sexta-feira, 28 de outubro de 2011

DIA BRANCO. NOITE MORENA

Hoje
preciso de uma noite Morena,
amena,serena, quieta
porque minha vida corrida
passou rápido,atropelou.
Não deu tempo para mim,
muito menos prá você.
Não me lembrei de te encontrar.
Hoje
preciso de uma noite Morena
mesmo que fique diante do espelho,
procurando seu olhar,
olhando prá dentro de mim
e, nessa louca procura, me perder
prá você me encontrar.
Meu dia branco
mostra todas as cicatrizes,
tatuadas em meu peito.
Eu preciso apagá-las.
Não quero me olhar de frente
sem ter você ao meu lado,
eu não me encontro inteira.
Preciso que você me ajude
a montar os meus pedaços.
Hoje
preciso de uma noite Morena,
com uma brisa viajante,
carregando o sal das salinas,
carregando o açúcar das colméias.
Em sua passagem
faça em mim um suave carinho
e, me mostre o caminho
prá encontrar você.
Hoje
preciso de uma antiga noite Morena,
bem longe da aflição da Catorze.
Sem distrações,multidões,temores.
Sem esses amores vendidos,
sem esses dramas em cena.
Marquei encontro com a saudade,
ela,com certeza me trará você.
Meu dia branco
me afastou para o escuro,
me esqueceu no quarto dos fundos,
estou com peias,estou em teias
que eu mesma teci.
Preciso desatar os nós
antes de te encontrar.
Hoje
preciso dessa noite Morena
para ir ao seu encontro
porque finalmente me encontrei.
Preciso dessa noite desnuda de pressa
que virá bem descansada,
até o sétimo andar desse apartamento.
Preciso manter a promessa.
Não imaginar loucas histórias,
nem inventar destinos
por trás dessas janelas,
vê-las,apenas como estrelas
que se acendem uma a uma
num espetáculo particular de luzes.
Depois de um dia branco,
estrelas viram enfeites
prá nossa noite Morena.

domingo, 23 de outubro de 2011

UM AMOR COMO ESSE

Eu quero
um amor como esse,
que tenha vida própria
mas que more comigo.
Que saia de mim
só para se jogar seguro,
sem segredos,sem reservas
no amor que sonha ter
ao meu lado.

Eu quero
um amor como esse,
que sobreviva guerreiro,
e vença meus pontos extremos,
entre o riso e o choro.
Que se balance com perigo
entre a dúvida e a esperança:
de que encontrou ao meu lado
o seu lugar,
nessa e na outra vida.

Eu quero
um amor como esse,
que se misture
mas que não perca a essência.
Que seja generoso e complacente.
Que se guarde precioso,
mas que se reparta e se abasteça.
Que seja estudioso e vigilante...
Questionando e mudando
o "nada é para sempre".

Eu quero
um amor como esse,
que se esconda à sete chaves,
como um mapa de tesouro
que não se quer perder
mas fácil de achar
pois há um único caminho marcado
entre só ele e eu.

Eu quero
um amor como esse,
que nasça na timidez e na ternura,
de gosto agridoce, às vezes destemperado,
que se alimenta de serenidade e de sustos,
prá sempre estar alerta.
Que reaja com cautela mas se lança no escuro,
quando estiver comigo.
Que me abrace com conforto e me beije com paixão.
Que não vá cobrar experiências,
apenas sentir alegria por estar ao meu lado.

Eu quero
um amor como esse,
que ganhe instinto na inocência,
que seja repleto de afeto e gratidão.
Que seja iluminado e que ilumine.
Que seja como o sol depois da tempestade,
que invada minha janela sem permissão
e aqueça meu leito .
Que seja tansparente e eterno
enquanto vivo.

Eu quero
um amor como esse,
que espalhe em meu caminho,
o cheiro viril de um doce carinho,
prá que eu possa viver prá ele,lembrar dele,
até nas pequenas,
inúteis
e descartáveis coisas
com que ele adornou o nosso ninho.

Eu quero
um amor como esse,
que carregue bandeira de guerrilha,
sem estar em guerra
apenas  por estar ao meu lado,
sua companheira.
Que coloque o coração entre trincheiras
para o amor dos dois sobreviver.

