sábado, 9 de julho de 2011

VIAGEM

Vacas magras, plantação.
Campo seco, verão.
Céu  morrendo,escuridão.
Riacho turvo, pontilhão.
Homem franzino, guardião.
Mulher sozinha, desesperação.

Passa rápido entre janelas,
distâncias lambidas pelo vento.
foge meu olhar da ruína,
cerrando a velha cortina.

Inquieto olhar,
quer se encostar em outro lugar.
Distraído olhar,
se chocou com um outro olhar.
Interessado olhar,
se arrisca bem perto da teia.
Prisioneiro olhar,
encontrou o seu lugar.

O que queres me contar
com tamanha intensidade?
Meu pensamento faz linhas
nos cantos da boca e da testa,
escritas de imaginação,
mapas de curiosa tensão.

O apito choroso do trem,
rompe o elo, a ligação.
Fecho os olhos enfim libertos,
dou-lhes medo e proteção.
Meu destino já está perto.
Meu destino já está marcado.
Meu destino já está traçado.
Na passagem está escrito:
"Não nas estrelas, no sal."

Será que rasgo a passagem?
Mudo o destino final?
Sigo para sua estação?
Será que  mudo a imagem,
visto um novo personagem
e,de mãos dadas com a emoção,
sigo para a sua cidade, Perdição?

MAR DE XARAÉS

Grita laranja o céu sob a bela revoada...
Oh tristeza,crie mágicas asas,agora!
Carregue consigo essa saudade acampada
pois ela teima em não ir embora.

Me dê de presente uma manhã singela.
Descanse meu olhar entre as águas e o coador.
Espalhe o cheiro do café além da janela,
misture coisas simples,para prender meu pensamento voador.

Não ter pressa,não desejar tudo,não me sentir um nada,
embarcar nas folhas brilhantes do camalote viajante.
Vencer,apenas uma jornada,
junto com esse rio que se alargou na vazante.

Água, na terra se mistura.
Minha esperança está inundada.
é um saber que não traz a cura,
da saudade que pinga em conta gotas, regulada.

Socós_bois,dia inteiro o corixo patrulhando,
prendam minha agonia no bico
que cá em meu peito está brincando.
Já passou da hora! Doente fico.

Águas que correm sem roteiro.
Rios, baias, lagoas,
enterrem minha tristeza em barreiros.
Na areia da lagoa,façam uma bela coroa.

Não hão dias e noites iguais.
Mudam-se as cores,até a lua se reparte em pedaços.
Algum dia meus sentimentos se tornarão ilegais
e, só então aceitarei o novo abraço.

Em meu quintal,ao sol,se aquecem os jacarés.
Brilha o descanso perigoso,predador.
minha solidão se prende entre o adobe e o sapé.
meu coração, se dividiu no mar de Xaraés.