sexta-feira, 26 de abril de 2013

NO AVESSO

Há essas manhãs estrangeiras,
me fazendo companhia,
enquanto bebo café.
Talvez, seja eu a forasteira
que viajou enquanto dormia
e, se esqueceu de voltar.
Acendo uma luz que alumia,
para aqui fora enxergar
mas, a razão já me dizia...
"Há uma tristeza no avesso,
você precisa abraçar
e, para sua manhã, voltar !
Há um dia para começar."

quinta-feira, 18 de abril de 2013

MILAGRE

Não culpe o céu,
quando a chuva cair
e te molhar no caminho;
ele é só o infinito azul,
uma doce ilusão
que a gente inventou prá sonhar.
Não culpe a lua
se, ela surgir entre véus,
quem sabe o seu mistério,
seja o medo do escuro...
Ninfa nua a se banhar,
em uma lagoa de prata,
e em nossos olhos reinar.
Não culpe o sol
quando à tarde, ele mergulha,
nas águas serenas do rio...
Agradeça !
Agradeça ao dia andarilho,
que acorda a cada manhã
com a intenção
de nos dar um final com brilho. 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

SEM ESTAÇÃO

Nosso amor de antigamente.
Nossas vidas combinadas.
Nossas coisas divididas,
vão ficando espalhadas,
sobre a mesa do jantar.
Mastigadas.
Engolidas.
Vão causando solidão,
nó no peito, desatenção...
na espuma do sabão.
Olhos baixos, arredios,
mergulhados no feijão,
meu sorriso fugitivo
não sai mais do coração.
Meus poemas abandonados,
feito roupas no varal,
a caneta só quer desenhar
flores na palma da mão.
Essa angústia sem terreno,
erva daninha crescendo...
aprisionada, indiferente,
vai causar um acidente.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

SOMBRA

Você
não é a luz
que me ilumina
mas, a sombra
que me acompanha.
já mudei
o meu caminho.
Já busquei
outros carinhos,
andei um tempo
sozinho...
Já andei com a burguesia.
Fui em outras freguesias.
Cometi certas heresias.
Já me fiz
passar por cupido
me flechei
de um jeito estúpido.
Já fui
meu anjo protetor,
meu diabo delator.
Sonhei
com milagres, pecados,
já mudei o meu estado.
Já fui
meu a favor
e meu contra...
Já estive
em mesa de bar,
sozinha na sala de estar
e, quando o cansaço me chama,
eis sua sombra
à beira da cama.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

SAMBA PRÁ TURISTA

O samba que é samba
aqui não nasceu.
Aqui só passeia
macio, bem leve,
mulato, latino e branco de neve,
por becos escuros,
cinzentas ladeiras
que descem ao rio.
O samba daqui
tem terno e gravata,
seda, cetim,
terreiro de prata
e beiço carmim.
O samba daqui
batuca suave
sem pressa, moroso,
caliente, gostoso.
O sangue das veias
têm raios de sol.
As casas de samba
de dia estão nuas,
labutam em segredo
à espera da lua.`
À noite se trepam
com as ancas pesadas,
com abraços estalados,
com lábia malandra,
deslizam de banda,
verniz sobre giz.
 O samba daqui
é prá turista,
só prá turista !

CORPO

Eu tenho frases na pele
que o tempo ousou escrever,
talvez ao final se revele
história tão doce de ler.

Meus olhos, janelas abertas
para um ir e vir do coração,
passagens estreitas, tão certas,
luz de lua em meio à escuridão.


Meu pensamento, velho vagabundo,
habita prédio velho abandonado
de uma estação de trem à beira do mundo,
para vez ou outra viajar dissimulado.

Meu coração, soldado em luta,
dias e noites sem dormir.
Chora, espera, sonha, escuta;
criança misteriosa a sorrir.

Meu corpo celeste, girando no espaço,
vida e morte disputando lugar,
às vezes me abro, às vezes amordaço,
e se o sol me queima, me prateia o luar.