sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

DILEMA

Bem na fila do cinema,
escapou um pensamento,
faz invento,
vai brotar algum poema,
de amor,de protesto, de lamento...
esse é o meu dilema.
Fecho os olhos,
me protejo,
não é hora de sonhar.
O enredo do tal filme,
vai implodir na razão
ocupada com a questão.
Fecho os olhos,
me protejo,
desse vírus, bactéria,
dessa nociva matéria
que vai me contaminar:
Esses raios de ouro em pó,
pelas frestas do olhar,
é só a folia do vento,
tomando conta de mim...
Tá legal !
Então me faça dançar
entre as letras do alfabeto,
sou o artigo feminino
que inicia a canção.
Então me faça sorrir,
entre todas as palavras,
sou o sujeito próprio,
querendo um predicado.
Então me faça entender
que não ha rimas
pois o verso é solitário.
Então me faça aceitar
esse poema
poemado.

sábado, 30 de novembro de 2013

PRA SONHAR NÃO CONVIDA

Ah, meu bem !
Você nem imagina,
quando vês o meu sorriso,
que eu passei a noite inteira,
diante do espelho, com receita,
treinando minha falta de juízo,
pra lhe encontrar.
Você não sabe
mas, a senhora timidez,
não quer sair de casa,
se vestiu com a sensatez
e escondeu as minhas asas.
Essas coisas da vida,
nossas lidas, nossas contas,
pra sonhar, não convida.
Não lhe completo,
nem no meio nem nas pontas,
não há escadas nem trancas,
de trazer pro quarto escuro,
a sensação milenar da esperança,
e acordar o lado mais puro do amor.
Saímos às ruas pra brigar
pela santificada  família,
cansados,amargos,voltamos pro lar...
Não me acabe !
Não me mate dia a dia,
me deixe voar,
preciso voar !
Se eu não puder ir,
vem então ficar comigo !

GRINGO

Não me chame não !
Não me chame
"Chica !" Quando sale el sol,
pra sair ao sol !
Sei que sou do oeste,
fogo e compaixão.
Na boca do forno
queima  a paixão,
sai um beijo morno.
Aqui é caliente
mas, não me tente...
Estou com as malas prontas,
sigo para o sul!
Vou de encontro ao frio!
Vou me aconchegar!
Vou fazer fogueira,
só um calorzinho,
para me aquecer.
Logo vais chegar,
porque o amor vinga
quando é plantado.
Gringo de Sevilha,
sapo encantado,
não se perca em milhas !
No existe el tiempo,
ni el dolor, telo digo yo !
Dime corazón,
és tão verdadeiro ?
Se mostre então, após o beijo...
Beija ! Beija ! beija !

sábado, 23 de novembro de 2013

VERDADES

Não conto
verdades pra mim.
Não minto
sobre o que sinto.
Meu jogo é limpo.
Ando só,
restrita, faminta,
algoz, esquisita,
osso duro de roer.
Meu coração
é chama secreta,
é fogo, terra e céu
inventados:
arde antes de morrer.
Fui guardada
em armários, gavetas,
um objeto sem destino,
sua inquilina.
Pingente de lustre que enfeita
mas, eu sou faísca de luz no sereno.
Uma grinalda de um vestido fujão.
Quero não, ser perdoada !
Quero não, explicar
o meu poema !
Bebe então essa leveza
que eu coloquei aí,
sobre sua mesa !

ONDAS

Pés cortados, aroeira,
do cerrado, do sertão,
fazem fileiras,
diante do meu olhar.
A cerca inteira
separa,
meu mundo do seu.
Só,
na janela aberta,
a mansidão pra olhar,
onda do rio que vai,
vou nela.
Onda do rio que vem,
também.
Acalma, esquece,
tudo que entristece...
Eu pratico
o cactus da proteção.
Prefiro a solidão,
o arame farpado rasgando,
as veste do meu coração.
Eu sei,
o coração procura,
encontra, arrebenta
a porta do sul do oeste,
na primavera se veste,
outra vez vai passear.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