Eu quero
um amor como esse,
cheio de defeitos por ser real
mas que não se separa do outro
como algo estragado.
Que sinta mágoa em vez do ódio.
Que tenta compreender a partida
mas que não a aceita.
Que não se acalma e não se apaga,
posto que é chama
queimando  em silêncio
na eternidade...

domingo, 16 de outubro de 2011

NINFETA PREDADORA

Menina...
Você é tão fácil,
extremamente fácil
para em uma cama se deitar.
Seu amor é prá toda hora.
Seu amor é prá todo mundo.
Tesão instântaneo do agora.
Seu caráter moribundo
dentro de você agoniza.
Há em ti,um jeito escancarado,
predador,indomado
de sua presa agarrar;
vais tirando retratos,
vais congelando sorrisos,
nas paredes de seu quarto.
Fazes estoques,abastecimento
prá sua fome saciar;
não importa a cor,aparência,cheiro,
serve aquele forasteiro...
Tu os escolhe no olhar.
O olhar aprisionado
sente o jogo sensual.
Não precisa lua cheia
para a jovem loba atacar.
Perfumada,colorida,
atitude casual...
Tropeça,cai sobre os braços,
um dengo no olhar,fatal!
Está preso. Está no laço.
É mais um que a ninfeta
deita fácil em sua cama.

sábado, 15 de outubro de 2011

AO FINAL DE TUDO (Depois de kafka e Clarice)

Ao final de tudo
já não serei mais eu,
carne e osso;
fácil de tocar,
fácil de ouvir.
Serei menos.
Serei mais.
Serei só um desenho
feito de giz nas trevas;
visto de relance,
visto no instante,
fácil de apagar,
fácil de esquecer.

Ao final de tudo
vou morar nos sonhos
que eu mesma construí.
Vou flutuar mais à vontade
nesse mundo só meu.
Vou ser só energia,
me alimentar de alegria.
Serei apenas essência,
presa na transparência
do meu enrêdo particular.
Fácil de ver.
Fácil de entender.

Ao final de tudo
voltarei para a noite.
Serei um fragmento.
Brilho de estrela.
Rabo de cometa.
Um ponto a mais no breu.
Fácil de encontrar.
Fácil de permanecer.

Ao final de tudo
serei apenas pedaços
de emoções.
Serei fagulha no instante;
que durará,
que perdurará,
que tremulará,
antes de se lançar labareda
queimando no infinito.

sábado, 8 de outubro de 2011

MAIS SETEMBRO...

Resolvi voltar nesses dias mais claros e brilhantes de setembro.Preciso dessa luz para chegar lá e,não me perder no caminho.
              Quando ainda menina,bem verde,me lembro que meus interêsses eram curtos e rasos.Cabiam em minha boca cheia de açúcar e,se dividiam com cautela entre minhas mãos,agarradas em livros e, entre meus pés explorando o chão,as árvores,o trem,o rio. Meu coração ainda puro,crente vivia na imaginação,em meio àquelas histórias onde tudo era maravilhosamente possível:príncipes que viravam sapos,princesas que acordavam com beijos,dragões que punham fogo pela boca,bruxas que voavam com vassouras...
              Na minha casa grande e fria,não havia torres nem porão mas o quintal era grande,cheio de árvores frutíferas que apodreciam pelo chão,as do vizinho eram bem melhores pois tinhamos que roubá-las. Em meu quarto residia toda a magia,naquelas noites geladas. Rendas bordadas pelas árvores ao lado de minha janela,brincavam na parede de dentro,eram feras,eram monstros,seres alados .Aquelas sombras mágicas me enchiam de suave espectativa...
Quem sabe eu não seria levada para brincar na parede?
Quando a tempestade passava,corria prá fora, olhava o céu coberto de nuvens cinzas.Fechava os olhos...Era um imenso cobertor, sentia o ventinho gelado de mais chuva.Esses momentos são especiais até hoje.
A vida se dividia entre oito solitários sobreviventes.Meus cinco irmãos eram apenas sombras,brincando na escuridão,eu também não vivia muito na luz mas a procurava de um jeito peculiar e, a encontrava no bico de luz amarela pendurada no centro do teto do quarto trancado. Em tardes de temporal,a luz acesa me aquecia, me levava prá dentro de mim,eu ficava comigo e me bastava. Sentada no chão ,cercada de livros de contos de fadas e bruxas,a solidão era bem vinda,era necessária. Não sentia falta de amigos reais,eles estavam lá fora,eu preferia cá dentro.
              Hoje meus interêsses são outros,minha voz,meu sorriso anunciam que estou aqui fora; meu dia a dia tem som de panelas,de máquinas lavando roupas,de cachorro latindo,de alguém me chamando ao portão,tentando me vender uma bíblia ou cheiro verde mas lá dentro continuo quase a mesma: eu ainda sonho com coisas, agora impossíveis de realizar pois o corpo não permite mas, eu posso escrevê-las e vivê-las na boa,velha e fiel imaginação

