sexta-feira, 7 de setembro de 2012

DEDO NO DESTINO

A folha era de manga,
sózinha,não tinha o resto.
Seca,retorcida,cor apagada,
tinha um jeito de queimada.
Não precisava do sol.
Não precisava da chuva,
vinha em direção ao chão,fatal
mas,no meio do caminho,o varal,
a folha se salvou,no varal se agarrou.
Ficou ali pendurada, jeito de trapezista,
domando o vento,equilibrista,
espetáculo que o tempo ajudava mostrar.
Não pus dedo no destino,
apenas a cercava com roupas
que punha pra secar;
com o tempo,a folha o varal,
prá mim ficou invisível,normal,
tinha mais o que fazer.
Julho,mochila nas costas,
me botei no Vale Sagrado,
agosto,quente, atribulado,
me cercava de água e vento
e,esqueci da tal folha.
Setembro me pôs mais sensível,
num dia vi algo incrível,
a folha virou um casulo,
pendurado em fio de seda!
Não pus dedo no destino.
Nem o sol quente impediu
o que saiu pelo ralo,
algo gosmento, sem cor,nada belo,
balançando perigoso no ar.
O assombro não me poupa,
era um inseto mudando de roupa,
em que festa vai dançar?
Sonho impossível,secreto,
a folha de manga escondeu,
não se juntar às iguais,
de ser só adubo no chão,
não quis esse fim banal.
Em sua queda mortal,
entre o chão e o infinito,
encontrou aquele varal
e,aí se agarrou...
O universo conspira,
muda o destino da folha,
sem saber vai ser o ventre,
guardar um tesouro na bolha,
uma sina mais que perfeita,
dar a luz a uma borboleta
e,só depois,feliz, morrer.

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