VIVER

Ando ficando distante
me afastando de mim,
me encantando com coisas
simples, reais,
preciosas demais.
Plantando nabos, tomates
bebendo limão no mate,
regando rosas, jasmins,
vão colorir meus jardins;
me afastando enfim
de tudo que lembra de mim.
Janeiro aponta com chuvas,
me faz respirar melhor...
olho com amor ao redor,
é hora de viajar !
Junto alguns velhos panos,
não faço os mesmos planos,
nem quero nada insano,
só quero seguir meu destino.
Estou fechando a mochila.
Estou fechando as portas...
meu pé direito na trilha,
meu olhar no horizonte.
Sombras, se alongam no chão,
e desmancham atrás de mim,
então assovio uma velha canção.
Estou ficando mais velha,
cada dia passa por mim,
não acendo mais as velas
que lembram quando nasci.
Estou sentindo a moça,
bem lá no fundo insistente,
deseja muito viver;
deixo que ela invente
um jeito de não morrer.
Eu sinto que a cada dia,
um coração bate em mim.

domingo, 4 de agosto de 2013

FAIXA INFAME

Abre essa porta, amor,
por ela preciso passar !
Quero arrancar essa dor
que se mudou cá pra casa.
Do lado de lá, vou voar !
Meu peito em carne viva'
impede a fé de brotar.
Abre essa porta, amor,
por ela tenho que passar!
Do lado de lá, vejo o céu,
aqui não há nuvens,
em volta do sol, um anel.
Aqui, a mãe Natureza
se esqueceu do lugar,
brotou no chão uma sordidez
que veio do Canal de Suez.
Abre essa porta, amor !
Meus sonhos na faixa infame,
insistem em serem turista,
se esticam...
além do horizonte de arame
mas se rompem
bem longe da vista.
Aqui na Faixa de Gaza
vou morrer sendo tão moço!
Vou viver sendo tão velho!
À beira do rodapé do poço!
Abre essa porta,amor,
antes que seja tarde!
Antes que eu seja uma data,
como em novembro de 56 !

NO REINADO DO SOL

Vou sentar
com o rosto ao sol,
logo de manhã !
Vou limpar minha mente
de tudo que incomodar,
vou esvaziar !
Vou tentar
abrir os olhos na luz,
tentar enxergar !
Vou saber
que as lembranças,
são sombras atrás.
Elas vão ficar,
vão me acompanhar !
Vou esperar
para ver novas cenas
mais lá,onde a vista alcançar,
sem atropelar !
Vou pra lá !
Vou pra lá !
Vou ficar
bem de frente do sol,
bem diante de onde nasce.
Vou aguardar
se eu chegar muito cedo.
Vou mudar minha cor.
Vou contar com o favor
que ele faz pra pintar
todo o cerrado.
Acordar toda a vida que há,
que teima em voar,
que insiste em brotar,
que quer mergulhar,
no campo minado;
e quando setembro voltar,
acabar esse frio,
vou pra Corumbá,
ver o rei descansar
no dourado do rio.
Vem pra cá ,
quero te abraçar !

domingo, 30 de junho de 2013

O QUE HÁ PRÁ SE FAZER

O que há prá se fazer,
se você chora.
Não cabes em meu abraço,
nas simples coisas que faço,
em minhas memórias não moras,
passas longe da vista,
não aceito sua visita.
Rompeu gasto o velho laço,
ficou o verso,
me encontra, torturador,
escreve ordens em cadernos,
 dadas do céu e do inferno,
me avisa que é tudo poema,
prá falar da dor, do amor.
O que há prá se fazer,
se você  ri.
Nada aqui prá  acolher,
não vejo o tanto que eu via,
não rio o tanto que eu ria,
só prá você.
Casa vazia, abismos prá lhe receber.
O soco que recebes
não tem rima, agora sabes !
Escuro prá você, tão claro prá mim !
O que há prá se fazer,
se a gente é silêncio ?
Não sei você, de silêncios estou cheia,
minhas palavras fazem discursos,
incendeiam,ou são leves como o vento,
saem do peito intensas ou calmas.
Querem  mostrar a minha alma !

