domingo, 11 de dezembro de 2011

O HOMEM MORCEGO

Zé Pechisbeque um velho guerreiro,
percorre a cidade o ano inteiro,
vendendo em um carrinho,bijuterias.
Separa um sofrido dinheiro
para sua fantasia.
O zinco e o cobre é "jóia de ouro!"
prás moças faceiras de Corumbá;
mas quando chega o carnaval
e os tambores ensaiam na periferia,
tudo deixa de ser normal,
o Zé não e mais o das bijuterias.
É conde,ou rei,é barbaro ou cristão,
o brilho do Zé,muda é outro,
só de olhar já da gosto.
É brilho de rara beleza,
espalhado entre as rugas do rosto,
brilho cheio de nobreza.

É carnaval,na escola o enredo é de fé.
Alegria do povo e do Zé.
Quatro dias de pura emoção.
Na passarela desfila um só coração.

Em sua escola querida,
ele é sempre o grande destaque,
qualquer veste no corpo do Zé,ganha vida,
até um simples fraque.
Esse ano está diferente,
perde o posto o Zé Pechisbeque,
sobra só um lugar apertado no chão.
"Vou ser só um folião?"
Fantasiado de homem morcego,
sai sozinho na multidão.
Em seu peito,o conflito,a aflição,
esse ano não vai defender sua escola.
Cresce o som,o batuque da bateria,
o Zé não sentiu o pé que feria,
com o rasgo da sapatilha.
Sangra o pé do passista,
o vermelho no asfalto faz trilha,
o homem morcego abre os braços,ele brilha,
sua capa godê já flutua,
o negro cetim cheio de pedraria,
deixa à mostra os olhos.A boca sorria.
O brilho que eu vi não foi de bijuteria,
virou diamante nos olhos da histeria.

É carnaval,na esola o enredo é de fé.
Alegria do povo e do Zé.
Quatro dias de pura emoção.
Na passarela desfila um só coração.

O homem morcego tem bateria no peito,
sente dor,samba mais,dá um jeito,
da tudo que tem, do lado de fora,
seu amor pela escola tem passos perfeitos,
é destaque isolado,sem ala
que a pedra da Frei o seu dedo esfola.
Um grito na noite destoa do samba:
"Ha um homem morcego ferido no chão!"
É o Zé Pechisbeque,das bijuterias,
vendedor conhecido na periferia
que reinou muitos enredos na bela Império,
morreu no desfile,num ataque fatal,
na segunda noite de carnaval.
O sangue do Zé no chão derramado,
levanta a suspeita: Foi tiro? Foi facada?
O sangue que cai é do dedo esfolado.
A escola querida seguiu com o enredo
e, ninguem descobriu o grande segredo:
O homem morcego estendido ao chão
que a escola querida deixou na mão,
é o Zé Pechisbeque,das bijuterias
que esse ano não foi o destaque
mas deu para a Império o seu coração.

                           (ficção)

Nenhum comentário:

Postar um comentário