segunda-feira, 26 de abril de 2010

EU E ELE poema

Ele é o amigo de todos.
Eu tenho poucos eleitos.
Ele curte viagens sozinho.
Eu gosto com companhia.
Ele é cheio de cultura.
Eu "aprendo" à sombra dele.
Ele é rápido em tomar decisões.
Eu analiso qualquer questão.
Ele segue em direção ao futuro.
Eu fico presa ao passado.
Ele realiza mil projetos.
Eu tento cuidar do quintal.
Ele é "gente muito boa".
Eu carrego grande porção.
Ele ouve músicas prá relaxar.
Eu guardei os meus cds.

Eu não faço mais parte dele.
Ele ainda mora em mim.
Eu não estou mais com ele.
Ele há muito me esqueceu.
Eu perambulo pelo shopping.
Ele explora o cerrado.
Eu ainda ouço sua voz.
Ele se irrita ao me ouvir.
Eu deixei de me alimentar.
Ele come por nós dois.
Eu estou pele e osso.
Ele dobrou de tamanho.
Eu fiquei sem os "amigos".
Ele se juntou a uma tribo.
Eu tenho medo de tudo.
Ele é muito positivo.

Ele se enfurece por pouco.
Eu aguento tudo calada.
Ele é muito sociável.
Eu me escondo em mim mesma.
Ele cai e já se levanta.
Eu fico estendida ao chão.
Ele diz palavras amorosas.
Eu as guardo no coração.

Eu tenho um amor infinito.
Ele não se entrega a ninguém.
Eu sou fiel,tenho respeito.
Ele não perde tempo com isso.
Eu jurei o"até à morte".
ele cumpriu o "até que nos separe".

sexta-feira, 23 de abril de 2010

IN THE CITY poema

Saí do campo em viagem,
quis rever os meus parentes,
usei cavalo-canoa-trem
prá alcançar a minha gente.

Na cidade uma loucura,
carros-ladrão-fumaça,
já me deu uma tontura.
Me senti a própria caça.

Abraçei minha sacola
como meu galo de estimação.
Gente andando ou pedindo esmola,
outras dormindo no chão.

Subi numa caixa apertada
de nome "elevador",
minha cara desbotada,
mostrava o meu temor.

Naqueles dois quartos e sala,
tentava matar o tempo
abrindo e fechando a mala...
Mudei de comportamento.

Até no computador,
com os dedos de catar milho,
"entendi" o difícil labor,
escolhido por meu filho.

Sem ter muito o que fazer,
no apartamento pequeno,
peguei o binóculo prá ver
o tamanho do terreno.

As pessoas, lá embaixo,
a mim parecem formigas,
de tribos que não me encaixo.
A solidão é bem vestida.

Aqui dessa janela,
fiquei à parte observando,
entendi que não vivo na cela,
pois não faço parte do bando.

É surreal a brincadeira
de por olhar em janelas,
espreitamos a vida alheia
e, queima o arroz na panela.

Do alto do arranha-céu,
vejo alguém à minha espreita,
se esconde por trás do véu,
de uma cortina perfeita.

Ele? Ela? o que deseja?
Me olhando assim sorrateira,
me causando brotoejas.
Quem mandou fazer besteira?

quinta-feira, 22 de abril de 2010

VAMPIRO poema

Quando está perto
tudo está certo.
Uivos estridentes,
sede saciada.

Língua tão fria.
Beijo tão quente.
Sangue tão doce.
Corpo esgotado.

Pele tão branca.
Barba cerrada.
olhos tão negros.
Portas sem trancas.
Leito perfeito.

Medos antigos.
Abraços roubados.
Lança perigo.
bicho malvado.

Voa vampiro.
Entra em sacadas.
Longos suspiros.
Estacas enterradas.

terça-feira, 20 de abril de 2010

DANCE COMIGO poema

Há muita chuva lá fora.
Há muito cinza lá fora.
Nem tudo está muito claro.
Nem tudo está explicado.
Pregam sorrisos nas caras
que engolem despercebidos,
em meio à solidão das pessoas.

Então,venha dançar comigo.
Então,venha voar comigo
nas letras de uma doce canção.
Não precisamos de asas.
Não precisamos de casas,
nem compromisso de anel,
só navegar em águas rasas,
no barquinho de papel.

Há muita gente que corre.
Há muita gente que morre,
abafando a dor que sentem.
O trem da vida passa com pressa,
fica sem tempo a promessa
que se fazem enquanto crescem.
Dá-se valor à aparência.
Fica perdida a inocência.

Então,venha dançar comigo.
Então,venha voar comigo.
Fique um pouco insano
pois, a gente se ajeita querido
nas dobras desse mundo tirano
e, se a noite estiver muito escura,
há um jeito de não sair ferido,
vista uma armadura colorida,
faça proteção de ternura
e,trate tudo como semente.
Essa é a nossa última chance
de não virar gado de novo
pois, o curral ainda cerca a gente.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A SUA AUSÊNCIA poema

A sua ausência,
me faz esconder o choro durante o banho,
me faz perder coisas,minha própria identidade,
ler bilhetes antigos,rever retratos estranhos,
me faz arquitetar alguma maldade.

A sua ausência,
me faz vagar sem rumo pela cidade,
ficar alheia ao perigo que me espreita,
não ter a precaução que vem com a idade,
ficar feliz com portas abertas e ruas estreitas.