sexta-feira, 28 de junho de 2013

ME LEVE PRÁ PASSEAR

Por um descuido, um acaso,
eu li seu caso,
esquecido em seu celular.
"Beijos, tô com saudade",
recado que me alcançou com atraso,
era tarde, muito tarde,
doente estava meu coração,
pelo desamor do seu  !
Dique rompido, quem impede,
da água voraz passar,
arrebenta sonhos crescidos,
deixa rastros, quer se espalhar,
nossas vidas, derramar !
Fica um aberto no peito,
deixa marcas, não tem jeito !
Há manhãs de saudade e segredos.
Há manhãs de angústia e choro.
Há manhãs de martelo e rochedo,
das lembranças do namoro...
Oh ! Sorriso fique aí !
Entre os dentes, escancarados,
ensaiando na boca entre aberta
ou, suave no brilho do olhar.
Fique em estado de alerta,
impeça meu coração de chorar,
me leve prá passear !

INTENSA

Ouvi você dizer
que eu sou intensa !
Nem percebi, meu querer,
estava ocupada lhe dando uma prensa,
com uma vontade imensa !
Volúpia e delicadeza,
grossa artéria aberta de emoção,
escarlate, sobre a mesa.
Urdindo teias na boca,
no peito, nas mãos,
prá lhe agarrar o coração !
Vem nadar em águas fundas,
tão doces, gelatinosas,
cuidado,aí se afunda
em perfumes de rosas!
Tão quente, lá no ventre !
Por favor, entre !
me dê canseira,
amor de vida inteira !

quarta-feira, 26 de junho de 2013

CHOVE CHUVA

Chove chuva !
Lave, leve todas as porcarias
da ladeiras, das pedreiras,
da morrarias, das fronteiras,
dos cortiços, dos alagados
das planícies, do planalto.
Roubaram meu sonho, meu aliado,
me deixaram de companhia
uma certa escuridão,
só enquanto o sol não vem !
Achei o rumo, a direção,
a candeia no horizonte,
clareia meu  duro chão !
Chove chuva !
não me impeça de seguir,
vou de encontro ao abraço,
da querida liberdade!
Se nada é eterno, se tudo muda
tão de repente, então sou gente !
Sou moça, sou crente,sou demente,
sou baderneira, sou "diferente",
sou a enlouquecida multidão !
Ah ! Minha Presidente,
seu pessadelo está nas vias, às vias,
nas paralelas, na aquarela
do meu Brasil !

VEM COMIGO !

Saí de casa e fui às ruas !
Mostrei a cara dura para a lua,
empurrada pelo vento sul,
noites frias, coração quente,
fui atrás de um céu azul,
de um preço mais justo,
de minha vida de alto custo !
Vem comigo, sonhos urbanos !
Romper as portas e as catracas,
deixar passar o gado e as ovelhas,
em fila pro seu lugar !Fechem as matracas !
É madrugada, a luta é velha...
Me dê meu chão !
Quero passar, quero cantar,
as minhas idéias de liberdade,
é mês de junho, abri os punhos...
eu sou tão jovem, quero abraçar !
Tô estrangeiro, tô desordeiro ,
sou estudante, trabalhador !
Sou brasileiro !
Se a cidade "dorme em pé ",
eu acordei e vou na fé!
Se a bóia é  fria, vou esquentar !
Se o céu está negro,eu vou pintar !
Verde- amarelo, prá eu sonhar,
vem comigo, o dia vai raiar !

sexta-feira, 7 de junho de 2013

QUEM SABE, LONDRES !

Cuidado, ela gritou !
Não me segurou
com palavras mais escuras,
não me deu uma armadura,
só me disse: Vá com Deus !
Eu vou, eu vou !
Eu vou de trem,
vou de busão, vou de carona,
ganhei coragem,
companheira bem mandona.
Eu vou ! Eu vou !
Subir ladeiras.
Descer pedreiras.
Bobby Dylan, no rádio, é retrô,
a mochila no capô !
Corre estrada, pradaria,
deixa eu ver a fotografia,
que ao redor me dá sinal !
Passa carro, sigo em frente,
cruzo águas sobre pontes,
banho de rio, até ontem,
em noites de breus e candeias.
Passa vento, despenteia
mas, deixa eu olhar a estrada,
ver a esfera laranja do sol,
se escondendo no espigão !
Eu vou prá longe,
quem sabe, Londres...
não sei por onde.
Por uma questão de alquimia
do branco e o vermelho em mim,
eu vou sozinha;
sem o olhar da vizinhança,
viver mais, com esperança.

terça-feira, 4 de junho de 2013

DESCULPE, AMOR

Desculpe, amor.
O tempo não cansa, não amansa,
trabalha feito estivador,
à noite, finge que descansa
e, faz dormir a nossa dor.

