sábado, 8 de outubro de 2011

MAIS SETEMBRO...

Resolvi voltar nesses dias mais claros e brilhantes de setembro.Preciso dessa luz para chegar lá e,não me perder no caminho.
              Quando ainda menina,bem verde,me lembro que meus interêsses eram curtos e rasos.Cabiam em minha boca cheia de açúcar e,se dividiam com cautela entre minhas mãos,agarradas em livros e, entre meus pés explorando o chão,as árvores,o trem,o rio. Meu coração ainda puro,crente vivia na imaginação,em meio àquelas histórias onde tudo era maravilhosamente possível:príncipes que viravam sapos,princesas que acordavam com beijos,dragões que punham fogo pela boca,bruxas que voavam com vassouras...
              Na minha casa grande e fria,não havia torres nem porão mas o quintal era grande,cheio de árvores frutíferas que apodreciam pelo chão,as do vizinho eram bem melhores pois tinhamos que roubá-las. Em meu quarto residia toda a magia,naquelas noites geladas. Rendas bordadas pelas árvores ao lado de minha janela,brincavam na parede de dentro,eram feras,eram monstros,seres alados .Aquelas sombras mágicas me enchiam de suave espectativa...
Quem sabe eu não seria levada para brincar na parede?
Quando a tempestade passava,corria prá fora, olhava o céu coberto de nuvens cinzas.Fechava os olhos...Era um imenso cobertor, sentia o ventinho gelado de mais chuva.Esses momentos são especiais até hoje.
A vida se dividia entre oito solitários sobreviventes.Meus cinco irmãos eram apenas sombras,brincando na escuridão,eu também não vivia muito na luz mas a procurava de um jeito peculiar e, a encontrava no bico de luz amarela pendurada no centro do teto do quarto trancado. Em tardes de temporal,a luz acesa me aquecia, me levava prá dentro de mim,eu ficava comigo e me bastava. Sentada no chão ,cercada de livros de contos de fadas e bruxas,a solidão era bem vinda,era necessária. Não sentia falta de amigos reais,eles estavam lá fora,eu preferia cá dentro.
              Hoje meus interêsses são outros,minha voz,meu sorriso anunciam que estou aqui fora; meu dia a dia tem som de panelas,de máquinas lavando roupas,de cachorro latindo,de alguém me chamando ao portão,tentando me vender uma bíblia ou cheiro verde mas lá dentro continuo quase a mesma: eu ainda sonho com coisas, agora impossíveis de realizar pois o corpo não permite mas, eu posso escrevê-las e vivê-las na boa,velha e fiel imaginação

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