A sua ausência,
me faz sonhar com o que não tenho,
me faz ignorar a imagem no espelho,
me faz desejar um dia mais ameno
e, duvidar de todos os conselhos.

A sua ausência,
me obriga a aceitar a inesperada liberdade,
iniciar a longa e solitária viagem,
não tolerar essa atual realidade,
de carregar tão pesada bagagem.

A sua ausência,
me faz querer o vento fustigando o meu rosto,
me faz guardar o riso louco em campo aberto,
desejar o aconchego no coração dos outros,
tentar sobreviver em meu caminho incerto.

A sua ausência,
me força a sair de meu conforto e enfrentar o mundo,
deixar o quarto escuro, acordar mais cedo,
lembrar que o sol que cega é o mesmo que aquece,
tentar ter fé, orar com uma nova prece.

A sua ausência,
me faz compreender que agora sou metade,
torna minha dor um pouco mais quieta,
me faz plantar amor e colher bondade,
me faz pintar palavras e me ousar poeta.

domingo, 18 de abril de 2010

LOBO NO ASFALTO poema

Sou lobo no asfalto
com tempo na estrada.
Saindo da toca.
Roubando de assalto.

Eu não sou o alvo.
Eu estou a salvo.
Eu estou seguro
em cantos escuros.

Adoro a lua,
minha vida crua.
Sou bicho matreiro.
Sou bicho felino.
Instinto certeiro
e, o meu destino,
é estar sozinho.

Disputo abraços.
os beijos eu caço.
Descubro caminhos,
mata-lixo-matilha.
Dados rolando,
animal acuado.
Amante na noite.
Dono da trilha.

Meu uivo te chama.
Meu uivo reclama,
onde está você?

Espinho de cáctus.
Garras afiadas.
Fera ferida.
Noite sombria.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

CAVALO DE TRÓIA poema

Você chega de fininho,
esperto-alerta-matreiro.
Abre portas,constrói ninho,
de meu coração,vira porteiro,
vizinho-inquilino-guardião,
me põe na palma de sua mão.

Ando em corda bamba,
me sinto equilibrista,
você não dá nenhuma pista,
não mostra o mapa da mina,
de onde tudo começa
e onde tudo termina.

Perco o juízo,o prumo,
barata tonta,sem rumo.
Perco todos os sentidos.
Perco o amuleto secreto.
Subo a montanha mais alta,
prá gritar o meu afeto.

Mas...você não sabe querido
que cavalo de tróia arranjou,
sou lagarta do deserto
que adormece em areia quente,
se pensas me enganar,nem tente,
enquanto um olho se fecha,
o outro fica mais esperto!

Minha roupa é de camaleão.
Possuo as sete vidas do gato.
Não joguei todos os dados.
Não perdi meu rebolado.
Tenho a última carta do baralho.
Posso alimentar a fogueira.
Distribuir dor em retalhos,
fazer qualquer besteira,
virar fada,virar bruxa,
fazer poção,alquimia,
aguentar qualquer parada.

Portanto...Não se sinta seguro,
não és o rei do pedaço.
Posso saltar desse muro.
Um último aviso lhe faço:
Meu coração é forasteiro,
é navio no estaleiro
mas, pronto para zarpar!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

OLHAR OCULTO poema

Você pensa
que,o que fazes tem perdão,
não causa dor nem desafeição.
Você age
como o trem bala,
como desgovernado vagão
que perdeu o rumo dos trilhos.
De onde viestes?
Prá onde vais?
Você vive
feito equilibrista em linha tênue,
entre o errado e o certo,
entre o céu eo inferno.
Faz tudo parecer bobeira,
se esconde atrás dessas besteiras
e não mostra a verdadeira cara.
Não mostra a nuvem negra
que passa por seus olhos.
Olhos de gato.
Olhos de lobo.
Olhos de anjo.
Eu vejo esse olhar oculto
que habita a noite que te rodeia.
Eu vejo a sua cara feia.
Eu vejo o sorriso que te impermeia,
que não me deixa entrar
e que te faz ficar tão só!
Seu coração só anda maxucado,
não dás tempo para a cura,
buscando o ser amado,
que lhe dê muita ternura,
que lhe ilumine a escuridão,
que lhe entregue o coração,
que traga sorriso aos seus olhos.
Olhos de gato.
Olhos de lobo.
Olhos de anjo.
Olhos de menino.

Para você ,tão especial em minha vida. Rafa.
(escrito no quarto do hotel,numa madrugada fria em La Paz, esperando -te voltar da balada- janeiro de 2009)
"Guenta" coração de mãe!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

