sábado, 1 de junho de 2013

CORAÇÃO

Ah ! Coração que se reparte,
sobra prá mim, qual parte ?
Não me pertences,
estás sempre pronto prá escapar.
Pulas muros, corres estradas,
nas montanhas, entre as estrelas,
nas superfícies dos rios, te  deixas levar,
sem pores os pés no chão.
Te  escondes em velhas gavetas,
em nós de caramelos esquecidos,
em bilhetes de amarelados papéis,
nas páginas daquele romance.
Aquietar-te, não aceitas,
olhas  devagar  antigos retratos,
daquela vida  perfeita,
e, em meu peito, dás mal tratos.
Ah ! Coração aventureiro !
Tentei te prender na paisagem,
cercas brancas, rosas perfeitas...
tu cansaste da imagem,
infeliz fizestes desfeitas,
já planejando a viagem.
Ah ! Coração que não se cansa !
Sempre inventas uma emoção,
estás velho e, na infância,
me custa ter-te afeição !
Ah ! Coração desobediente,
da trincheira, tu me feres
e, antes que meu peito arrebentes,
vou dar-te o que mais queres !

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