domingo, 24 de abril de 2011

BABILÔNIA

Ando sem tempo
de te dar um beijo.
Ando sem saco
de me arrumar no espelho.
Ando pelas ruas em transe,
nessas calçadas estreitas
que pedem para serem refeitas;
para mim é um labirinto.
Prá onde vai tanta gente?
Já é tarde,eu me ressinto,
não encontro minhas sementes.
Bugigangas em vitrines,
têm preços que eu não pago,
não atraem o meu olhar.
Carros,buzinas,sirenes,
não param de funcionar,
nada funciona prá mim...
A mistura de odores
atiça as minhas dores,
em meu peito faz embrulho
que deixo no canto da praça,
num enjoado barulho.
Ando só pela cidade
com um restinho de orgulho,
sem tribo,confraria,irmandade,
carregando minha idade.
Quero estar em outro lugar!

Quem sabe você é Maria,
e até ontem  sofria
de uma louca aflição.
João festeiro,ou Joana sonhadora
dando a outros seu coração.
Podes ser Pedro,uma rocha
rolando pela estrada...
Quem sabe alguém leva arma
para sua proteção?
Um assalto vai fazer?
Talvez você seja mágico
e vai me fazer sumir.
Você que segue apressado,
será por boa notícia,
ou talvez nem boa assim,
será que perdeu seu emprego,
ou esquecestes a vela acesa?
Incêndio não paga promessa...

Quando acordo de mim,
já é uma noite sem fim,
de longe a larga avenida
vira lava incandescente,
se instala outro jeito indecente,
da vida sobreviver.
Os edifícios,as esquinas
agarram os meninos,as meninas,
eu lembro na hora,no susto:
esqueci de te pegar!
A mulher toda arrumada
se esconde em paredes de vidro,
minha esperança desgarrada,
se ilumina apenas um pouco.
mas só uma escuridão
encontra a solidão das pessoas.
Uma vontade urgente,
enche meu ser de mil asas.
Quero daqui ir embora,
nesse instante,já,agora,
sem deixar os meus tesouros,
fugir de mais um dia de louco,
de mais uma noite de insônia,
na cidade Babilônia.

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