"CUVITEIRA" conto

_Berta !
Ninguém a chamava pelo nome, Belinda, só pelo apelido que, aliás não gostava. Parou de súbito a caminhada apressada,à saída do colégio; voltou-se e, a viu correndo em sua direção.
Sabia seu nome, Alicinha,porém só a via de vez em quando,durante o recreio,mas nunca se falaram. Pertenciam a mundos diferentes,não dividiam amigos, não frequentavam a mesma sala de aula,mas eram da mesma série.
O mundo de Alicinha era povoado de coisas caras,era o que pensava Belinda,roupas bonitas,mochila da moda; o pai a buscava à porta da escola com um carro brilhoso,grande. Belinda já tinha visto até foto da família dela,no jornal da cidade; diziam que o pai de Alicinha era fazendeiro.
O mundo de Belinha, era repleto de obrigações,horários determinados,por isso a pressa à saída do colégio. Era um mundo oprimido pela ignorância da mãe e a autoridade do pai, não havia descanso,pois até a cama de solteiro,era dividida com a irmã. O momento do almoço era para ela o pior,a mãe colocava o arroz,o feijão,o ovo frito e três rodelas de tomate,cimentados na marmita de alumínio,não podia esquentar a comida fria,pois a cozinha já havia sido limpa pela mãe. Belinda beliscava a comida,não sentia fome diante daquela marmita.
Os dias de Belinda eram longos mas, as noites eram mais longas ainda. Os pais sempre discutiam à noite quando o pai chegava do trabalho, as brigas eram sempre por causa dos irmãos que queriam ficar" o dia todo" no campinho jogando bola e, de lá vinham com as roupas sujas de terra vermelha .
Belinda tinha dois amores na vida: os livros de contos de fada que lia na biblioteca do colégio, e o pequeno porquinho branco com bolas pretas que ganhou do padrinho;Brinquinho a seguia por toda a parte,quando estava em casa.
Belinda olhou Alicinha rapidamente,ficou envergonhada. Alicinha parecia a boneca que estava na vitrine de uma loja no centro e, que Belinda admirava e desejava secretamente,todas as vezes que passava por ali, seu caminho para casa. Alicinha era loura, olhos azuis,os cabelos eram cheios de cachinhos presos por fitas cor de rosa. Menina bonita até com o uniforme cinza do colégio.
Belinda estava de uniforme também mas faltava-lhe um botão na camisa de gola puída;os sapatos pretos,não brilhavam mais de tão gastos ;os cabelos castanhos,secos,escapuliam do elástico encardido e frouxo que os prendiam no rabo de cavalo.
Alguns livros estavam com as capas de papel de pão, rasgadas. Os cadernos tinham orelhas,estavam à mostra em seu braço magro. Belinda não tinha nem uma sacola para carregá-los ou escondê-los da curiosidade de Alicinha.
Ficou esperando com os olhos abaixados.
_Você mora perto da casa do Pedro Luiz, Não é ?
Fez que sim com a cabeça.
_Entrega prá ele ! Eu quero resposta, diz a ele!
Passou para as mãos de Belinha,uma folha de papel de brochura,bem dobrada, em seguida voltou correndo para perto da rodinha das amigas que riam animadas.
Belinda segurou aquele pequeno papel dobrado,como quem segura um tesouro, ficou imóvel um instante,depois olhou ao redor mas não enxergou nada, ninguém; o que viu foi ela mesma: grande, maravilhosa,poderosa.
De repente deixou de ter importância as manhãs com fome, a comida fria no almoço,os gritos da mãe, as noites sem espaço na cama, o frio das madrugadas com cobertor pequeno para duas,ela e a irmã.Acordada,o olhar pregado nas sombras das árvores do quintal que dançavam feitos montros,na parede do quarto.
Andou distraída,depois apressou os passos e ,quase sem perceber,começou a correr. Corria desenfreadamente,subia a ladeira de paralelepípedo sem olhar para o chão,o coração estava a ponto de escapulir pela boca pequena.
As lágrimas escorriam empurradas pelo vento, dando o gosto salgado na boca; não chorava, ria, ria muito. Felicidade! Gestos pequenos podem te alcançar! Sentia-se suspensa,flutuava. Avistou ao longe sobre o aterro, a vila em que morava, viu a mãe com as mãos na cintura, na frente do portão da casa,gritando com os irmãos que jogavam bola, na terra vermelha.
Viu ele, Pedro Luiz, com a bola presa debaixo do braço esquerdo, estava de calção, sem camisa, descalço,com os cabelos pretos-lisos-fartos,caindo-lhe sobre a testa. Belinda, pela primeira vez olhou para ele, seu olhar era descobridor,interessado. Achou-o bonito.
Entrou apressada,jogou os cadernos sobre a mesa,sentindo o rosto quente como fogo. A claridade de fora cegou-a no ambiente escuro da cozinha , virou-se para sair pela porta e se chocou com algo duro como uma parede.
Era o pai.
_O que você esconde aí?
Belinda olhou para cima aos poucos,escalando aquele obstáculo gigantesco, até encontrar os olhos escuros,escondidos atrás de sombrancelhas grossas e negras. O papel lhe foi arrancado violentamente das mãos,desdobrado e lido pelo pai.
_ Sua "CUVITEIRA !"
Belinda sentiu a pancada da voz, da palavra, esmagando-a, encolhendo-a, açoitando-a, prensando-a no canto escuro da parede,onde caiu sentada,se encolhendo com o rosto enfiado entre os joelhos.
Começou a chorar por ter feito algo tão grave e ter decepcionado o pai.
_( O que era cuviteira ? Não sabia. )
Pegou o papel amassado, jogado com desprêzo ao chão. Leu nas letras infantis,como as dela mesma,bem desenhadas dentro de um coração o recado:
_GOSTO DE VOCÊ.