Desculpe, amor.
Meus olhos, alisam concreto,
endurecem até sob nuvens,
se resguardam em nosso teto
mas, em você se tornam reféns.

Desculpe, amor.
Bebemos, comemos, as receitas da tv,
em louças, talheres repartidos;
nossos sonhos, que ninguém vê,
continuam sendo construídos...

Desculpe, amor.
E se, a gente perder o minuto, sentar à mesa,
só prá cuidar do afeto ou, sentir o vento,
tirar nossa vida da correnteza,
fazer de nosso amor um invento ?

Desculpe, amor.
Tenho um coração exposto,
resumido em meus poemas.
A ternura, cá dentro tem um rosto
e, é difícil lhe mostrar com fonemas.

sábado, 1 de junho de 2013

CORAÇÃO

Ah ! Coração que se reparte,
sobra prá mim, qual parte ?
Não me pertences,
estás sempre pronto prá escapar.
Pulas muros, corres estradas,
nas montanhas, entre as estrelas,
nas superfícies dos rios, te  deixas levar,
sem pores os pés no chão.
Te  escondes em velhas gavetas,
em nós de caramelos esquecidos,
em bilhetes de amarelados papéis,
nas páginas daquele romance.
Aquietar-te, não aceitas,
olhas  devagar  antigos retratos,
daquela vida  perfeita,
e, em meu peito, dás mal tratos.
Ah ! Coração aventureiro !
Tentei te prender na paisagem,
cercas brancas, rosas perfeitas...
tu cansaste da imagem,
infeliz fizestes desfeitas,
já planejando a viagem.
Ah ! Coração que não se cansa !
Sempre inventas uma emoção,
estás velho e, na infância,
me custa ter-te afeição !
Ah ! Coração desobediente,
da trincheira, tu me feres
e, antes que meu peito arrebentes,
vou dar-te o que mais queres !

terça-feira, 28 de maio de 2013

VEM VIDA

Vem sol calcinador,
deixar meu dia mais brilhante,
chamuscar a velha dor
que assombra meu peito amante !

Vem brisa de outras praias,
treinando para ser tempestade...
antes que a chuva caia,
me afague o coração, com vontade !

Vem lua, meu doce enfeite,
vem alumiar essa saudade
antes que na cama me deite,
ao lado da lembrança que me abate !

Vem manhã, com certa calma,
ainda tenho que acordar
o corpo, o coração, a alma,
preciso de mim para sonhar !

Vem vida, para ser vivida,
chorar, sorrir, sofrer, esperançar.
Já tratei minhas feridas...
há uma felicidade lá fora, quer me encontrar !

domingo, 26 de maio de 2013

EU VOU SONHAR

Cansei
dessa vida fast food,
pronta para ser servida,
sem tempo de degustar.
Da fumaça de meu hollywood,
Amarula, mate, Red Label;
acordar com a cara amassada
como um bolo de papel.
De seu irritante toque em meu celular,
de minha "história" no facebook,
com seguidores, discípulos,
sem ser guru de coisa nenhuma.
Alguém que me manda um beijo,
ou, um lindo buquet de flores,
do outro lado do mundo,
eu já imagino uma intenção...
talvez, não exista, eu quem surto,
é só uma questão de grafia, de pontuação;
mesmo assim, aquele beijo, eu curto,
estou carente e sem parente,
correndo atrás da própria sombra
que, à noite me assombra.
Minha casa sem quintal,
me coloca em uma prisão,
entre torres e altos prédios
que me cercam feito assédio;
mas, se a janela sufocada
me mostrar um quadradinho do céu
e, se, a lua ela enquadrar...
com certeza, nessa noite, eu vou sonhar.

