domingo, 29 de abril de 2012

GLACÊ

Eu lhe vi ao longe,
caminhando ao vento,
cabelos compridos ao vento,
vestido comprido ao vento.
O mar tentava lhe invadir.
As ondas se encrespavam
mas,ficavam só na linha,
                       só na linha
e tudo virava horizonte,
com as ondas num ir e vir,
sobre tudo era açúcar
querendo lhe diluir.
O que você pensava ?
O que você ouvia ?
O que você queria ?
De longe a areia
era apenas glacê,
pincelada por seus pés.
Açúcar cristalizado,
levemente queimado,
era seda,
era seda,
o sol tentava interferir,
num claro escuro assanhado.
Ele queria e você deixava,
nascer vermelho quente,
o sentimento inocente
da gente,
que era doce,
que era doce...
Era apenas glacê.

sábado, 28 de abril de 2012

MINHA RECEITA

A fada madrinha
não está na história,
o encanto perdeu o lugar.
Já não tenho esse mundo prá mim
que cabia num quarto qualquer.
Ele encurtou,sumiu na distância,
eu segui sem magia,tinha pressa
de beber a tal água da fonte,
de saciar uma fome na origem,
que me aguardava também
no horizonte.
Dia a Dia construi minha vida,
bons costumes,maus costumes,
rabiscaram a pessoa que sou,
me juntaram por baixo da pele,
me enfeitaram por cima com panos.
O sorriso que trago na boca,
é meu  eterno cartão de visita.
Vê se você me aceita.
Vê se você acredita.
Leia a fórmula em minha bula.
Leia o passo a passo em minha receita.
Vem comigo sem pesar o amanhã,
nem que seja até ao quintal,
vou mostrar o brilho da estrela
que passeia em meu olhar mais normal.
Vou mostrar que guardei a poção,
faço encanto,boto fé no destino,
que é cumpri-lo juntinho a você.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

LUZ E CRUZ

Talvez voce não soubesse
que eras minha luz.
Talvez voce não sentisse
que eras minha cruz.
Borboleta eu era,
atraída,desorientada,
traída,aprisionada,
precisando de uma ponte levadiça,
prá escapar,prá ir,prá vir
de uma forma mais arisca.
Os seus bilhetes persistentes
eram tão leves,
          tão fáceis de carregar,
          tão fáceis de acreditar.
Ficaram presos em minhas mãos.
Ganharam terreno no coração.
Guardei na caixinha de recordação.
Viraram gatilhos prá emoção.
Viraram pressão prá perfeição.
Viraram pedidos na solidão.
Até seus beijos mais apressados,
tinham o costume de me salvar...
Eram fatais em nossas noites,
não existiam em nossos dias.
Nas pontas de seus dedos
havia uma luz de cometa
que acendia em mim,
que se atrevia em mim.
Viraram navalhas cortando a carne,
nos lados,no meio,na meta.
Perdi a aderência.
Perdi a aparência.
Fiquei nublada.
Virei nuvem em céu assombrado.
Fiquei pesada.
Precipitei.

CASA VELHA

Não possuo nada,
nem dona de mim eu sou,
só possuo um tempo, demais,
um tempo culpado,
lembranças atrás.
Deixei que a tristeza
roubasse um espaço.
Esqueci meu discurso,
mergulhei no silêncio.
Um nó apertado
me prende num laço,
pus fogo ardente,
causei meu incêndio,
queimei nosso quarto,
prá matar as lembranças.
A casa ainda em pé
está velha
mas,guarda o cheiro de canela.
Está assombrada,
às vezes lhe vejo
na  janela.
O tijolo descascado
cimentou a saudade
na parede.
A solidão pinga, pinga,
é goteira no telhado.
A esperança
perdeu na sala a virgindade,
o amor foi surpreendido,
nas cinzas do chão
foi derrubado.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

MINHA DOR

Vou espalhar minha dor pela cidade,
botar palavras,fazer delas versos simples,
cantá-la num samba bem canção,
em portas de bares,só com violão.
Vou torná-la estrangeira,
congelá-la nas Cordilheiras,
fazer dela um grito de guerra
en las calles de La Paz.
Vou deportá-la para a China
ou,talvez prá Argentina,
afogá-la em Las Bocas
ou,quem sabe compor um tango,
uma milonga,
com sucesso nas Malvinas.
Vou bebê-la com los hermanos,
brindá-la com viño chileno.
Vai prá bem longe a minha dor,
lá prá costa sul da Tailândia,
virar azul,se diluir no mar.
Talvez virar boêmia na Cinelândia.
Virar fumaça em São Paulo.
Virar um blues de bordel,
na voz do outro mundo de Gardel,
num primeiro de abril em Seatle.
Vou espalhar minha dor
aqui mesmo,nesse canto do fundo,
desse boteco onde nada acontece.
Vou fazer um show de rock
entre os manos e as minas,
entre os bêbados e os solitários,
entre os aplausos e as porradas,
vai se cantar a minha dor.