Obs. Alcoviteira: Mexeriqueira, leva e traz, que serve de intermediário em relações amorosas.

terça-feira, 13 de abril de 2010

ELA SOU EU, SOMOS NÓS poema

Quando ela surge na pista,
vejo que não está à procura,
simplesmente quer ser vista
em qualquer rítmo,sem censura.

Enquanto a música toca,
seu corpo reluz sob luz forte,
lembranças felizes evoca,
quem lembra,tem muita sorte.

Quem a vê assim tão bela,
não pensa em nada obsceno,
apenas uma ingênua tela,
pintada de um jeito sereno.

Quando a música termina,
ficamos um pouco perdidos:
É a música? É a menina?
Outra vez sós, outra vez sofridos...

Escapo com ela na dança,
outra vez o livro aberto.
Renasce um pouco a esperança,
antes o tarde do que o certo.

O grande espelho da vida
revela a imagem despida:
Ela sou eu, somos nós
sem disfarce, reprimidas.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A LÁGRIMA poema

Há uma gota de lágrima
que rola-aumenta-embola-atola-estanca,
aprisiona o soluço na garganta,
quer sair-fugir-escapar-escorrer
por mil poros-tubos-canais.
Pulsa, se expreme,se expulsa,
cai prisioneira
no buraco que cavou.
Faz doer o peito,
deixa tenso,hipertenso o coração.

Há uma gota de lágrima,
densa-imensa-não cansa,
quer se bandear-baldear-enxarcar.
Não faz ruído,nenhum gemido,
apenas brilha,
descansa na beira
do olhar perdido,
se abastece enquanto cresce,
não da pista, é masoquista.
Parasita do medo,do segredo,
faz enredo.

Há uma gota de lágrima
que desliza-escorrega-descarrega
na extremidade afiada da lâmina,
que talha-entalha-da forma.
Ganha cor do rubor e sabor do suor,
que estampa-espanta-ganha fama,
é porta,tampa,caixa,estátua,escultura.

Há uma gota de lágrima
na ponta do espinho fininho,
que desce-umidece-segue a trilha,
cai do alto,um salto,no chão,
se alarga,se esconde-por onde-profundo.
Milhões de gotas,ritual tão atual,no mundo
desnudo-concreto-tão certo-na terra
que espera-agoniza-sedenta
faz milagre,nasce a flor.

domingo, 11 de abril de 2010

GOLPE DE MESTRE poema

Como um temporal de verão,
desstruidor e sorrateiro,
você pôs fim à relação,
num golpe de mestre, certeiro.
Tão trágico, tão anormal,
não há palavras prá descrever
aquele dia fatal,
só as lágrimas,que tento conter.

Então, depois de um tempo,
eis que você aparece
alheio ao meu sofrimento.
Quer agradar,quer ser simpático,
é totalmente enfático:
"Você é forte!"
Só que a fortaleza
mantém serena a superfície,
disfarça meu dia difícil.

"Estás uma beleza!"
Só que a tinta que colore meu rosto
e desaparece na água cristalina,
esconde uma imensa tristeza.
Viver, já não tem tanto gosto,
essa é a minha sina.
Todo dia ensaio presente,
ainda que a alma invente
que tudo passa nessa vida,
mesmo não cicatrizando a ferida.