sábado, 25 de maio de 2013

JANELAS DE MANHÃS

Oh, manhã, vem me encontrar !
Vem me dar notícias boas,
fazer meu coração disparar
e, aquela mágoa, perdoa...
Ha dia da mais pura alegria.
Ha dia de dor, de solidão.
Há noite em que a mão fria da agonia,
vem e me aperta o coração.
Tenho uma dificuldade com as coisas,
por voar demais, ser semente alada.
Antes de me plantar na terra que você repousa
em um vaso qualquer,ser flor bem cuidada,
quero me esparramar por caminhos,
conviver com ervas daninhas...
Oh, sol  que finda meu dia,
me é difícil lhe ver sumindo
entre coisas costumeiras, em demasia...
Vem amanhã, vou lhe dar janelas com  manhãs
se abrindo.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

" COM CARINHO : AMOR "

Eu nasço e morro
entre palavras
que contam minhas memórias,
preenchem minha vida,
a viram no avesso,
me vestem com histórias.
Aqui, alí, acolá, no real, no infinito,
bem no coração maldito
de quem não me quer.
De todas as palavras
que desenham o que sou,
só uma carrego,
na alegria e na dor ,
com muito carinho :
AMOR

terça-feira, 7 de maio de 2013

QUATRO ESTAÇÕES

Minha pele tem caminhos
que só seus olhos passeiam,
se perdem em vales, montanhas...
tenho que lhe procurar.
Seu olhar tem uma manha,
prende o meu, sem avisar,
faz leitura que me acanha,
sem jeito, tento escapar.
Carrego de um modo tranquílo,
tantos eus que você não conhece...
à espreita, por detrás dos cílios,
lhe sondam, esgarçando sua espécie.
Esquisita, pessimista, esgrimista...
qualquer coisa sou, prá você;
só perceba quando dou a pista:
vôo, às vezes, longe, nem você me vê !
Volto, depois das quatro estações,
trago chuva, trago frio, trago o sol
e magia em nossas manhãs;
quando a noite esconder
nossos contornos,
lhe convido prá fazer esculturas,
sob o nosso lençol...
luz da lua é tinta branca,
derramada sobre as ancas...

quarta-feira, 1 de maio de 2013

VOCÊ E EU

Quis o destino juntar
duas almas em fim de carreira.
Eu seguia a caminhar,
você, vinha com sinais de coleira.

Juntamos nossas bagagens
debaixo do mesmo teto,
nossos dias construídos com colagens,
pedaços, seus e meus,com afeto.

Eu te alimentava com arroz e feijão,
cuidava de lhe deixar limpo e passado.
Você me trazia presentes de promoção,
eu, recebia feliz,o meu mimo trincado.


O tempo veio manso, corriqueiro,
vida a dois juntou contas prá pagar.
A chuva forte nos separou no aguaceiro...
nas águas me deixei levar.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

NO AVESSO

Há essas manhãs estrangeiras,
me fazendo companhia,
enquanto bebo café.
Talvez, seja eu a forasteira
que viajou enquanto dormia
e, se esqueceu de voltar.
Acendo uma luz que alumia,
para aqui fora enxergar
mas, a razão já me dizia...
"Há uma tristeza no avesso,
você precisa abraçar
e, para sua manhã, voltar !
Há um dia para começar."

quinta-feira, 18 de abril de 2013

MILAGRE

Não culpe o céu,
quando a chuva cair
e te molhar no caminho;
ele é só o infinito azul,
uma doce ilusão
que a gente inventou prá sonhar.
Não culpe a lua
se, ela surgir entre véus,
quem sabe o seu mistério,
seja o medo do escuro...
Ninfa nua a se banhar,
em uma lagoa de prata,
e em nossos olhos reinar.
Não culpe o sol
quando à tarde, ele mergulha,
nas águas serenas do rio...
Agradeça !
Agradeça ao dia andarilho,
que acorda a cada manhã
com a intenção
de nos dar um final com brilho. 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

