é tudo meio largado,
é tudo meio parado,
e a preguiça mora dentro.

Há uma vontade louca,
de não ser mais cordial,
de não dizer mais, bom dia,
e só mostrar minha cara fria.

Sozinha, entre sinais e calçadas,
cercada de concreto em paredes,
sinto que a saudade, adormece em redes,
que o rio se contorce em minha face banhada.

Aqui, preciso de um crachá,
que me diz se posso entrar,
a cidade me mostra seu avesso,
enquanto me força a andar direito.

sábado, 7 de março de 2015

DISTÂNCIA FRIA

Atravessei a rua,
só para estar em sua cercania,
só para ver se recua,
essa distância fria.
O teu longe me assedia,
quer a minha rendição,
na hora mais fria,
faz tremer meu coração.
Não cabe dentro do dia,
qualquer louca decisão,
só cabe dentro da noite,
é secreta a intenção.
Cercada de vírgulas e pontos,
resguardei a emoção,
mas ela virou um conto,
se escreveu no coração.

sábado, 31 de janeiro de 2015

NÃO PASSA, TEMPO

Não passa tempo,
não passa
assim ligeiro.
Deixa o dia, primeiro.
Deixa a noite
descansar no travesseiro.
Não passa, tempo,
não passa.
engorda as horas
e decora por fora,
com minutos e segundos,
empacados.
pra que os ponteiros
não mostrem,
o velho tempo passar.
Não passa tempo,
não passa.
Fique na primeira estação,
em setembro do coração,
com as bagagens nas mãos.
Não siga sua vigem,
estou dezembro,
em completa solidão,
como aqui cheguei,
não lembro.

LEVANTAR E CAMINHAR

Não me chame pra comer.
Não me chame pra andar.
Não tente fazer eu esquecer,
o que ainda preciso lembrar.
Quero um tempo pra mim,
fechar a cara, me trancar
em minha torre sem marfim,
com uma canção de ninar.
Passarinhos e corujas,
cuidam dos dias e das noites,
cuidam pra que eu não fuja,
desses dias de açoites.
A vida me tirou tapetes
mas me deixou sobre o chão,
me abraçou com alfinetes,
mas escudou meu coração.
Deixou ficar a fantasia,
a magia de inventar,
deixou força e sabedoria,
pra levantar e caminhar.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

DIA SIM, DIA NÃO

Passo  as noites no sofá,
lendo ou, vendo tv.
Parece tranquilo demais...
Parece sossego demais...
Parece eu só, demais...
Vem sacudir essa apatia,
me tira dessa fotografia,
dessa pose tardia,
desse amarelo que o tempo,
resolveu me colorir !
Quero sentir a dor de novo,
me ver sem precisar de espelhos,
sem qualquer maquiagem !
Sentir um beliscar que me expulsa
de dentro e faz uma viagem.
Sentir sua mordida na nuca,
o seu abraço por trás !
Quero sentir qualquer sensação avulsa,
qualquer partícula do sempre,
pra não me perder novamente,
pra não me perder nunca mais,
diante de uma tv !

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

LA VAI ELA

La vai ela,
meio mulher, menina,
tão qualificada,
meio grossa, meio fina,
perfeitinha e acabada,
se achando divina.
Instalada num beco,
na quinta janela da esquina,
tem o sol  bem a seco,
clareando seu rio,
e um olhar de apego,
juntando seu mundo.
Já perdeu tantas contas
do rosário e do receituário,
da comida e do vestuário,
pede ajuda ao santuário,
quando o fim do mês desponta,
faz promessas pra sobreviver.
Diarista, quatro casas pra cuidar,
não tem o ponto cobrado,
nem horário pra matar,
só tem um passo estudado,
pra quando na rua passar.
Não anda mais em Madureira,
por amor, veio pra essa ladeira,
tentando se adaptar.
trocou o barracão da mangueira,
por uma quadra na fronteira,
e mostrar com classe faceira,
que é uma passista funkeira,
dois metros de sedução.
Raiz arrancada da favela,
la vai ela na branca passarela,
do carnaval de Corumbá