sábado, 10 de abril de 2010

PACO

_Mataram Paco!
Não me encontrava alí,aliás não sabia onde estava.Há muito,ou pouco tempo,não tinha noção, meus olhos eram prisioneiros de gotinhas d'água que jorravam da mangueira,pressionada pelo meu dedo polegar,fazendo chuveirinho. Estava molhando as plantas próximas à varanda do
sítio;meu corpo estava alí mas meus pensamentos,estavam longe,muito longe,em nenhum lugar.
Aquelas gotinhas que caiam,eram sugadas rapidamente,se escondiam no interior da terra seca,umedecendo-a; junto com as gotinhas,ía o que mais incomodava e pesava em meu coração.Sentia-me vazia,ou melhor leve,aberta à sensações revigoradoras.
Susto!
Tudo que estava suspenso,longe,espalhado,de repente se juntou no tranco,colocando-me inteira,lúcida,presente,alí,no lugar,no momento.
_ O que?
Não obtive resposta.
As emoções em turbilhão ficaram na beira de tudo: dos meus dedos trêmulos, dos meus pés pregados ao chão,fazendo com que não percebesse a água, sem a pressão do dedo
jorrando sobre o tennis; dos meus olhos se expandindo nas órbitas secas; do coração crescendo,ocupando um limite maior do que o possível,como se estivesse suspenso,em carreira para sair pela boca.
A razão se agarrou no engano: ouviu mal,aliás andava desconfiada que minha audição,estava falhando,pois sempre eu repetia,"O que foi que você disse?" Foi essa pergunta que repeti quando ele,cabisbaixo,passos lentos,me olhou sem emoção,ou para ser justa com ele, equilibrado,respondeu:
_Uma camionete preta,em alta velocidade,matou Paco. Ele foi atravessar a estrada e...foi atropelado. Caiu morto!
Assim, um relato nu e cru.
A mangueira,de repente criou vida em minhas mãos,pesou muito e eu a soltei. Perdi a consciência dela e tudo o mais se tornou pesado,um peso difícil de suportar,fazendo com que eu caísse ao chão e, permanecesse lá.
Chorei. Chorei sentida. Chorei só. Chorei por Paco.Chorei por mim. Meu choro estava carregado de dor,agonia,perda,solidão,uma tristeza infinita.
Não houve consolo,não houve a palavra e nem o abraço cheio de conforto dele;não houve se quer um olhar de reconhecimento,de afeto diante da dor.
Chorava e dizia:
_Meu Deus! Ele estava agora,há pouco do meu lado,me pedindo água.Depois foi se deitar no buraco úmido que havia feito um pouco antes,no canteiro de flores!
Como isso foi acontecer?
Há pouco mais de vinte dias,conheci Paco,foi amor à primeira vista. Em seu olhar cor de café ralo com mostarda,estava gritando a fidelidade,a docilidade,o amor que habitava em seu grande corpo e alma. Ele tinha enderêço conhecido mas seu destino era incerto, caçador, viajante. Muitas vezes ele permanecia alí,no sítio,querendo nossa companhia. Quando o raio tímido do sol,rompia uma nuvem mais densa e solitária nas manhãs,ele entrava feito um foguete no sítio,
dava voltas à casa e nos chamava apressado:
_Ei! Eu estou aqui! Quero ver vocês! vamos,abram a porta! Tô com saudade!
Não era desses que entravam em sua casa sem cuidado,sem pedir licença. Não!
Ficava à entrada em atitude solene,esperando um afago, uma recompensa,um olhar. Olho no olho, direto. Dizia dessa forma que ele era bem vindo,sempre. Aqui era seu lugar, onde e liberava suas defesas,pois sabia que aqui,ninguém lhe faria mal.
Paco,sem o saber era elo de ligação. Ele completava o monólogo silencioso, longo,sob uma aparência calma, de uma intimidade relativa,educada,que permeava o meu mundo naqueles dias turbulentos. Uma vida de aparências,dividindo sala no sítio.
Conversas amenas,formais, superficiais,educadas, pensadas,num jogo sem vencedores que durou vinte e cinco dias de segunda chance... Será?
Algo mudou. Paco não apareceu. Cinco dias já. Senti sua ausência,mesmo ele alimentando a conversa de nós dois. Domingo à tarde,calor infernal. Paco. Cansado. Tristonho. Só queria dormir e lugar nenhum era bom o suficiente. Reclamei:
_O que está acontecendo?
_Você está muito estranho!
_Não estou gostando!
_(.......................................)
_Deve ser que ele ficou todos esses dias,com as crianças que chegaram para o fim de semana no condomínio.Tá cansado de tanto brincar no rio. Disse ele.
_......................................
O rio de águas claras e geladas,era o lugar preferido de Paco,até sozinho,ele brincava lá.
Segunda-feira amanheceu com ele à porta da cozinha, dormiu aqui, mas não nos avisou de sua presença. Terça -feira. Tristonho. Eu também. Minha partida estava se aproximando. Nada resolvido. O assunto sem ser tocado. Mantinha uma aparência calma mas tudo em mim desiquilibrado. Paco sumiu depois do almoço. Não veio dormir em casa. Quarta-feira já estava aqui muito cedo,porém não chamou ninguém.
Trinta e três baldes de água, tentando dar vida à mudas plantadas e ressecadas,
que me davam o que fazer, que me faziam sentir necessária, que me esgotavam,que me afastavam, que me salvavam, que me tornavam vazia de pensamentos ruins, que me davam uma segurança na superfície. Paco enjoou da mesmice dessa jornada,parou de me acompanhar e se deitou à sombra do pé de jatobá.
Saciada a fome com frango cozido com legumes,arroz, feijão e salada de rúcula, sossegamos todos. Paco ficou sob o ventilador da sala. Continuava muito calor.
Pontualmente às três horas,inicio outra jornada de fuga, ou seria de encontro com minha essência, molhando plantas, agora as que ficavam na parte mais baixa do terreno, com a mangueira comprida. Paco me acompanhou,mas logo se jogou embaixo de uma árvore e, aí ficou; dormiu pouco, inquieto procurou outro lugar e mais outro. Nada parecia lhe agradar. Muito quente,o suor escorria pela minha face.
A última vez que o vi,foi quando ele ficou me rondando, me olhando:
_Você quer àgua?
_Está com sede? Tá?
Larguei a mangueira e dei-lhe água, aproveitei e dei-lhe também um pedaço de pizza de calabreza e muzzarella.Gelada. Ele comeu com vontade, e eu voltei ao que estava fazendo. Confesso, esqueci dele, de mim,zerei a alma,fui embora, prá nenhum lugar. Só, nem comigo.
Voltei de repente,no sobressalto,não querendo entender o que tinha ouvido. A voz. Perto . Longe....
_ Mataram Paco!
Quero crer que todos da vizinhança, sentiram a morte de Paco, ele era querido. Particularmente,tive o privilégio de ganhar o seu amor,metade é claro,pois Paco o dividia com ele também,mas eu tinha um sentimento egoísta de disputar o amor, a amizade,prá compensar o abandono,o vazio, a solidão, a insegurança, que moravam em mim, e que ainda estão comigo.
O tempo vai apagar suavemente essa quarta-feira fatídica,em que os ponteiros marcavam dezessete horas, vai apagar aquele instante em que algo chamou a atenção de Paco, fazendo que ele acordasse de seu sono profundo e, corresse de encontro à morte, que lhe espreitava sob as rodas de uma camionete preta,em alta velocidade.
Não tive coragem de lhe ver caído na estrada. Não queria essa última imagem em minha lembrança.
Soube depois que testemunhas da tragédia tentaram lhe socorrer, que ele só conseguiu dar dois passos,antes de cair morto. Não houve sangue,apenas um olhar triste, parado, fitando o vazio.
Não choro mais a sua morte, apenas guardo num cantinho especial de meu coração, a imagem de um grande cão labrador amarelo, doce, gentil, meu elo, que chamávamos carinhosamente de Paco.
Saudade.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