SEM ESTAÇÃO

Nosso amor de antigamente.
Nossas vidas combinadas.
Nossas coisas divididas,
vão ficando espalhadas,
sobre a mesa do jantar.
Mastigadas.
Engolidas.
Vão causando solidão,
nó no peito, desatenção...
na espuma do sabão.
Olhos baixos, arredios,
mergulhados no feijão,
meu sorriso fugitivo
não sai mais do coração.
Meus poemas abandonados,
feito roupas no varal,
a caneta só quer desenhar
flores na palma da mão.
Essa angústia sem terreno,
erva daninha crescendo...
aprisionada, indiferente,
vai causar um acidente.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

SOMBRA

Você
não é a luz
que me ilumina
mas, a sombra
que me acompanha.
já mudei
o meu caminho.
Já busquei
outros carinhos,
andei um tempo
sozinho...
Já andei com a burguesia.
Fui em outras freguesias.
Cometi certas heresias.
Já me fiz
passar por cupido
me flechei
de um jeito estúpido.
Já fui
meu anjo protetor,
meu diabo delator.
Sonhei
com milagres, pecados,
já mudei o meu estado.
Já fui
meu a favor
e meu contra...
Já estive
em mesa de bar,
sozinha na sala de estar
e, quando o cansaço me chama,
eis sua sombra
à beira da cama.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

SAMBA PRÁ TURISTA

O samba que é samba
aqui não nasceu.
Aqui só passeia
macio, bem leve,
mulato, latino e branco de neve,
por becos escuros,
cinzentas ladeiras
que descem ao rio.
O samba daqui
tem terno e gravata,
seda, cetim,
terreiro de prata
e beiço carmim.
O samba daqui
batuca suave
sem pressa, moroso,
caliente, gostoso.
O sangue das veias
têm raios de sol.
As casas de samba
de dia estão nuas,
labutam em segredo
à espera da lua.`
À noite se trepam
com as ancas pesadas,
com abraços estalados,
com lábia malandra,
deslizam de banda,
verniz sobre giz.
 O samba daqui
é prá turista,
só prá turista !

CORPO

Eu tenho frases na pele
que o tempo ousou escrever,
talvez ao final se revele
história tão doce de ler.

Meus olhos, janelas abertas
para um ir e vir do coração,
passagens estreitas, tão certas,
luz de lua em meio à escuridão.


Meu pensamento, velho vagabundo,
habita prédio velho abandonado
de uma estação de trem à beira do mundo,
para vez ou outra viajar dissimulado.

Meu coração, soldado em luta,
dias e noites sem dormir.
Chora, espera, sonha, escuta;
criança misteriosa a sorrir.

Meu corpo celeste, girando no espaço,
vida e morte disputando lugar,
às vezes me abro, às vezes amordaço,
e se o sol me queima, me prateia o luar.

segunda-feira, 11 de março de 2013

FILHO

Não adianta fugir,
dessa dor que vem lenta,
está lhe fazendo crescer,
dia a dia ela se inventa.

Não basta apenas olhar
a vida passando ao redor,
as feras querem jantar
e o cardápio é feito de cor.

Alguém já disse conciso:
Não viemos aqui à passeio,
até nas trevas,andar é preciso,
prá saberes a que veio.

Posso mostrar meu caminho,
desvendado também no escuro,
mas num momento,estarás sozinho
e ficar em pé, lhe parecerá duro.

Hoje, apenas olho distante
para a rua onde moro,
mas não esqueça nenhum instante,
ainda cabes em meu colo.

          Para meus "um em dois" filho,
Rafael de Arruda e Fernando Antunes
       

terça-feira, 5 de março de 2013

ENQUANTO O DIA NÃO VEM

Na cama à noite, sozinha,
vejo você ao meu lado,
demarcado entre linhas,
nossos sonhos separados.
Tento fugir, faço pontes,
num ir e vir prisioneira.
Um dia talvez lhe conte,
num livro de cabeceira.
Traço, invento um rumo,
não encontrado no mapa
se me encontar, dali, sumo.
Notícias...me chegam, são tapas..
Então eu "ouço" você.
Então eu "sinto"seu cheiro.
Saudade chegou algoz,
me tortura entre travesseiros.
Minhas noites são sempre iguais,
afogadas em agonia.
São barcos à procura de cais,
em meio à ventania...

segunda-feira, 4 de março de 2013

CÁSSIA VERA

Cássia Vera pediu atenção
mas não deu nenhuma pista,
nosso mundo,um velho leão,
a feriu com garras moralistas.