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

AS MULHERES PANTANEIRAS

Falta água na torneira
das mulheres lavadeiras.
Falta feijão na panela
das mulheres mais velhas.
Falta terra prá plantar
para as mulheres desse lugar.

Lá vão elas
com a trouxa na cabeça,
um rodilho prá equilibrar.
Em casa,antes que o sol desapareça,
faz qualquer coisa pro jantar.

Muita roupa prá lavar.
Muita água prá carregar.
Criança barrigudinha
corre descalça na estradinha.
Falta tempo prá abraçar.

Falta terço prá rezar
para as que são benzedeiras.
Nas águas doces que já foram mar,
zinca o socorro das parteiras,
traz ao mundo mais uma pantaneira.

Falta viço de arvoredo
na pele tostada de sol
das que estão na lida mais cedo.
Falta carmim de roseira
nas que são mais faceiras.

Lava os calos com sabão.
Pente de osso pro pichaim.
Água de cheiro no coração,
À noite se deixa levar na cama de capim.

Debaixo do sol ardente
ou,sob o manto de estrelas,
são todas mulheres valentes,
essas belas pantaneiras.

Rema,rema remador
a saudade a desaguar.
Rema prá longe a tal dor
prá chegar em Corumbá.

Na cidade é cinderela,
vestido de chita,faceira.
No cais do porto,em tarde de aquarela,
sua vida parece uma simples brincadeira. 

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

MANDINGA FEITIÇARIA QUEBRANTO...

Fogo amarelo,fogo vermelho.
Lambe ligeiro o seco chão,
seca a baía,ferve o espelho,
queima sem dó a criação.
Corre Cutia prá boca  do dia.
Voa Coruja prá boca da noite.
Lobo Guará,Onça pintada,
Ema pernalta,Tamanduá,
fogem sem rumo em meio à fumaça.
Eu quero quero,eu bem te vi,
eu massa barro,eu beija flor.
Nada que eu vire,
nada que eu faça,
para a desgraça,
nada escapa desse açoite.

Bate tambor, prá avisar.
Bate tambor dos deuses pagãos.
Façam mandinga,feitiçaria,
a melhor bruxaria,
qualquer porcaria...
Salvem os bichos que enfeitam meu céu.
Salvem os bichos que dançam nas águas.
Salvem os bichos que reinam no chão.

Bate tambor,bate tambor.
Corra a planície,a morraria,
apaguem essa cor,
afastem a dor.
Salvem do fogo as moradias.
Derramem o balde da calmaria.

Fadas e Bruxas.
Seres bizarros da mitologia.
Algum Guardião da escuridão.
Façam magia,olhem com quebrantos,
façam chover nessa secura.
Usem minhas lágrimas
e, todas as lágrimas
de todos os prantos
que caem sobre os rostos.
Retira o amargo.
Retira o salgado
de minha boca.
Regue a paz.
Regue a ternura.
Regue a esperança
e, todas as sementes
que se esconderam
no coração dessa terra.