SÓ ESPIANDO

Às vezes eu tenho preguiça
de morar em mundos,
de inventar assuntos,
de abrir cadeados,
trancas,trincos,portas.
Às vezes fico aqui dentro
só espiando...
A  criatividade mal dormida
não quer se levantar.
A palavra mal parida
não quer se mostrar.
Fico só espiando,
o olho no buraco da fechadura
esperando voce passar,
prá eu te acompanhar;
quem sabe uma história
poetar...

domingo, 15 de abril de 2012

QUEM DIZ QUE EU CONSIGO...

Mãe,estou me preparando prá sua partida iminente,
dessa vez você não levará malas
mas,aqui em minha mente,
há bagagem,vai pesada e,há escalas.
Meu coração  pede prá você esperar no caminho
mas,acho que nessa manhã não vou lhe encontrar,
que você não vai se despedir,irás de fininho,
como quem desaparece no sopro prá chama apagar.

Quem diz que eu consigo,
talvez lhe atrasar,lhe segurar pelas mãos,
lhe acarinhar mais um pouco com o olhar;
talvez eu me despeça com uma canção de ninar
ou, talvez apenas lhe abraçar,abraçar,abraçar...
Você me chama e,ao seu lado não me vês.
Foges desse dia, me deixas à sós,comigo;
essa solidão nos separa em mundos,eu aqui e lá bem longe,você,
solta,voando,procurando abrigo.

Outro dia ouvi seu desejo
gaguejado tão de repente:
"Queria ser passarinho prá voar..."
Ah! Como dói essa impotência na gente.
Mãe não sou advinha mas, eu vejo
suas asas planando no Amolar.
Vais voltar para seu amado Pantanal,
virar criança feliz,viver seus sonhos
e,eu haverei de ter encontrado algum canal
prá acalmar meu coração tristonho.

A gente não é mais como antes,
nem eu,nem você,nem nossas vidas.
Não temos mais "sensibilidades de elefantes",
nem as cicatrizes daquelas tais feridas...
Você não foi uma mestra de escrita
mas,me deixou a melhor lição,
por dentro ser mais bonita
fazendo o bem e com o coração.

Como quando catava zangada o grão de feijão.
Como quando rezava sem entender,prá  Deus.
Eu finalmente aprendi sua lição e,hoje me lembro com emoção.
Oh mãe! Só faltou você me ensinar a lhe dizer adeus.
Quem diz que eu consigo...

quinta-feira, 5 de abril de 2012

DA JANELA DE CASA

Da janela de casa
vejo que a cidade aumenta
mas,o meu querer inventa
que ainda é verde
e,que ela me é particular,
tem meu jeito,meu cheiro,
abriga minhas manias,
minha saudade em fotografias.

Da janela de casa
meus pensamentos se atiram
muito além da morraria,
por trás da calmaria,
presos em uma linha de  pescar,
o vai e vem com colheita,
tem um peso que quase deita,
prá preencher um vazio de sempre.

Da janela de casa
meus sonhos pulam estrelas,
são apenas doces energias
que faxinam minha alegria;
pisam nuvens de algodão,
brincam de amarelinha,
pois sou menina pequenininha
em meu céu riscado de linhas.

Da janela de casa
o sol passa bem mais ligeiro,
torna o tudo, irreal,passageiro,
meus olhos não conseguem enquadrar
e,se a lua surge mais que perfeita,
meu coração enfim descansa
querendo se eternizar.

terça-feira, 3 de abril de 2012

NA CATORZE

Não é só água de chuva
que corre na Catorze.
Não é só água servida,
água doente
que corre na Catorze.
Não é só vento acanhado
treinando prá ser ventania
que corre na Catorze.
Não são todos os vícios
e,todos os malefícios
que correm na Catorze.
Não é só a pressa de todo dia
que faz de seu rosto um borrão
que corre na Catorze...
Corre na Catorze
uma esperança desmedida.
Corre livre, sem freios,
corre por todos os lados,
sobe pelas paredes,
alcança o quarto-sala
do sétimo andar desse apartamento.
Criativa,convence até o pouco inocente,
distraido,à janela do olhar,
prá acompanha-la na corrida.
Corre na Catorze
o tempo,astuto atleta
que quase voa no caminho,
tentando conquistar o pódio.
Perdida já está a esperança
nessa disputa injusta,
ela corre sobre esteiras
fincadas no coração dessa gente
que corre pela Catorze.

domingo, 1 de abril de 2012

A DOR DA PERDA

A dor da perda de um amor não da calo,feito sapato apertado que você só precisa deixar de usar. A dor da perda de um amor é um chão cheio de sabão em que você precisa passar,você escorrega,cai,levanta;torna a cair e levantar; e como a gente gosta de escorregar...