Cássia Vera fugiu do seu mundo,
não quer mais despertar,
seu sonho está moribundo,
um pingo de tinta na tela,sem iniciar.

Cássia Vera, onde você está ?
A menininha magrela
que alegre se punha a cantar ?
Canta ainda na lembrança que tenho dela...

Cássia Vera precisa de abraço
prá aquecer seu coração,
prá juntar os seus pedaços,
acalma-los entre as mãos.

"Cássia Vera, ande nos trilhos" !
Reclama quem vai à frente.
Cássia Vera quer seu próprio brilho,
ser notada, virar gente !

Esse nó que a gente sente,
sem saber qual a razão,
é o medo num fio bem rente
de que sonhos espatifem no chão.

O dia sempre escurece,
não há muito o que fazer
e se a noite inevitável aparece,
surge a lua que nos ajuda a ver.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

SAUDADE

Anda por aqui, à toa,
uma saudade sem destino,
independente, voa,
passa por mim, é vento fino.

Tão distante de mim !
Tão junto a mim !
Beijo-a de mãos dadas
mas, não está tão à mão !

Bate sempre na porta,
não quero deixá-la entrar.
Seu olhar de adaga, me corta,
me deixa só, a sangrar.

No sono me engana, tão linda !
Meu coração vira latas,
diz que é visita bem vinda...
Acordo,no peito a estaca .

Cuida de me comer a carne.
Cuida de me esfacelar o coração.
Faz-me ilha sem farol de alarme.
Faz-me abismo, vazia,sem chão.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

QUÊ

Saudade de quê ?
do que você não foi ?
Das histórias que eu crei,
e que cresciam feito hera
entre paredes...
Prisioneiras se agarravam,
invasoras, se inventavam,
num compasso de espera
 para o algo, acontecer ?

Lutar além, prá quê?
No turbilhão das alegrias,
cismas, feridas,
eu quixotava quimeras.
Duelo inútil,
em zona morta,
meu coração.
Tão cansado...
Tão usado o seu vermelho,
que a dor o desbotou.

Falta do quê ?
De abraços, tão sem braços.
De carinhos, tão sem dono.
De todas as portas fechadas
e eu, sem chave certa para abrir.
Do quê, que eu tentava ser,
prá depois, um mais ou menos
cumprir.
.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

TEMPESTADE

Chorou a Noite, chorou.
Nada prá lamentar,
queria somente chorar.
Madrugada com cuidado,
abre a porta prá olhar...
Céu Cobalto, bem ranzinza,
me manda prá cama voltar.
Tento dormir, faço planos,
conto cordeiros insanos.
Conto dias.
Conto meses.
Conto anos...
Oh ! Manhã !
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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A COR DA DOR

Vou atirar no Atlântico,
uma gota a mais com sal.
Ele vai engolir.
Ele vai destemperar.
Ele vai diluir.
Vai por uma cor
que ninguém vai definir,
só vão ver o azul...
Azul emendado no horizonte
infinito...
Quando a noite vier
e,descansar no silêncio,
aquela gota de lágrima,
será mais uma estrela.
É só olhar para o céu,
verás ela brilhar...

QUE QUERES ME FAZER ?

Que queres me fazer,
oh,coração ?
Deixares de bater,
por opinião ?
Falhar sua batida,
por falta de atenção,
por ter te segurado
por tanto tempo,
sangrando,
em minhas mãos ?

Que queres me fazer,
oh,coração ?
Doer em meu peito,
com razão ?
Pular feito louco,
por tesão ?
Acelerar na surdina,
por pressão ?

Que queres me fazer,
oh, coração ?
Aproveitar a ocasião
e, seres meu ladrão ?
Que queres me dizer,
oh, coração...