RESUMO poema

Minha santa ignorância
me diz que sou livre,
prá fazer o que quiser,
até mesmo me separar
dessa relação de amor.
Porém,não me sinto completa
e, ficar sem você,muito me afeta.
Já tive filho.
Fiz o caminho por onde trilho.
Fiz curso superior.
Orei com muito fervor.
Possuí conta em banco
que serviu prá me estressar.
Fiz promessa e já paguei.
Já plantei árvores,
pomares,mudas,sementes.
Já fui dona de floresta
e a aspirei tão ferozmente.
Nadei em rio particular
de água bem transparente.
Já dormi só e acompanhada
em cama bem espaçosa
e, me senti tão preguiçosa!
Viajei mas, não fui muito longe;
até tentei falar outra língua,
me comportei como um monge.
O outro lado do mundo,
não pude conhecer a fundo:
só vi o que me mostrou a tv.
Tudo fiz
tentando preencher um vazio.
Fiz amigo e inimigo.
Cantei canção de saudade,
a mesma que guardo comigo.
Conversei com o pensamento.
Li livros de auto ajuda.
Escrevi cartas sem nexo,
ditadas pelo sofrimento.
Fiz quase tudo e, mais um pouco,
prá chamar sua atenção,
abrandar seu coração
e, o seu jeito complicado de ser.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

ROTULADA poema

Andei um tempo por aí,
Keds branco,calça Lee,
nem tanto presa,nem tanto Free,
só um pouco à perigo.

Cabelos soltos,alma levada,
coração soterrado,Underground,
formei fileiras,contra-a favor-pelada.
Levei porradas sem tempo,sem Round.

Percorri muitos puteiros,
vestidos-ternos-gravatas.
Conduzi meu Colgate certeiro,
obtive atenção em falsas bravatas.

Hoje,não sou tão Young,
terceira idade,antes do juízo final,
Hollyood, Conhac e Tang,
diluídos em coquetel fatal.

A calça 50,é de Jeans barato,
pois a grana é pouca e "Do lar".
Ganhei peso,fiquei sem memória,
mas me lembro dessa história.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

MINHA ALMA poema

Minha alma
encarna a noite.
Sai por aí sem ser notada,
percorre ruas e becos,
esbarra em prédios feito açoite.

Minha alma
entra em bares,
ouve conversas de afeição,
mantida por alguns pares,
esperando a refeição.


Minha alma
invade quartos,
ouve os gemidos,sente o tesão,
desliza suave em corpos fartos,
no silêncio saciado de emoção.

Minha alma
nua,vadia,
faz plantão em abandonadas esquinas,
boêmia,solitária,foge do dia.
Não tem nome.
Não tem enderêço.
É ponte em ruína.

Minha alma
ladina-verme-vampiro,
rouba o segredo,suga a emoção,
lendária,se esconde em antigo retiro
e vai ser lembrada numa canção.

terça-feira, 6 de abril de 2010

DESCOLADO poema

Você vive encrencado.
És o destaque de sua rua,
estás de bem com sua turma.
Tens namoradas,às penca.
Não és sutil,
falas bem alto.
Perfumes caros.
Roupas de grife.
Tennis da hora.
Sempre envenenas seu carro.
Andas sempre na moda,
tudo muito fútil.
Marca ponto em bar no centro,
com vodka e coca-cola,
comida rápida.
Danças às sextas,noite afora.
És descolado,
o filhinho da mamãe.
Percebo há uma semana,
você meio deslocado,
encimesmado em sua cama
e me diz pausadamente:
"Não sou santo ou infernal,
não quero essa vida animal.
Quero ficar zen,
falar baixo,filosofar,
me preocupar com o planeta,
ler livro de auto ajuda.
Quem sabe algo muda?
Quem sabe até ficar careca,
prá conquistar essa moleca.
Ela é certa,certinha prá mim,
é dela que estou a fim,
é nela que deposito a esperança,
de ter um amor só para mim.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

DURO RECOMEÇO poema

Padecer interno é inferno,é lamento,
vinca em rugas o meu magro rosto,
detalha em traços todo o sofrimento,
numa linguagem que poucos compreendem.

É tão gelada a mão que aperta o peito,
olhar parado,cabelo em desalinho,
nem sento o tempo em infinito recomeço,
nem sento o tédio de dar nome ao vinho.

Silêncio oprime as paredes do meu quarto,
a mão se estende mas não toca em nada,
na frágil reação de amargo parto,
o coração bate mais determinado.

É fina a luz que invade a janela
mas ilumina além da superfície,
buraco fundo,a lucidez revela,
fragmentou meus dias tão difíceis.

