domingo, 30 de junho de 2013

O QUE HÁ PRÁ SE FAZER

O que há prá se fazer,
se você chora.
Não cabes em meu abraço,
nas simples coisas que faço,
em minhas memórias não moras,
passas longe da vista,
não aceito sua visita.
Rompeu gasto o velho laço,
ficou o verso,
me encontra, torturador,
escreve ordens em cadernos,
 dadas do céu e do inferno,
me avisa que é tudo poema,
prá falar da dor, do amor.
O que há prá se fazer,
se você  ri.
Nada aqui prá  acolher,
não vejo o tanto que eu via,
não rio o tanto que eu ria,
só prá você.
Casa vazia, abismos prá lhe receber.
O soco que recebes
não tem rima, agora sabes !
Escuro prá você, tão claro prá mim !
O que há prá se fazer,
se a gente é silêncio ?
Não sei você, de silêncios estou cheia,
minhas palavras fazem discursos,
incendeiam,ou são leves como o vento,
saem do peito intensas ou calmas.
Querem  mostrar a minha alma !

sexta-feira, 28 de junho de 2013

ME LEVE PRÁ PASSEAR

Por um descuido, um acaso,
eu li seu caso,
esquecido em seu celular.
"Beijos, tô com saudade",
recado que me alcançou com atraso,
era tarde, muito tarde,
doente estava meu coração,
pelo desamor do seu  !
Dique rompido, quem impede,
da água voraz passar,
arrebenta sonhos crescidos,
deixa rastros, quer se espalhar,
nossas vidas, derramar !
Fica um aberto no peito,
deixa marcas, não tem jeito !
Há manhãs de saudade e segredos.
Há manhãs de angústia e choro.
Há manhãs de martelo e rochedo,
das lembranças do namoro...
Oh ! Sorriso fique aí !
Entre os dentes, escancarados,
ensaiando na boca entre aberta
ou, suave no brilho do olhar.
Fique em estado de alerta,
impeça meu coração de chorar,
me leve prá passear !

INTENSA

Ouvi você dizer
que eu sou intensa !
Nem percebi, meu querer,
estava ocupada lhe dando uma prensa,
com uma vontade imensa !
Volúpia e delicadeza,
grossa artéria aberta de emoção,
escarlate, sobre a mesa.
Urdindo teias na boca,
no peito, nas mãos,
prá lhe agarrar o coração !
Vem nadar em águas fundas,
tão doces, gelatinosas,
cuidado,aí se afunda
em perfumes de rosas!
Tão quente, lá no ventre !
Por favor, entre !
me dê canseira,
amor de vida inteira !

quarta-feira, 26 de junho de 2013

CHOVE CHUVA

Chove chuva !
Lave, leve todas as porcarias
da ladeiras, das pedreiras,
da morrarias, das fronteiras,
dos cortiços, dos alagados
das planícies, do planalto.
Roubaram meu sonho, meu aliado,
me deixaram de companhia
uma certa escuridão,
só enquanto o sol não vem !
Achei o rumo, a direção,
a candeia no horizonte,
clareia meu  duro chão !
Chove chuva !
não me impeça de seguir,
vou de encontro ao abraço,
da querida liberdade!
Se nada é eterno, se tudo muda
tão de repente, então sou gente !
Sou moça, sou crente,sou demente,
sou baderneira, sou "diferente",
sou a enlouquecida multidão !
Ah ! Minha Presidente,
seu pessadelo está nas vias, às vias,
nas paralelas, na aquarela
do meu Brasil !

VEM COMIGO !

Saí de casa e fui às ruas !
Mostrei a cara dura para a lua,
empurrada pelo vento sul,
noites frias, coração quente,
fui atrás de um céu azul,
de um preço mais justo,
de minha vida de alto custo !
Vem comigo, sonhos urbanos !
Romper as portas e as catracas,
deixar passar o gado e as ovelhas,
em fila pro seu lugar !Fechem as matracas !
É madrugada, a luta é velha...
Me dê meu chão !
Quero passar, quero cantar,
as minhas idéias de liberdade,
é mês de junho, abri os punhos...
eu sou tão jovem, quero abraçar !
Tô estrangeiro, tô desordeiro ,
sou estudante, trabalhador !
Sou brasileiro !
Se a cidade "dorme em pé ",
eu acordei e vou na fé!
Se a bóia é  fria, vou esquentar !
Se o céu está negro,eu vou pintar !
Verde- amarelo, prá eu sonhar,
vem comigo, o dia vai raiar !

sexta-feira, 7 de junho de 2013

QUEM SABE, LONDRES !

Cuidado, ela gritou !
Não me segurou
com palavras mais escuras,
não me deu uma armadura,
só me disse: Vá com Deus !
Eu vou, eu vou !
Eu vou de trem,
vou de busão, vou de carona,
ganhei coragem,
companheira bem mandona.
Eu vou ! Eu vou !
Subir ladeiras.
Descer pedreiras.
Bobby Dylan, no rádio, é retrô,
a mochila no capô !
Corre estrada, pradaria,
deixa eu ver a fotografia,
que ao redor me dá sinal !
Passa carro, sigo em frente,
cruzo águas sobre pontes,
banho de rio, até ontem,
em noites de breus e candeias.
Passa vento, despenteia
mas, deixa eu olhar a estrada,
ver a esfera laranja do sol,
se escondendo no espigão !
Eu vou prá longe,
quem sabe, Londres...
não sei por onde.
Por uma questão de alquimia
do branco e o vermelho em mim,
eu vou sozinha;
sem o olhar da vizinhança,
viver mais, com esperança.

terça-feira, 4 de junho de 2013

DESCULPE, AMOR

Desculpe, amor.
O tempo não cansa, não amansa,
trabalha feito estivador,
à noite, finge que descansa
e, faz dormir a nossa dor.

Desculpe, amor.
Meus olhos, alisam concreto,
endurecem até sob nuvens,
se resguardam em nosso teto
mas, em você se tornam reféns.

Desculpe, amor.
Bebemos, comemos, as receitas da tv,
em louças, talheres repartidos;
nossos sonhos, que ninguém vê,
continuam sendo construídos...

Desculpe, amor.
E se, a gente perder o minuto, sentar à mesa,
só prá cuidar do afeto ou, sentir o vento,
tirar nossa vida da correnteza,
fazer de nosso amor um invento ?

Desculpe, amor.
Tenho um coração exposto,
resumido em meus poemas.
A ternura, cá dentro tem um rosto
e, é difícil lhe mostrar com fonemas.

sábado, 1 de junho de 2013

CORAÇÃO

Ah ! Coração que se reparte,
sobra prá mim, qual parte ?
Não me pertences,
estás sempre pronto prá escapar.
Pulas muros, corres estradas,
nas montanhas, entre as estrelas,
nas superfícies dos rios, te  deixas levar,
sem pores os pés no chão.
Te  escondes em velhas gavetas,
em nós de caramelos esquecidos,
em bilhetes de amarelados papéis,
nas páginas daquele romance.
Aquietar-te, não aceitas,
olhas  devagar  antigos retratos,
daquela vida  perfeita,
e, em meu peito, dás mal tratos.
Ah ! Coração aventureiro !
Tentei te prender na paisagem,
cercas brancas, rosas perfeitas...
tu cansaste da imagem,
infeliz fizestes desfeitas,
já planejando a viagem.
Ah ! Coração que não se cansa !
Sempre inventas uma emoção,
estás velho e, na infância,
me custa ter-te afeição !
Ah ! Coração desobediente,
da trincheira, tu me feres
e, antes que meu peito arrebentes,
vou dar-te o que mais queres !