sexta-feira, 2 de abril de 2010

AINDA HOJE poema

Ainda hoje.
Vou romper as minhas frágeis veias,
me embebedar no sangue-vinho tinto,
me prender em suas negras teias
e me perder em seus escuros labirintos.

Ainda hoje.
Vou viver sem muito estilo.
trincar com força o meu falso dente.
Ficar surda ao "canto do meu grilo",
que avisa cautela em minha louca mente.

Ainda hoje.
Vou me jogar do alto do edifício,
matar sem pena a minha indevassável essência.
Isolar do mundo esse destrutível vício
que grita em descontrole a sua intolerável ausência.

Ainda hoje.
Vou voltar a ser um grãozinho de poeira
que o vento espiralado empurra para o alto,
pedaços disformes de uma vida inteira
que se espalham sem critério após o salto.

Ainda hoje.
Vou sair desse poço sombrio e fundo,
nem tão feia,nem tão velha,nem tão serena,
sem medo das eternas cobranças do mundo,
sem nada de Maria,Amélia ou Madalena.

Ainda hoje.
Vou passar nas feridas o mercúrio.
Vou andar na cidade surda e nua,
da boca não sairá nenhum perjúrio,
de companhia, só a fria e cheia lua.

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