Há dois amores me abrindo a porta,
escudo forte prá encarar o rompimento,
anjos da guarda que dizem :"Não estás morta,
siga seu caminho mesmo a paço lento."

domingo, 4 de abril de 2010

REGIME PARCIAL conto

O meu lado racional,inteligente,ponderado,aflora às vezes e percebe o tempo passado,perdido,mas nenhuma força consegue mudar a situação;são segundos,minutos,horas,dias,meses...
Três longos anos que escorreram pela poltrona rosa-desbotada,manchada de cera vermelha ,a mesma cera que tentei dar brilho de espelho ao chão encardido. Poltrona deformada pelo meu corpo inerte jogado em seu descanso.
A poltrona não me abraçou e não me escondeu,a poltrona simplesmente aguentou meu corpo e combinou com ele, o abandono.
Meu olhar perdido-vítrio-fugidiço,refletiu a claridade exterior que invadiu expremida pela porta .
Meu pensamento não se fixava em nada pois queria evitar a dor,às vezes ele escapava para coisas bobas,como a porta ser de saída ou ser de entrada ,a porta ser retangular,a porta ser pequena.
A luz do sol que conseguia atravessar o vão estreito da porta,cegava,ofuscava,deixava mais negro cá dentro,trazia mais incômodo aos meus olhos já cheios de luzinhas que piscavam na borda.
Percebia os dois mundos que habitava,o inerte-escuro-sofrido e, o povoado de movimento-vida,ao meu redor mas eu não estabeleçia contato,não comparava,não analisava.
Via, de onde estava,pequenas folhas-novas-insignificantes,de um verde escuro brilhante,agitadas pelo vento, num movimento previsível,prá lá-prá cá.Ouvia os passos apressados de anônima gente,pisando o chão de calcário,que de repente passavam na moldura da porta,como num filme de animação,muito rápido.Meu pensamento era fujão,acompanhava alguma dessas pessoas e tentava brincar de advinhar: O que carregavam em suas sacolas,bolsas que deixavam o corpo tão arcado?
Tentava imaginar qual sofrimento,qual segredo,qual desesperança,qual alegria,estavam agarradas aos seus corpos,às suas mentes que as faziam se moverem,manterem-se em pé,lutando,sobrevivendo,até ao final do dia?
Qual seria a receita?
Isso realmente me importava?
Um fiapo de esperança,às vezes se insinuava, ensaiava a reação;me dizia que eu não fazia parte desses momentos escuros,dessas horas paradas,desses dias perdidos,prisioneiros.
Depois... Isso importava, a quem?
Meus olhos castanhos que enquadravam a porta,fixos no ponto de luz,repetiam uma cena interna,em tela particular: O abrir e fechar de portas,gavetas do armário de madeira de lei,emperradas pelo tempo e umidade, o retirar apressado de calças antigas de linho azul,esquecidas em cabides; uniformes do tempo em que trabalhou no banco;gravatas que ainda conservavam o último nó;cuecas com elásticos frouxos;lenços,meias que não usava mais. Tudo foi recolhido sem organização,e jogados para dentro da bolsa grande de viagem.
Não esqueceu nem o cadarço encardido ,sem par que encontrou.como a não querer deixar pistas,rastros,de sua presença na casa.
Ele não dizia nada,não olhava para mim, que estava no canto do quarto,chorando diante da certeza da partida dele. Acompanhei seus movimentos em nosso quarto, só chorava.
-Por favor me abraçe! Queria gritar,mas a voz não saia. Eu não sabia o que dizer,aliás nunca soube colocar em palavras o que eu sentia por ele. Tinha uma certeza de que não precisava por voz no meu amor por ele,estava no meu olhar,nas coisas simples do dia a dia;,nos abraços inesperados que eu gostava de lhe dar;nos risos soltos das piadas ou coisas engraçadas que ele dizia; até nas pequenas mentiras que dizia a seu pedido ao telefone.
-Ele não está!
Engano fatal.
Não saberia viver sem ele,não depois de vinte cinco anos de amor,afeto,companheirismo,era o que pensava,o que tinha certeza.
O medo apertava meu peito,medo de que a agressão que se escondia nos olhos dele,me atingisse em forma de palavras que não queria ouvir,pois sabia que nunca mais as esqueceria.Eu era assim.
Ele sabia como ninguém ser sutil e agressor com as palavras,suavemente...
Podia,com palavras, fazer-me sentir um quase nada e me exigir mudanças,pois me comparava com alguém que ele admirava. Tudo dito durante conversas amenas mas que me faziam chorar durante o banho.Ele nunca notou.
Ficava magoada,me perguntava com quem ele queria casar,pois essa que se desenhava em seu desejo,não era eu. A mágoa me conduziu para mais dentro de mim mesma, me isolou,me deu uma falsa impressão de proteção,mas também não me deu armas para lutar por ele,apesar de tudo.
Inútil,tudo seria inútil,ele não me daria nenhuma chance.
-Se era para terminar,por que começou? Perguntava-me.
Em meu peito sufocado pela dor,carregava o mesmo amor de vinte e cinco anos juntos,agora ,um amor mais tranquilo,seguro,cheio de paz e de ternura.
Amor simples,desses que não faziam perguntas e nem esperavam respostas,pois confiava cegamente.
Amor sonhador,como no poema que escrevi sobre uma casa na montanha,com nós dois construindo uma vida juntos,vendo a cidade ao longe.
Amor incondicional,que aceitava,defendia defeitos que via nele.
Amor de todo dia, de cada dia,temperado no café doce e forte que eu lhe levava na cama e que ele apenas bebericava,pois gostava de café fraco e doce,"café carioca",como ele dizia.
Amor de muitas formas,de um único cheiro,disfarçado com o perfume caro que usava.
Amor que acumulou lembranças cheias de valor:o dedão do pé com unhas chatas e largas,com calos secos,resultado de pés presos em sapatos fechados,o dia todo; os cabelos encaracolados,grossos que lhe cobriam os ombros,as costas,o rosto de barba cerrada,o bigode; a cabeça de cabelos ralos no meio e cheios dos lados,que lhe dava um ar de frade franciscano,cheio de pecado; o olhar castanho claro,quase mel que às vezes me olhavam com segundas intenções.
Amor maduro,eterno aprendiz,que se aquietava em seus braços e se deixava ficar depois do gozo.
Amor cúmplice que lhe cobria as ausências com os filhos.
Amor de equipe que lhe apoiava nos projetos cheios de sonhos.
Amor de bando,repartido entre os quatro,em doses iguais.
Amor companheiro que lhe seguia por esse mundo de meu Deus.
Amor registrado em fotos,cartões,bilhetes, cartas,guardados por mim.
Amor parcial,só meu por ele,e só agora conhecido por mim,o inicio separado no cartório,encerrando o papel importante da união dos dois:
"Regime parcial de bens".