Ser Vingador,Ser Justiceiro.
Façam poção no caldeirão,
usem também varinha de condão.
Transforme em pedra,o queimador,
mantenha pulsando seu coração,
torne eterna sua memória,
nela, somente essa história,
se lembrar prá sempre
que fez algo errado,
queimou o cerrado.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A nossa história se repete
igual saco de confete
que já nasceu sem cor
e,sem graça se reparte
de um jeito bem desigual.
Não é destino.
Não é inspiração divina.
É desatino.
Simples,louco,
desatino.
Nosso dia a dia não anda
dentro das quatro paredes,
desanda mais cada dia
e,não tentamos consertar;
virou um louco ritual,
uma dança que provoca,
sufoca,evoca o mal.
Aquele amor verdadeiro,
precisa de curandeiro,
se esquentar no candeeiro
ou,talvez rebelião
que sacuda a prisão.
Palavras são balas perdidas
atingindo todos os lados.
Atira na mão.
Atira no colchão.
Atira no cão.
Atira no chão.
Atira no coração.
Ninguém trata as feridas.
Vivemos engalfinhados,
presos nesse emaranhado,
vomitando solidão.
Nosso dia  acanhado,
doido para anoitecer,
anda todo banhado
de raiva e frustração.
Não vemos a solução.
Não quer brilhar.
Não quer deixar
um rasgo de luz,penetrar nesse breu
e,iluminar o pesar.
Não vem a chuva molhar
prá acalmar toda essa sede.
Não vem o sol prá queimar
e, a raiva dissolver.
Não vem nossa estrela brilhar
e,a nossa boa lembrança retornar.
É pedra no coração.
É no´cego,apertado
que marca nossa distância.
separa tudo em lados,
difícil de ser desfeito.
O tudo e o nada bem guardados,
no inverno daqui de dentro,
no inferno daí de dentro.
Fogão,sofá,geladeira,
cama,rádio,prateleiras,
juntamos tantas besteiras
para a vida a dois funcionar.
Nosso amor etiquetado
não encontrou o seu lugar.
Passa tempo,passa tempo,
vai passando devagar.
Passa por uma trilha estreita
entre a garganta e o peito.
Retira do coração
esse amargo desfecho,
dê um outro jeito.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

AMÉRICA. EU TÔ EM CASA

Não quero uma casa no campo
que me estampe na mesma paisagem.
Quero uma casa sobre rodas,
sem enderêço,na América do sul,em viagem.

Só prá dirigir,um sujeito livre,leve,solto,com tino,
que diante do susto,do inesperado,sorria,
que não tenha pressa,que não se preocupe com o destino,
que aprecie um café forte e doce, ao raiar do dia.

Levar comigo tudo que me é caro,
quem sabe Andréa,com certeza Rafa e Fernando.
Meu cão Veludo,sua fidelidade,seu faro,
dois ou três "adotados",prá completar o bando.

Minhas flores,enfeitando as janelas,
nas paredes,os retratos do passado
prá ir matando as saudades mais singelas
que em meu peito estacionaram em esquerdo lado.

"No me quedar in ningún hogar,
solo se fuera por una parrilhada al punto
o una trucha caliente a la plancha,
o para mirar el mejor hogar del mundo"

Em meu quintal a visão da Cordilheira,
dos vulcões,das lagunas,do deserto de sal,
dos rios velozes,das ruínas,das geleiras,
das belas praias,das cachoeiras,do Pantanal.

Longe do borburinho,da badalação.
A Clarice,Coralina, a Allende,na cabeceira.
O Alencar,o Amado,em minha rede,sob um céu de constelação.
Paz,amor e beleza,com esses ingredientes ser doceira.

Machu Picchu,Urubamba,corredeiras do barulho,
no ouvido a Vanessa,Venegas,Gadu,Marisa,
Lenine,Bublé,Seu Jorge,o Sarravulho...
"Me abraça manta colorida,me proteja amuleto,passe por mim inusitada brisa!"

Aonde estou? Eu tô em casa.
Eu sou daqui,do altiplano,eu sou de lá.
Sou do Brasil,sou do cerrado,do alagado,
do Chacaltaya,do Atacama,Terra do fogo,de Corumbá.

Roda é giz desenhando carreteiras.
Meu coração vai de carona,não tem fronteiras.
Minha vontade é livre,é mochileira.
Minha porta é de sol,o que vale é sagrado,é branca minha bandeira!