sábado, 3 de abril de 2010

MORENA



Pela janela meu olhar escapa,
pontas de cores velhas, desbotadas,
nuances verdes escuros-olivas,tecem o mapa,
dessa cidade jovem e desvairada.

Estruturas verticais desenham o horizonte,
escondem a história de anônima semente.
Não se percebe a invisível ponte
que une bichos-ruas-flores e gente.

Há um descuido na beleza da menina
que se perde entre calçadas descascadas,
do velho centro quebrado por esquinas,
e por pequenas praças arborizadas.

A noite amena, de luzes faz estampa,
Gozo espalhado pelos quatro cantos,
olhares metálicos que minha alma espanta,
e escuras formas cobrem qual um manto.

Minha janela emoldura a cena,
domingo à tarde,raio-trovão e ventania,
riscam néon no céu dessa Morena,
fazem correr toda essa calmaria.

O meu olhar é passageiro e superficial,
voa nas asas de pombos,aeroplanos e borboletas,
sem se dar conta de que és a Capital
do meu estado,meu país,verde planeta.


         Poema sobre Campo Grande,capital do meu estado,Mato Grosso do Sul

MORENA poema

sexta-feira, 2 de abril de 2010

AINDA HOJE poema

Ainda hoje.
Vou romper as minhas frágeis veias,
me embebedar no sangue-vinho tinto,
me prender em suas negras teias
e me perder em seus escuros labirintos.

Ainda hoje.
Vou viver sem muito estilo.
trincar com força o meu falso dente.
Ficar surda ao "canto do meu grilo",
que avisa cautela em minha louca mente.

Ainda hoje.
Vou me jogar do alto do edifício,
matar sem pena a minha indevassável essência.
Isolar do mundo esse destrutível vício
que grita em descontrole a sua intolerável ausência.

Ainda hoje.
Vou voltar a ser um grãozinho de poeira
que o vento espiralado empurra para o alto,
pedaços disformes de uma vida inteira
que se espalham sem critério após o salto.

Ainda hoje.
Vou sair desse poço sombrio e fundo,
nem tão feia,nem tão velha,nem tão serena,
sem medo das eternas cobranças do mundo,
sem nada de Maria,Amélia ou Madalena.

Ainda hoje.
Vou passar nas feridas o mercúrio.
Vou andar na cidade surda e nua,
da boca não sairá nenhum perjúrio,
de companhia, só a fria e cheia lua.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A QUE PONTO poema

Tudo tem o seu jeito.
Tudo tem a sua mão.
Em seu espaço ocupado,
cabe minha vida inteirinha,
com muita lapidação.
Você se enche de razão
cria um canto perfeito,
de respeito e emoção.
Muda o tempo de repente,
me pegando no turbilhão.
Você se fecha em si mesmo
e eu à deriva sem direção,
agarrada a um fio invisível
de imensa solidão.
Quero dar os meus olhos
prá você me enxergar,
fazer deles bússola precisa,
prá você me localizar,
não precisa voltar para mim,
deixa eu ir até você;
vês, a que ponto cheguei?
Não consigo viver esse dia,
futuro não existe prá mim,
pois como náufraga desesperada,
estou muito agarrada
ao minuto que passou,
pois lá ainda me resta
um pouquinho de você.
Havia alegria em minha vida,
mas você não a sentia.
O tempo é cruel,
passa rápido pelo meu corpo
e é lento a te esperar.
Um dia vou estar morta,
um jeito sem solução,
é por isso que lhe peço,
antes que seja tarde,
abrande seu coração.
Sinta toda a emoção,
o abandono,a angústia,
a decepção,
contidos em meu coração.